sexta-feira, 4 de maio de 2007

Olhares

Aquele par de olhos vagabundeava pela sala havia já um par de horas. Corpo hirto, firme, a aguentar toda aquela contenção por detrás das lentes. Outros pares passeavam sem se trocarem, sem se cruzarem. O acerto das dioptrias era difícil. Uns perdiam-se a olhar a lua e a imaginar mundos paralelos, outros detinham-se nos bonitos rótulos de elegantes garrafas de vinho. Os prazeres prometidos nas depuradas linhas das caixas de chocolates apelavam a outros mais gulosos. No ambiente enfumarado, esfumavam-se já as hipóteses de redenção pelo encontro. A vagabundagem esgotava o mais estóico se não encontrasse poiso, mesmo um abrigo precário servia.
Mas a espera não tinha sido em vão. Suspensos na surpresa de se (re)olharem, ali ficaram tentando decifrar significados escondidos naquelas pupilas sarracenas.

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