Espero por ele todos os anos desde que o Sado se tornou a minha casa. Aqui encontrei num cinema de bairro um festival de cinema internacional, o que concretiza de modo singular a ideia do local-global que devia presidir ao modo como podemos estar hoje no mundo. Agrada-me esta ideia de que encontro na esquina da cidade um olhar artístico que nasceu num outro canto do planeta. Dez dias de intensa viagem.
quinta-feira, 31 de maio de 2007
Cinema no meu bairro
Espero por ele todos os anos desde que o Sado se tornou a minha casa. Aqui encontrei num cinema de bairro um festival de cinema internacional, o que concretiza de modo singular a ideia do local-global que devia presidir ao modo como podemos estar hoje no mundo. Agrada-me esta ideia de que encontro na esquina da cidade um olhar artístico que nasceu num outro canto do planeta. Dez dias de intensa viagem.
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quarta-feira, 30 de maio de 2007
AGT design
- Pai, tenho um novo blogue....
- Outro? Já acabaste o anterior? Não admite mais do que 6 posts?
- Este agora é só dedicado ao design...
- Boa, temos artista!
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João Torres
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E também por dentro da greve...
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na vizinhaça da greve
Ela é normalmente calada, tirando cafés de olhos no chão, com um sorriso raro. O café embora fique na esquina (e por seja um apelo para quem, como eu, veio também à procura do calor que mora na palavra vizinhos) cria distância(s). Mas hoje acho que ela olhou para mim pela primeira vez e abriu o rosto num franco sorriso:
- Então, hoje não foi trabalhar, está em greve...?!(e sorria, e sorria...)
Não conseguiria explicar-lhe a dissonância da minha vida, o ritmo que bate a contratempo, a descontinuidade das horas. Como dizer-lhe, por exemplo, que um dia abandonei pelo meu próprio pé essa verdadeira crença na estabilidade do emprego na função pública, deixando para o vínculo, substituido por coisa nenhuma, ou antes pela ideia do gosto, do prazer, da vida construída a cada dia que passa. Dizer-lhe que embora me arrependa muitas vezes de o ter feito (sobretudo porque quando não conseguimos conjugar a palavra futuro, há coisas que não se podem sonhar e isso só aprendi depois) há muitas outras em que não me arrependo. Nada disto devia ser assim e tudo devia ser uma outra coisa, uma outra relação com o trabalho.
Agora que ela me sorria, não a queria desiludir, vendo nos seus olhos a importância da adesão à greve, murmurei uma imprecisão precisa: já sabe os números?
- Aqui não se ouve passar nenhum comboio! E vem tanta gente por aí a passear...mas sabe os motoristas é que são importantes, esses se quisessem paravam o país!
(não lhe conhecia o sorriso, quanto mais estas análises sociais, este gosto pela política...)
Desejei-lhe bom dia e bons números e senti-me feliz porque o café tinha ficado a uma distância menor.
~CC~
PS- Bom, agora que neste lugar que ninguém lê, só aparece a CC, ainda se dão menos garantias de qualidade...que será feito dos meus camaradas?(isto hoje fica bem...)
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terça-feira, 29 de maio de 2007
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Guarda-rios e estuários (II)
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domingo, 27 de maio de 2007
guarda-rios e estuários (I)
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Pelos meus passos
INSTRUÇÃO PRIMÁRIA
Não saibas: imagina...
Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.
Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um a-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...
Vou pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...
MIGUEL TORGA, Diário IX, Coimbra, 1995, p. 904.
Dois agradecimentos muito especiais: um ao rapaz das flores virtuais e outro ao rapaz das flores reais.
~CC~
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Outros desertos
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sábado, 26 de maio de 2007
"L’air du temps"?

Châtelet-Les Halles, Place Igor Stravinski
As instituições educativas em geral e as de ensino superior em particular andam, umas revoltadas, outras agitadas. Arrumam-se pessoas como se arrumam cadeiras depois de uma reunião. A troca, o diálogo rareiam cada vez mais. Identidades – por vezes, duramente – construídas e afirmadas são postas em causa, ignoradas, esquecidas.
Ontem, já noite, fui, como todos os colegas de lá, destinatária de um convite para participar na apresentação da nova estratégia institucional e dos respectivos logótipos. Andam animados nestes festejos mas sem que isso traduza grande dinâmica interna, pontes, aproximações, enfim daquilo que pode, de facto, traduzir a construção de uma verdadeira identidade institucional, em que cada um se reveja e em que cujas actividades sejam um real contributo para essa construção e manutenção .
Até aqui, tudo aceitável mesmo que não se goste. Mas ao ler o resto do convite comecei a ficar gradualmente incomodada. Não sei se era o tom do discurso, ou mesmo o “cheiro” que dele exalava.
Estaquei quando li «O “reforço da identidade IPS e a construção de uma imagem comum forte, moderna e clara no que respeita aos objectivos da instituição e aos seus traços distintivos” é um dos objectivos consignados no Plano». A imagem comum forte, moderna e clara, assim enunciada não sei o que é. Aliás, moderna tem hoje um ar démodé, para não dizer mais.
Mas foi com alguma incredulidade que li a frase seguinte «prevendo-se a “criação de um novo logótipo e um Manual de Identidade Corporativa comum às Unidades Orgânicas”». Não consigo sequer conceber como é que uma instituição que diz querer ser moderna possa criar e vir a público apresentar tal “objecto” - Manual de Identidade Corporativa - com uma designação de tal modo, anacrónica e bafienta.
O meu espírito é, então, atravessado por angústias diversas. Penso, para me tranquilizar (só superficialmente) que é só uma designação. Mas, mesmo não tendo medo das palavras, sei que os significados são o que são e também aprendi, acho que com P. Bourdieu, que “a classificação classifica o classificador”...
Nos tempos que correm não me parece que esta designação seja inócua e não intencional. Nos tempos que correm lamento que às vezes não sejamos mais activos. Nos tempos que correm acode-me ao espírito cada vez com mais frequência o poema de B. Brecht:
Nada é impossível de mudar
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
Bom fim-de-semana
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sexta-feira, 25 de maio de 2007
Da espuma dos dias à identidade encontrada.
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Bom dia
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quinta-feira, 24 de maio de 2007
A propósito de felicidade

Soma
Não discuto se sou feliz ou não.
Mas de uma coisa faço por lembrar-me sempre:
de tantas e tantas parcelas, não sou
uma delas. Eu nunca fui contado
para a soma total. Esta alegria basta.
(Constantin Cavafy, 90 e Mais Quatro Poemas, Coimbra, Centelha, 1986
Trad. Jorge de Sena)
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O mundo às bolinhas de cores
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M de amor
chegou a meio da tarde a mensagem multimédia, inesperada no conjunto mais vasto e mais vulgar de sms e foi uma surpresa dada a preocupação constante que tem com os gastos. Tinha a fotografia de um desenho feito com o seu lápis e uma frase curta: somos nós duas. Se o coração pode saltar e molhar de sorriso os olhos, lá se foi o meu.
~CC~
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quarta-feira, 23 de maio de 2007
Aprender com a(s) experiência(s)
Ao longo de toda a minha(s) vida(s) profissional(is) muitos têm sido os momentos de paixão profunda cortados de quando em quando com algum desalento. Mas posso dizer que o que a caracteriza mais é a interrogação: as perguntas sobre o sentido e o resultado do que fazemos.
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terça-feira, 22 de maio de 2007
casas e vidas do rio
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segunda-feira, 21 de maio de 2007
Amigos on-line
Pequeno poema
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente, esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo se não eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava toda a ternura
que olhava nos olhos de minha Mãe...
Sebastião da Gama
~CC~
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domingo, 20 de maio de 2007
Fantasia com chuva
Mãe: Bolas! Agora está a chover, não podemos ir ao Príncipe Real.
C.: Oh mãe, não é chuva.
M.: Então o que é?
C.: São pingas de lamber.
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Cristina Gomes da Silva
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colar(me) esperança
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sábado, 19 de maio de 2007
Já chegaram...
Todos os anos fazemos o mesmo desafio: quem vir primeiro avisa as outras e assim que os encontramos ficamos presas àquela cor que enfeita a cidade, como se fosse uma coroa.
Mas este ano chegaram cedo de mais, ainda estamos em Maio e as ruas já estão atapetadas de flores. Não que não sejam benvindos, mas a sua vinda adiantada revela-nos que o mundo anda mal e que o calor excessivo, efeito do aquecimento global, lhes torna insuportável a espera.
Este ano foi a minha P. que os viu lá por Setúbal e "atirou" primeiro: já viste os jacarandás?
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Cristina Gomes da Silva
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Contrastes
Acabo de chegar de uma linda cidade com alguns contrastes... Encontrei por lá gente amiga que me disse que passa por aqui, embora sem ler nem deixar rasto.... Também elas utilizam os blogues para nos contarem o que fazem os seus Magníficos. Sejam sempre bem-vindas!
~~CC~~ O beijo à amiga com nome de flor foi entregue!
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sexta-feira, 18 de maio de 2007
Na boca do vento

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Fantasia com vento
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quinta-feira, 17 de maio de 2007
rumos
Se o pássaro ainda pequenino não vivesse ainda ali junto ao calor das minhas penas, eu apanhava uma rota de aves migratórias em direcção a um outro lugar. E imagino as lagoas quase desertas onde o meu coração poderia bater leve e fresco as horas dos dias e mergulhar nas estrelas nas noites quentes. Era mesmo necessário voar, era esse o compromisso.
~CC~
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Sentidos desatados
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17 de Maio de 1866
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quarta-feira, 16 de maio de 2007
301
Nos dias de maratona acordo já a correr, saltando do insconsciente feito de pólen dos sonhos para os 301 obstáculos e quando dou conta já estou a meio da ponte Vasco da Gama. É nessa ponte que qualquer corrida deve valer a pena, sobretudo se em marcha lenta para namorar os flamingos.
Falava do pólen pois, é que no meio da corrida de ontem ou na de hoje ou até mesmo na que farei amanhã, há minutos e minutos de paragem feliz. Não, não é a parte em que corto a fita e recebo o sumo e a sandes. É quando chego perto do interior das flores. É quando me saltam letras para os olhos sem que as consiga tirar, como acontece com as 3 noites, 3 filmes de debates sobre a emigração portuguesa em França, não só pela qualidade e originalidade do acontecimento, como pelo folheto e pela beleza da fotografia que o ilustra, impossível hoje de reproduzir aqui. E é ainda quando compro livros em línguas que não compreendo como aconteceu na livraria do instituto, não só pela irracionalidade que acompanha o meu viver, como pela fantasia de pensar que um dia vou acordar a falar Francês. As corridas são atravessadas ainda por momentos de namoro intenso, como aconteceu hoje com um polvo em cartão, pendurado na sala dos meninos da Arrentela. Eu acho mal que tenham polvos malendrecos deste tipo na sala de aulas, ainda por cima com a desculpa que são inspirados na história da menina do mar. Tive que que lhe implorar que me deixasse continuar a maratona, mas no final da Ponte Vasco da Gama ainda ia a lembrar-me dele.
Amanhã deve aparecer-me um peixe estrela, uma exposição de sapatos usados (ai, sempre sonhei com uma exposição destas) ou um cometa feito de pó amarelo em passagem meu horizonte. Só espero que não apareça o gato do país da Alice porque tenho medo dele e é um medo muito e tão antigo que não consigo ultrapassar. Qualquer dia (quem sabe) faço uma careta ao gato e de seguida um sorriso ainda mais trocista que o dele.
~CC~
PS- sabem meus queridos amigos, eu só vinha dizer-vos que este post é o 301 desde que escrevemos onde ninguém lê, mas como a frase era muito curtinha, escrevi umas quantas parvoíces, pelas quais espero o vosso perdão.
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Músicas e vozes e...
Talvez valha a pena espreitar ...
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"São rosas Senhor!"

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terça-feira, 15 de maio de 2007
Conversa entre malmequeres
- Quero morrer contigo.
- Mas ainda agora nascemos, talvez a vida fosse a nossa melhor aspiração.
- Mas para viver preciso saber que estás ao meu lado.
- Toca mas minhas pétalas na próxima hora, repara em mim neste minuto, beija-me neste segundo.
- Achas que não nos entendermos é o nosso destino?
- Talvez, temos sete dias de não entendimento pela frente. Contados em dias, horas, minutos e segundos dá uma boa média de beijos, superior à das lágrimas, parece-me. Que achas?
~CC~
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segunda-feira, 14 de maio de 2007
Comércio envergonhado
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Provas
Também eu, que não vou estar presente para bater palmas, quero deixar aqui uma flor para esse alguém tão especial para a ~CC~. Até porque: os amigos dos nossos amigos, nossos amigos são!
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Provas
Amanhã também terei nas mãos as flores para ti, para aplaudir o modo como tiraste a palavra desistir do teu léxico pessoal e o encheste sempre de prosseguir, ir adiante, saltar obstáculos. Para sempre as nossas brincadeiras de irmãs em torno dos nossos cursos de (des)motivação ou lavagens da poção mágica da avidez do mundo com que crescemos. Tu ainda mais, és a mais velha. Em cada momento em que vacilámos e em que o escuro nos tomou, lá estavas, positiva e pragmática. Sabemos, no entanto, que também tens os teus pequenos quartos escuros mas guardados discretos, a sete chaves que são só tuas. Mas amanhã é mesmo a luz que importa. Palmas, flores e aquela alegria.
~CC~
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domingo, 13 de maio de 2007
Regressos
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Cristina Gomes da Silva
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Ainda Benedetti
Para os meus amigos pessimistas
Ya sos mayor de edad
años que te preparo el desayuno
pero como si nada
se te ve la fruición por el malogro
ya sé vas a decirme no hay motivos
pero es tan boba tu razón tan obvia
ya sos mayor de edad
y por favor andate despacito
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Cristina Gomes da Silva
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sábado, 12 de maio de 2007
sexta-feira, 11 de maio de 2007
"Nove partes de desejo"
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Meia Praia
Vou ter contigo à tua terra. Tenho que na sombra que deixaste nas paredes brancas da cidade conseguirei encontrar o azul que deixaste na tua poesia. Onde a praia pode ser só meia e o acordar o enlaçar dos limos e o riso dos meninos. Onde quis quase sempre ficar, creio que muito por ti, pelo que de ti adivinhei sempre em cada esquina, em cada onda do mar, em cada lágrima e, é verdade, foram muitas. Mas tu choravas ao meu lado e amparavas o meu lamento como só os poetas mortos sabem fazer. E então eu pegava nas meninas todas, as que eram e não eram minhas e andava com elas pelas rochas, pelas conchas, por dentro da areia e arrancava de cada coisa a mesma força que eu acho que te sustentava. E de tanta força que tirei, conquistei mais e mais sol manso sobre a pele e com esse calor consegui trazer até mim o cavaleiro da dinamarca e a menina do mar. E quando reparei já não eram só eles, tinha a mesa cheia de amigos e era já a Primavera de um ano outro qualquer e eu ria como uma criança e tu gostavas do meu riso. E eu tinha aprendido a dizer "até breve" em cada despedida e chorava agora muito menos.
~CC~
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quinta-feira, 10 de maio de 2007
(Desa)Sossegos
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quarta-feira, 9 de maio de 2007
Uma vida
Não sei há quanto tempo vivo com este homem, um dia olhei para o lado e já não dormia sozinha.
Perdi também a conta aos Domingos em que saímos neste barco procurando outro sustento que não o que vem da terra. Vamos cedo e esperamos que a maré encha para sermos os primeiros a sair.
É Domingo eu sei, mas nós não sabemos o que é o trabalho e o que é o descanso porque este trabalho é o nosso descanso e é parte do nosso sustento.
E alguns dias destes anos e anos de Domingos têm tido tanto nevoeiro que me apetece reclinar devagar e deixar-me cair até ao fundo do mar, como quem se abandona num acidente, numa vertigem.
Mas também há outros Domingos de sol onde o estuário se alarga e cresce e eu ando nele como quem anda a viajar no mundo todo e chega até à lua.
E há dias de silêncio fundo onde o meu homem nada diz, fechado dentro dos seus olhos. Uma e outra hora a passar e ele sem nada dizer. Eu oiço então o rumor dos objectos a deslocarem-se dentro da minha casa.
E gosto da minha casa que é branca e tem uma pequena horta com salsa, coentros e hortelã. Também temos alfaces, espinafres e tomate. E há figos, muitos figos que quando maduros me enchem a casa de perfume.
Nos fins de tarde fico à soleira da porta e vejo o meu homem chegar. Tenho ultimamente sempre o mesmo pensamento: vamos morrer juntos. Não sei explicar como é que um pensamento triste me alegra, mas é que dentro dele sinto companhia, sinto que nunca estarei sozinha.
É assim a minha vida.
~CC~
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terça-feira, 8 de maio de 2007
"Brevíssimo Crepúsculo"
Sempre me impressionou a história de Luís Miguel Nava e, com as devidas distâncias, estabeleci paralelos com a de Pier Paolo Pasolini. Relendo-o hoje, apeteceu-me partilhá-lo aqui, a estas horas crepusculares.
Brevíssimo Crepúsculo
Escrevo, o que não deixa de, por meias
palavras, fazer ver as ondas ascendendo
do fundo dos baús.
A água a contas com as trevas.
Fascinam-me essas ondas, bem como uma pedra às mãos
de quem procura abrir nela um sorriso, o céu
que neste poema sei subentendido e apenas
aos olhos dum rapaz a paixão trouxe num brevíssimo
crepúsculo antes de ganhar velocidade e, nos meus ombros,
as mãos desse rapaz quase de rapariga prontas
a voar. Sinto a romper na boca os dentes como a ventania.
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L. Aragon
Donne-moi tes mains pour l'inquiétude
Donne-moi tes mains dont j'ai tant rêvé
Dont j'ai tant rêvé dans ma solitude
Donne-moi tes mains que je sois sauvé
Lorsque je les prends à mon pauvre piège
De paume et de peur de hâte et d'émoi
Lorsque je les prends comme une eau de neige
Qui fond de partout dans mes main à moi
Sauras-tu jamais ce qui me traverse
Ce qui me bouleverse et qui m'envahit
Sauras-tu jamais ce qui me transperce
Ce que j'ai trahi quand j'ai tressailli
Ce que dit ainsi le profond langage
Ce parler muet de sens animaux
Sans bouche et sans yeux miroir sans image
Ce frémir d'aimer qui n'a pas de mots
Sauras-tu jamais ce que les doigts pensent
D'une proie entre eux un instant tenue
Sauras-tu jamais ce que leur silence
Un éclair aura connu d'inconnu
Donne-moi tes mains que mon coeur s'y forme
S'y taise le monde au moins un moment
Donne-moi tes mains que mon âme y dorme
Que mon âme y dorme éternellement.
Extrait du "Fou d'Elsa"
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(Des)caminhos profissionais (II)
Pinhal Novo, caminho para a biblioteca tapado pela montagem de uma feira, ando entre os ferros retorcidos e os tubos metálicos que se tornarão carrocel e pista de carrinhos de choque. Vozes altas, conversa entre dois:
"- O Benfica é uma mais valia!
- Sim, sim, mais valia não existir...!"
Parece-me que é bom poder trabalhar a conversar.
Mais adiante, meia hora depois, levaada pelas imagens que animadora deixava sobre a mesa, a menina acaba a história assim:
- O gato abriu o baú e estava cheio de ouro, brilhava como o sol...ele pegou nele e voltou depressa para casa.
(por acaso o gato até ia ao castelo ver a avó do dono que era cozinheira...mas as histórias, como sabemos, dão muitas voltas).
É bom trabalhar, é tão bom conversar.
~CC~
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(Des)caminhos profissionais (I)
Arrentela, Maio de 2007. Ofício de fazer de sombra em dia de sol. Ofício de escutar e de olhar.
Meninos e meninas de 7 anos. Discutia-se o género a atribuir ao espantalho, argumentos mais ou menos ingénuos começados por eu acho, eu gosto, eu...
Mas a M. foi mais longe e disse:
"Eu acho que o espantalho deve ser rapaz porque eles são mais assustadores que as raparigas"
...
(eu gostava de saber o que os pássaros pensam disto)
~CC~
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AS MUCH AS YOU CAN
AS MUCH AS YOU CAN
in the many movements and all the talk.
dragging it around often and exposing it
to the daily folly of relationships and associations,
till it becomes like an alien burdensome life.
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segunda-feira, 7 de maio de 2007
Sonhos à consideração de vossas excelências
Conecto o meu mundo com o deles, agradecendo a forma como me têm acolhido com doses de chá, uma abertura imensa para as nosssas experiências de vida, troca de saberes onde ninguém sabe mais que o outro e livros que abrimos sobre a mesa. E a água é mesmo ouro azul.
Enviam-me agora algumas coisas sobre animação de jardins, que é como quem diz: difunde por aí os nossos sonhos.
Sonhos recebidos, sonhos postos à consideração e em vez de dignissímos cumprimentos, abraço apertadinho. Ou abraços de flores.
~CC~
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Enquanto espero
Cómo gasto papeles recordándote
Te doy una canción si abro una puerta
Si miro un poco afuera, me detengo
Te doy una canción y hago un discurso
Te doy una canción como un disparo
Sílvio Rodriguez, (1970)
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Nome(s)
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por dentro do amor
Ocorreu-me naquele início de Verão um chamamento pelo cheiro dos bebés. Queria simplesmente ter um a que pudesse chamar meu e olhar para ele como um fruto nascido dentro do amor. Esqueci-me que estava simplesmente a meio do mestrado e que planeava ir para Àfrica realizar a tese. Sempre pratiquei a racionalidade do rumo dos afectos, a única aliás em que acredito verdadeiramente. E mal tinha pensado, já tinha acontecido, isto porque as conversas com o nosso corpo resultam em algumas adivinhações celulares (de céu, de célula e de sol).
Depois queria ter a criança em casa por causa do cheiro dos hospitais, por eles se vestirem de branco como a morte e a maior parte nos tratar como crianças pequenas sem vontade nem inteligência. Impossível contornar, contudo, algumas imposições. Passei então para a batalha contra a cesariana, modo que se tornou vulgar de trazer crianças ao mundo. Mas como as coisas correram mal acabei mesmo na dita cuja sala de operações, ainda que teimosamente e vitoriosamente contra a tesoura. Resolveu-se rápido, era apenas um pequeno pormenor.
Quando nos colocam a criança que tanto desejámos, mesmo que silenciosa, em cima da nossa barriga, que fazemos? O toque é o caminho natural dos dedos e assim foi o dos meus, o minímo perante o abraço que queria dar inteiro em recepção e aconchego. Ainda recordo os gritos das enfermeiras: não pode, não pode tocar na criança! Os meus dedos, diziam, não estavam suficientemente limpos, podiam trazer com eles doenças várias.
Eu não sei o que eles e elas sabem e devem saber muitas coisas, isto porque também já os vi salvar muita gente. Mas eu sei outras coisas. E ontem, pela textura do colo, calor das mãos e olhos nos olhos de riso, acho que fiz bem em ser eu a primeira a tocá-la, depois de cortado o cordão umbilical.
Nós já vamos a caminho da cumplicidade.
~CC~
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domingo, 6 de maio de 2007
sábado, 5 de maio de 2007
Pertenças
Sentimentos de pertença são poucos. De identidades feitos, de escolhas recíprocas, de encontros e “achamentos”. Sempre procuro o que me une aos outros, o que me aproxima. As diferenças são o que nos torna únicos, as semelhanças o que nos torna um todo, feito de diferentes.
E recordo A. O’Neill com quem vos deixo hoje, porque sei, como ele, que Ganhamos juntos o que vamos perdendo separados ("No Reino da Dinamarca").
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identificação simples
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sexta-feira, 4 de maio de 2007
Brincar às fadas
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Olhares
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Duas ou três banalidades
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Cara maçã de Junho que tens um nome tão bonito mas por muito que gostemos do Jorge Palma, chega-nos prestar-lhe tributo nomeando-o para falar com a lua. Compreendes?
Caro anónimo de blogue de nome extenso e quase ilegível, agradecemos a visita mas preferimos que deixe a sua assinatura, nem que seja numa letra só e acompanhada de morada, pelo menos virtual. E já agora, ainda que os sentidos possam ser múltiplos, escrevam-nos coisas que nos façam sentido. Como diz a parceira CGS, sentem-se à mesa do café central (quase toda a terra tinha um) e conversem connosco se quiserem, é essa a ideia. Concordantes ou discordantes fiquem um bocadinho. Mas temos as caixas do correio lá de casa entupidas de publicidade e uns quantos colegas que nos dizem umas coisas vindas de universos que não entendemos, por isso compreendam se moderamos. Moderamos porque isto é para ser um prazer e não uma chatice.
Agora voltem, se acharem bem.
João, Carla e Cristina
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João Torres
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quinta-feira, 3 de maio de 2007
Perdidos e achados (I)
Eu confesso que li mas fiquei calada como acontece (quase) sempre quando me fazem pensar. Diz o senso comum, esse senhor que que acha que sabe muito, que Freud explica. Para lidar com a quantidade de vezes que me perco e perco coisas e ainda com os erros que mesmo infímos se tornam fatais se forem em formulários informáticos ministeriais, encontrei uma fórmula.
Penso que se perdi uma coisa há qualquer outra que vou achar ou então que se aquela coisa for realmente importante ela volta para mim, encontra o caminho de volta. Podem acusar-me à vontade de realismo mágico, mas acho que isto já me acontecia antes dos cem anos de solidão do Gabriel Garcia Marquez. Esse livro e outros (Borges, oh Luís...) foram apenas mais pó de estrelas a juntar aquele que trazia quando nasci. Dizem que um pouco de loucura nunca fez mal a ninguém.
Deixo hoje apenas um episódio.
Quando vou a Lisboa gosto de deixar o carro perto de duas casas de estudo que já foram minhas, é como se ficasse por lá abrigado. Depois vou onde quero ir de transportes públicos. Gosto de ouvir o que dizem as pessoas e quem são elas, acho que é sobretudo isso. Mas percebo já muito pouco das carreiras ao ar livre, das linhas por baixo da terra que se multiplicaram em cores e dos amarelos que agora são publicidade andante. Penso como é possível que tudo se transforme assim tanto em apenas seis anos de ausência. Perco-me então. Coisas pequenas de correcção fácil.
Mas no outro dia o autocarro inclinou-se por uma rua estranha e escura e eu achei que não era por ali que queria ir, mas segura que a rua era mais ou menos paralela à que eu procurava. No entanto, não consegui localizar-me mas quando dei por mim estava na rua do Figueiredo, até aqui tudo bem, fez-me sorrir porque reconhecia aquele apelido. A seguir entrei no beco do Figueiredo, no Largo do Figueiredo, na travessa do Figueiredo...tudo ali era Figueiredo, como se tivessem inventado um bairro de Lego ou Monopólio. Pensei que tinha morrido ou pelo menos tinha entrado sem saber num filme de David Lynch. Senti falta de ar, não conseguia sair dali, enredada em tanto Figueiredo. Por acaso é só o meu último nome, apelido de família, por acaso um nome que quase nunca uso. Lapsos, é o que é. E não se esqueçam que Freud explica.
~CC~
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CCF
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Thinking Blogger Awards
Apesar de não gostarmos muito deste tipo de atribuições (já nos damos por satisfeitos se alguém não nos ler), gostamos de pensar e que nos façam pensar.
A nomeação duas vezes pela Marta e uma vez pela 3za começa a preocupar-nos, uma vez que pode obrigar à mudança de nome do estaminé, no entanto, se insistirem em passar por aqui, serão sempre bem-vindos.
E embora ninguém nos leia, também daqui não sai ninguém sem resposta:
1 . O canhoto http://ocanhoto.blogspot.com/
2. Orsai http://orsai.es/
3. De rerum natura http://dererummundi.blogspot.com/
4. Respirar o mesmo ar http://respiraromesmoar.blogspot.com/
5. Ponte das três entradas http://3entradas.blogspot.com/
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Cristina Gomes da Silva
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quarta-feira, 2 de maio de 2007
lua de Maio
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CCF
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21:52
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Uma vida (quase) inteira na "escuridão" das letras.
Chegavam aerogramas do outro lado do mar e enquanto esperava que alguém por lá passasse para os ler, ia engolindo angústias mastigadas com o pão escuro e o café de borra. Depois, quando ouvia "nós por cá todos bem" descansava e até cosia as baínhas com mais precisão. Morreu sem saber decifrar uma única letra.
Diziam-lhe que agora tinha direito a 5 contos por mês. Sabia que sim porque aos números sempre era mais fácil conhecê-los. As letras é que eram um sarilho. Mudavam de som consoante as palavras e ele que se chamava Zé, não percebia porque é que esse mesmo nome se escrevia com quatro letras. Juntava o que sobrava dos biscates numa caixa, não podia abrir conta num banco, nem passar cheques, nem assinar, nem nada. Um dia ouviu dizer que a Câmara ia ensinar as pessoas a ler e a escrever. Como? Umas raparigas que "tinham estudos", viriam à noite depois do jantar, lá ao Clube. Era fácil só precisava de lá ir, dar o nome e não faltar às aulas. Se tudo corresse bem, em Junho fazia o exame e já podia abrir uma conta, passar um cheque e escrever ao filho que continuava na Suíça e só vinha no Verão de vez em quando.
Para ela a escola poderia ter sido a libertação. Um pai autoritário e sem emoções tinha-lhe vedado qualquer saída. Os rebanhos tinham de ser apascentados e à escola só ia quando calhava. No meio das cabras treinava a leitura nos pedaços de jornal que ia encontrando no chão. Os irmãos tiveram melhor sorte. Eram rapazes. Cresceu assim, a sonhar com a escola. Num certo Abril renasceu-lhe a esperança e, anos mais tarde, tal como o Zé, também soube do que a Câmara ia fazer. Não perdeu tempo, inscreveu-se e não falhou um dia. Em Junho fez o exame da 4ª e que bem lhe soube ouvir os elogios dos professores quando respondeu a tudo na ponta da língua. "Quem era o Presidente da República? O que era o Parlamento? Em que regime vivíamos, agora que havia luz?
O Manel tinha vindo de São Tomé, precisava de fazer o exame da 4ª para poder tirar a carta de condução. É que ser motorista, era muito melhor do que carregar sacos de cimento e tijolos e...
Naquele Junho longínquo senti que aquele ano tinha mesmo valido a pena. Nunca faltavam, fizesse frio ou chuva, o gosto por aprender era profundo e a vontade de saber mais um bocadinho era forte.
E porque aqui se vem falando de trabalho, e porque acho que é sempre gratificante, aqui vos disse como ganhei os meus primeiros trocos enquanto monitora nas acções de alfabetização promovidas pela Câmara.
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Cristina Gomes da Silva
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11:33
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Coisas de género...
Será verdade? Demora um pouquinho a carregar e a ver, mas vale a pena.
Fez-me rir e deu-me que pensar.
~CC~
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CCF
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terça-feira, 1 de maio de 2007
Dia 1 de Maio...
Hoje, dia do trabalhador, é também a data de aniversário da Associação Humanitária Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo. Recebi o convite e fui. Quando ouvi, há pouco tempo numa conferência sobre voluntariado, a ~CC~ dizer que ser voluntário é receber muito mais do que se dá, não pude deixar de pensar no muito que recebi, e aprendi, no ano que passei entre eles. Durante um ano também eu inventei tempo onde não o havia e muitas noites cheguei de madrugada a casa, no entanto, nem um só segundo foi mal gasto...
Parabéns Bombeiros, homens e mulheres excepcionais!
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João Torres
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23:24
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Etiquetas: Bombeiros
(Primeiro de) Maio
Há coisas que contamos ter pela vida dentro, mesmo que tenham cor negra. Um pouco de desilusão, laivos de desamor, um provável desencontro. Outras há que achamos nunca vão morar lado a lado connosco. Falo da doença, da droga, do desemprego, da morte, essas são coisas dos outros. Olhamos para elas com a distância de quem as vê nas páginas de um jornal.
Quando menos esperamos, porém, uma coisa destas acontece-nos, a nós ou a alguém que amamos tanto ou mais que a nós mesmos. Percebemos então que uma outra atenção a estes problemas nos teria sido essencial porque são as coisas do mundo, de todo o mundo que é nosso. Talvez uma outra atenção faça falta, não me perguntem exactamente como, cada um o encontrará ou o encontraremos juntos.
Nenhum manual nos serve para encarar o precipício, penso que apenas toda a quantidade de calor que conseguimos guardar nos desembrulha os dias e nos lança na esperança. E eu, como nasci e passei a infância em África, não tenho de meu quase nada, mas guardei muito sol. Talvez por isso faço um exercício de regresso ao passado em vez de me demorar mais e mais na incerteza do futuro neste dia primeiro. Esse regresso faz-me sorrir e esse movimento dos lábios é quase é uma carícia.
Recordo os meus primeiros empregos, dois Verões-um com quinze anos e outro com dezasseis.
O primeiro dividiu-se em dois e ambos combinados com a palavra Algarve-era o tempo da chegada do Turismo de massas. Fardadinha de branco e preto tentava servir os ingleses numa esplanada junto ao mar, pensando sempre na hora do mergulho, no sal , na vertigem da espuma. O resultado não foi bom, ganhou o mar. Depois, um pequeno quiosque serviu-me a mim e a outra amiga de porto de autonomia total. O proprietário tinha o quiosque fechado e deu-nos a chave, a liberdade da criação da ementa e 10% sobre os lucros. Ainda hoje penso como é que se entrega um negócio assim a duas miúdas, uma de 15 e outra de 19 anos...mas confesso que foi dos melhores empregos da minha vida: criação, lucro e banhos de mar à vez.
No Verão seguinte inscrevi-me num programa do Ministério do trabalho, denominado como OTL que hoje, reformulado, deve ter sigla parecida. Colocaram-me numa autarquia entre o rural e o urbano, periférica da cidade de Lisboa (hoje da área metropolitana). No primeiro dia também ganhei uma chave. Era a chave de um parque infantil da pequena cidade; meia dúzia de baloiços, dois escorregas e uns cavalinhos desbotados, plantados em areia da praia e cercados de rede. Competia-me a mim guardá-lo nas férias da empregada oficial. A única lição que me foi dada tinha a ver com um estranho objecto de alisar a areia ao final do dia, livrando-a de folhas e outros elementos impróprios. Porta fechada, poucas falas e areia lisa -foram as recomendações. O primeiro dia foi de observação, no segundo já levei as canetas de feltro e as folhas de papel e no terceiro a bola e...a areia sempre lisa!
É bom trabalhar.
~CC~
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CCF
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20:46
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Autoridade e poder
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Cristina Gomes da Silva
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16:39
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