terça-feira, 31 de julho de 2007

Francisco José Viegas

ou um bom exemplo de que se pode fazer alguma coisa (grandes coisas, às vezes) indo além da habitual e lamurienta "crise". Crise de vontades, talvez...

Michelangelo Antonioni

Canto trigésimo quinto

Água, fogo e depois cinza
os ossos dentro da cinza,
o ar treme em redor da Terra.
(...)

in Tonino Guerra, O Mel, Assírio e Alvim, 2003

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Ingmar Bergman

Hoje, todos os morangos me pareceram silvestres.

Herberto Helder*

Boa noite, a quem passa nesta cidade, acompanhado de poesia.

Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
(...)

Herberto Helder,Poesia Toda,Assírio & Alvim,1979

*Transcrito ao som de Danilo Perez, Alfonsina y el mar

Homens tristes com música

Naquela manhã tinha acordado a ouvir dentro de si a "Paixão Segundo S. Mateus" de J.S.Bach. Achava mesmo que tinha sido despertado por ela. Levantou-se, abriu a janela, inspirou os primeiros odores da manhã e saudou o gato cinzento de olhos verdes que se espreguiçava em cima do telhado da casa da vizinha, afagado pelos primeiros raios de sol. Invejou-o. De certeza que ele, o gato cinzento de olhos verdes, não tinha despertado com aquelas notas belas e tristes.

Julgou, então, ter encontrado a chave para aquela indizível tristeza que o acompanhava havia já algum tempo. As músicas que ouvia ultimamente eram tristes, todas elas escolhidas por serem tristes. Sabendo-se tão permeável aos sons, não podia continuar naquele trilho lento e arrastado por muito mais tempo. Precisava de deixar sair aquele torpor provocado pela tristeza.

Procurou na estante dos CD's e encontrou-a, e foi a ouvir aquela voz sussurrada e quente que entrou na banheira:

April skies are in your eyes
But darling, don't be blue
Don't cry,
Oh honey please
Don't be that way
Clouds in the sky
Should never make you feel that way
The rain
Will bring the violets of may
Tears are in vain
so honey please don't be that way
(...)

Ella Fitzgerald

domingo, 29 de julho de 2007

Dia de festa....

Sábado foi dia de festa... Não por virem cantores do mundo a Sines, e as ruas estarem cheias de gente, mas porque alguma dessas pessoas que ajudavam a encher as ruas de Sines, serem família e amigos.

Sábado foi dia de assar sardinhas e febras para 15 pessoas, dar uns mergulhos na piscina e por a conversa em dia com a mana velha (que não o é assim tanto!)

Sábado foi dia de levar a sobrinha, com quem andei ao colo há bem pouco tempo, ver e ouvir grupos que só ela conhece.

Sábado foi dia de tentar jantar em Sines e só conseguir comer umas bifanas servidas por uma linda menina, com sotaque de leste, cabelos loiros e uns lindos olhos...

Sábado... foi um grande dia!

(*) As casinhas ali em cima estavam no parque de merendas, em Santiago do Cacém, onde sábado passámos a tarde...

Ainda os livros*

"Agora as minhas letras descansam dentro de mim, mas vou lendo as tuas e o modo como às vezes elas dizem mais de ti do que tudo o resto...é assim a escrita." Disse a CC no comentário ao post Ler. E eu digo-lhe em jeito de correspondência epistolar:

"Cara CC,

Não sei se estou de acordo contigo (mas também já não é novidade). A escrita tem o seu lugar, a sua função, mas também tem, para mim, alguns limites: os limites da comunicação. Não há nunca um face a face entre quem escreve e quem lê, no mesmo acto de comunicar, tudo é sempre em diferido. Como sabes, apesar de o fazer, incomoda-me o processo virtual em que escrevemos. Prefiro incomparavelmente o calor de uma boa discussão e o som das vozes à frieza desta escrita/leitura à distância. Olhar-te nos olhos é diferente de escrever para que me leias, não sei onde nem quando. É este desconforto que nomeio de cada vez que nos interrogo por aqui. Acho-a incompleta, esta relação inodora e sem contornos que por aqui vamos estabelecendo, compreendes-me? E, olha, o que descobri ontem, apesar de já ter sido escrito há algum tempo – George Steiner, O Silêncio dos livros, Gradiva, 2007:

A escrita constitui um arquipélago na imensidade oceânica da oralidade humana. (…) Milhares de anos antes do processo de desenvolvimento das formas escritas já se contavam histórias, já se transmitiam por via oral ensinamentos de carácter religioso e mágico, já se compunham e transmitiam fórmulas encantatórias de amor, ou então anátemas”. p.8

E, mais adiante, sobre a música: “Não existe neste planeta um único ser humano que não mantenha com a música um qualquer tipo de relação. A música, sob a forma do canto ou da execução instrumental, parece ser de facto universal. É a linguagem fundamental para comunicar sentimentos e significações. A maior parte das pessoas não lê livros. Porém, canta e dança” p.9

E, depois sobre as origens “(…) a nossa herança intelectual e ética, bem como a leitura que fazemos da nossa identidade e da morte, vêm-nos directamente de Sócrates e de Jesus de Nazaré. Nenhum deles, contudo, fez questão de ser autor e muito menos de ser publicado” p. 9

Repara que ele fala de herança intelectual e ética, mas, e as outras, as dos sentidos, as dos sentires?

Atenta bem agora, "(…) Sócrates não escreveu nem ditou. São profundos os motivos que explicam esta questão. O confronto olhos nos olhos e a comunicação oral em espaços públicos são razões essenciais. (…) Em Sócrates, o pensamento, mesmo o mais abstracto, e a alegoria, mesmo a mais impenetrável, supõem a experiência vivida, irredutível a toda e qualquer textualidade muda.” pp. 9-11

Que fique claro que não advogo qualquer retorno às origens, serei eternamente dependente da escrita e…dos livros, mas prefiro de longe a (con)versa, as vozes nas conversas, os olhares e os corpos.

E para acabar por hoje, porque está muito calor e os sentidos andam à solta, não quero correr o risco porque “O escrito apodera-se dos sentidos” p.14

Abraços cheios de calor,
C."

*Escrito ao som de Miles Davis.

Verão

Ria Formosa. Verão 2007
~CC~

sábado, 28 de julho de 2007

Ler

É nome de livraria. Livraria de bairro. São 11 da manhã e depois do cafezinho habitual, das brincadeiras no parque e de alimentar os patos com miolo de pão, vamos à livraria.

Três homens idosos discutem pausadamente, fazem uma espécie de crítica literária oral. Trocam pontos de vista, preferências e gostos. Um deles é o dono, o outro um empregado e o terceiro um cliente respeitado e habitué.

Este último levanta-se e pega num livro, mira-o e exclama "Philip Roth, é um judeu americano, ganhou um Pulitzer e parece que se prepara para ganhar um Nobel (ou Nóbel, como diz o nosso Saramago). Nunca li nada dele, mas olhe vou levá-lo também. Sabe, há algumas lacunas que gostava de eliminar antes que tudo se acabe, é que já são 93 e meio e um olho a menos, mas quando acabar acabou. Hoje está muito calor, ainda pensei ir às Amoreiras mas, agora que já tenho companhia, vou para casa e já não saio". Disse tudo assim de rajada, pagou e saiu apoiado numa elegante bengala de madeira cor de mel.

Chega a minha vez, mas não há o que procuro. O dono, solícito, mostra-me as novidades e dá-me conselhos: "Já leu este? É extraordinário. Leia e depois diga-me se gostou". Trata-se de Selma Lagerlöf e da Maravilhosa viagem de Nils Holgersson através da Suécia. Trouxe-o comigo e parece-me que peguei num pedaço de história muito particular (como pode ser qualquer livro). Há dias ao (re)ler o Futuro está aberto, um conjunto de entrevistas feitas a Karl Popper e Konrad Lorenz, tinha encontrado o seguinte "(...) Quanto a Selma Lagerlöf, Karl já disse de forma mais agradável que fomos ambos influenciados por ela, apenas com a diferença de que ele se apaixonou pela Selma Lagerlöf... e eu pelos gansos selvagens", in O futuro está aberto, Editorial Fragmentos, 1990, p.19

Hei-de voltar, depois de ter lido, para cumprir a minha parte do acordo.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Decantar a vida


Por aqueles dias sentia-se cansada, não que o trabalho a torturasse muito ou as crianças se impusessem mais do que o habitual, mas sentia um cansaço ancestral, sem origem nem destino. Amando a vida sentia um inexplicável cansaço de existir. O mar, a praia eram por vezes um escape. Mas, ultimamente essa longínqua linha do horizonte, na praia, não chegava para o seu desejo de evasão. Condensava as ideias, acumulava-as até ao dia em que sabia certa a implosão. Imaginava-se numa vida sem grandes raízes e mais como uma árvore que ergue os ramos para o céu. Como um cipreste. Gostava da elegância dos ciprestes apesar da negativa conotação que muitos lhes atribuíam.

Tinha iniciado há algum tempo aquilo a que chamava “um trabalho de decantação da vida”. Os amigos riram-se quando lhes contou da tarefa empreendida. “Decantação da vida?" "Sim, senhores, um exercício doloroso mas inevitável e indispensável. Como um viajante que para seguir viagem tem de se despojar de tudo o que está a mais, de tudo o que pesa na bagagem. Reduzir a vida ao essencial, era isso decantar a vida.”

Sabia que às vezes até os afectos podiam fazer transtorno a quem empreendia tal viagem. Lembrava-se dos versos de Pessoa “o mesmo amor que tenham por nós quer-nos e oprime-nos”. Libertar-se então dos afectos. E depois? Que “alimento” teria? Com que ombros contaria? Que vozes a alentariam? Que olhares lhe devolveriam a sua imagem? Não podia fazer tal caminho sem regressar sempre que precisasse. Precisava muito de portos de chegada. Mas, e os outros, como faria com os outros? Os que tinham aprendido a confiar-se-lhe, os que precisavam dela para existir? Não, a decantação não podia passar por aí. Apetecia-lhe um período de retiro, de introspecção e renascimento de si. Imaginava os que entravam em mosteiros e faziam temporários votos de silêncio, meditação, reflexão, vidas simples, desornamentadas.

Sabia de que pais tinha nascido, em que terra tinha nascido, hora, dia e ano, mas o sentido da vida exigia mais do que simples informações grafadas numa certidão de nascimento. Que caminho e que projecto teria então para levar a cabo.

Às vezes era o desnorte. Não se reconhecia. Sempre tinha racionalizado tudo, etapa por etapa, sem ondas nem sobressaltos. Na aparência dura e racional, era todo um trabalho que lhe roubava energias, para conseguir proteger a sua verdadeira pele. Camadas e camadas de máscaras e aparências ditadas pelas circunstâncias escondiam a sua essência. Já nem sabia onde, nem como procurá-la. Pensava-se como uma duna no deserto, fustigada pelo vento. Aparentemente punha a descoberto a camada seguinte, mas havia sempre outra e outra. Era uma busca de si dolorosa e demorada e nem sempre gostava do que encontrava. Alheava-se do que a rodeava, deixava que o pensamento voasse para longe dali e sentia-se sempre estranha mesmo entre iguais. Sentia-se sempre a mais, deslocada, inconfessadamente perdida.

Talvez a decantação exigisse várias fases, muita paciência, muita atenção. Uma vida inteira. Rasgando-se por dentro continuava teimosamente a marcar encontro consigo própria perguntando-se se o mesmo aconteceria aos outros.

Notícias do sul (III)....

Ontem fomos ainda mais para sul, para ver peixes e aves...
À noite a Internet não funcionava aqui na varanda...
Fui mesmo enganado pelo mercador da praça...
Mas, hoje funciona, e já lhe perdoei...
Até porque é um mercador alentejano com cara de boa pessoa!

Lindos poemas que vão colocando por aqui as parceiras...
Até logo... se as tecnologias não voltarem a falhar!

"Bom e expressivo"

Tenho um amigo que acha que "não sabe escrever". Insiste em dizer que é um homem rude que nada sabe de poesia, nós respondemos teimosa e pacientemente que não é verdade, que a poesia está onde estivermos com o coração. Essa coisa que bate a (des)compasso sem que a gente mande nele. Hoje deixo-lhe um recado que Alexandre O'Neill escreveu mesmo a propósito, aqui vai:

BOM E EXPRESSIVO

Acaba mal o teu verso,
mas fá-lo com um desígnio:
é um mal que não é mal,
é lutar contra o bonito.

Vai-me a essas rimas que
tão bem desfecham e que
são o pão de ló dos tolos
e torce-lhes o pescoço,

tal como o outro pedia
se fizesse à eloquência,
e se houver um vossa excelência
que grite: - Não é poesia!,

diz-lhe que não, que não é,
que é topada, lixa três,
serração, vidro moído,
papel que se rasga ou pe-

dra que rola na pedra...
Mas também da rima «em cheio»
poderás tirar partido,
que a regra é não haver regra,

a não ser a de cada um,
com sua rima, seu ritmo,
não fazer bom e bonito,
mas fazer bom e expressivo...
Alexandre O'Neill, Poemas com endereço,
Morais Editora, Lisboa, 1962

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Quintas-feiras ao fim da tarde

É ali à beirinha do Rio. Do Tejo. Ele gosta de ser admirado, observado e nós fazemos o nosso papel, admirando-o e observando-o. Vamos ficando, o olhar perdido lá longe, enquanto degustamos *um bom vinho e conversamos. São fins de tarde na cidade à beira-rio, privilégio de quem vive em cidades com rios. Saboreemos o privilégio, pois então.
Até mais logo.
*As degustações são gratuitas, só se pagam os "sólidos"

Mais um Mário Benedetti

Este foi-me oferecido há muitos anos. Aprisionei-o e ele a mim. De vez em quando deixo-o sair. Ofereço-o a quem passa e a quem acho que poderá guardá-lo e oferecê-lo outra vez. Assim, numa contínua cadeia de trocas. De afectos. Leiam-no bem e partilhem-no.

TÁCTICA Y ESTRATEGIA

Mi táctica es
mirarte
aprender como sos
quererte como sos
mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible
mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo
ni sé con qué pretexto
pero quedarme en vos
mi táctica es
ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos no haya telón
ni abismos
mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
simple
mi estrategia es
que un día cualquiera
no sé cómo
ni sé con qué pretexto
por fin me necesites.
Mario Benedetti, Poeta Uruguaio

minutos por onde a brisa chega...

Os dias têm sido de enlouquecer numa rotina pautada pela imensa pressão do trabalho. Mas mesmo dentro deles há bocados maravilhosos, únicos.


Ontem contigo no fim de tarde. Há quantos anos nos conhecemos?! Vinte e dois. E interrogamos a vida com o mesmo ardor do que quando nos conhecemos, acabadas de sair da adolescência. Dizia eu: o leite e o colo que tomamos na primeira infância, sei que a pessoas não acreditam, mas é nele que nos formamos. E tu disseste: o tempo que eu tenho demorado a ganhar outra forma além dessa. E eu: Pois é, mas só lhe muda a forma quem é capaz do olhar no espelho e trabalhar sobre essa imagem uma vida inteira. E as palavras rolam entre nós feitas vento e companhia.

E hoje a tua resposta sms à minha saudade: vem rápido mãe.

É tão bom gostar, é tão bom existir. São minutos por onde a brisa chega no seu afago doce.

~CC~

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Notícias do sul (II)....


Aqui estou outra vez, na varanda, e ler o que pouca mais gente lê... Embora poucos tenho a certeza que são bons e generosos porque até nos vão dando prémios (obrigado Teresa) e voltando para mais uns dedos de conversa.

As férias estão mesmo a chegar e é delas também que a Carla e a Cristina nos falam... Fico agradecido ao mercador da praça central que me vendeu caro um serviço que nem sempre funciona mas que, mesmo assim, me permite, à noite, passar por aqui.

Esta tarde comi um gelado, embora nem fosse de baunilha nem caseiro! Tive notícias de visitas de família para este fim-de-semana...

Amanhã rumo ainda mais a sul à procura de um dia cheio de aventuras com a pequenada...

Boa praia com ou sem bolas de berlim!

Alentejo

Foto: BSP

Sempre que vou lá sinto-me com asas. Gosto sempre dele, são ímpares as cores na Primavera e lânguidos os dias de Outono, mas prefiro ir no Verão. É o calor que me faz sentir viva. Faz-me sentir até os ossos e o sangue a latejar. A imensidão da planície convida à evasão. Descontamina-me, descomprime-me da pressão citadina. Como se rodasse sem destino, ou como se o destino estivesse longe, lá longe no horizonte distante.

Saí cedo rumo a Portalegre. A manhã estava fresca em Lisboa, uma frescura apaziguadora e convidativa a viagens. Ponte Vasco da Gama e a travessia sobre as águas. Quase bíblica. Bela esta Ponte. Abstracção feita ao que deixamos para trás. Não nos engrandece a densidade imobiliária e o frenesim especulativo.

Rapidamente entramos em paisagens menos densas, mais livres. Vemos as cegonhas, eternas e mágicas cegonhas. Rebanhos de cabras e ovelhas e manadas de vacas. As garças fazem-lhes companhia.

Antes de partir, ainda tive tempo de ler, num relance, o texto que Manuel Alegre escreve hoje no Público. Acho-o corajoso e, sobretudo, necessário. É importante não esquecer o que ele diz. Resta saber se o nível de consciência colectiva está receptivo a esta mensagem. Ele sabe do que fala e nós também. Tenho 43 anos e não vivi directamente os efeitos da Ditadura, do medo, da delação. Uma certeza: vivemos todos em diferido (33 anos depois) esses mesmos efeitos como se fosse uma segunda natureza. Regresso a José Gil*. Relê-lo nestes tempos será de grande utilidade.

A recusa teima, então, em instalar-se. O Alentejo é simbólico para mim. Palco de grandes resistências, de grandes recusas, de grandes enfrentamentos à Ditadura. Tudo se mistura num misto de ansiedade, perplexidade, recusa e profunda vontade de abanar os que se deixam embalar, ritmados por “choques tecnológicos”.

Fecho os olhos e chegam-me como néons as palavras de Alexandre O’Neill. Sarcásticas, certeiras. E com elas vos deixo:

“- Neste país em diminuitivo**…
- Respeitinho é que é preciso”

In, Poemas com endereço, Morais Editora, 1962


*Portugal hoje, o medo de existir.
**É mesmo assim que está grafado

Mamã dá licença?

Lembro-me bem deste jogo porque sempre me pareceu ferido de lógica e impossível de ter sido inventado por crianças. Reparem que quando estamos quase a chegar, traídos por um pequeno movimento, somos descobertos e voltamos para trás. Este retrocesso ao lugar de partida sempre me deixou de rastos. Pensava: agora vou ter de percorrer todo o caminho outra vez e quando estiver quase a chegar volto novamente para trás. Um adulto, foi um adulto que inventou esta maldade. Mas a verdade é que as crianças jogavam a isto na maior parte das vezes com prazer. Eu também se não me pusesse a pensar na lógica dos próprios jogos, o que me fazia perder mais vezes. Mais tarde tornei-me veloz nas corridas e quase alcancei grandes vitórias no corta mato, acho que pela ideia de que podia ir sempre em frente, de pouco me importar com a distância a que a meta estava, podia correr até ela.


Penso nisto por causa das férias e de uma das coisas que dentro delas me causa maior prazer:deixar-me estar na praia até o sol se despedir e ver a lua a ganhar o seu lugar de luz. Já alguma vez repararam na cor que a espuma ganha nessa altura? Chegam as gaivotas pouco a pouco ganhando cada lugar que uma criança deixou. Faz-se silêncio e podemos escutar novamente as ondas. O jantar pouco importa, qualquer coisa se arranja.


E quanto mais penso nesta imagem da praia mais ela foge de mim como no jogo da mamã da licença. Afinal talvez ele tivesse uma função na minha vida, preparar-me para esta espera, para dizer "ganhei" numa recta mais difícil, a recta de avanços e recuos, recta de ir e vir.

Agora é que era mesmo ir e ir e ir pelo crepúsculo de Verão.


E também por causa bolas de berlim, são lindas as bocas crianças cheias de açucar e fantásticos os mergulhos que dão em plena rebentação.
~CC~

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Notícias do sul....


Cheguei ao meu refugio no sul para passar uma semana...
Um mercador, que montou uma banca na praça central, disse que me podia vender um pouco de Internet que utilizaria em minha casa...
Aqui estou eu, ao fresco, na varanda, a mandar um postal do Alentejo que também tem mar...
Se isto se aguentar virei aqui para ler um pouco todos os dias... e continuar o meu curso de poesia (agora exclusivamente a distância)

Abraços do sul

Chasser la haine

Escuto também palavras antigas. Estas são belíssimas na sua dor, na sua verdade cruel, na sua actualidade. Françoise Hardy di-las tão bem, semeia-as com a sua voz encantada, como se tivesse perdido todos os mortos do mundo e por aqui expulsasse o ódio, exorcisasse a dor.

Un homme est mort

un homme est mort
en parler ne sert à rien
le crime ignore
tout du mal et tout du bien…
le monde dort
vaincu par la peur, la faim
un homme est mort
on l’enterrera demain…

un jeune homme, un enfant
couché pour toujours
les yeux fixes vers le ciel
hier encore vivant
fauché en plein jour
tué par la haine
tué par la haine…

des cris, des pleurs
des discours vite oubliés
comme les fleurs
qui vont bientôt se faner
sur la douleur
de toutes ces vies volées
de tous ces coeurs
que le destin a brisés…

ma petite ou mon grand
couchés à jamais
je voudrais tant croire au ciel
mon amie, mon amant
oh comme je voudrais
chasser la haine
chasser la haine

juste un homme, un enfant
j’appelle au secours
les yeux tournés vers le ciel
qu’il nous dise comment
retrouver l’amour
chasser la haine
chasser la haine

Françoise Hardy, Clair-Obscur, 2000

Apontamentos do tempo das uvas


1. Nestes últimos tempos tenho ocupado os meus dias a engavetar ideias passadas e a passar a limpo esboços projectados no futuro. Peças de puzzles que quero vir a construir. A minha (nossa) “casa virtual” não me tem visto muito. Entro e saio de mansinho, sem grande alarido. Busco um novo tempo para degustar prazeres antigos. Ler é um deles. Não falo das leituras obrigatórias que nos embrutecem com a sua esterilidade, falo das fecundas, das que nos lançam redes encantatórias, das que não nos dão son(h)os sossegados, das que nos fazem olhar a Lua (como agora estou a fazer, porque ela postou-se mesmo em frente da minha janela, acho que quer que a olhe, que a admire) e pensar se é mesmo verdade que nos faz amar e desamar de acordo com as suas forças. Para a minha mãe o meu mau humor sempre se deveu à Lua. Só não percebi a que fase.

Leio As mulheres do meu pai e gosto. Há um enredo de lugares e personagens feito, que me agrada. Estou quase no fim, mas voltei atrás para vos mostrar estes pedacinhos:

A verdade é uma velha senhora chata, estúpida e inconveniente. Além de surda, surda não como as portas, que as há bastante atentas, e olha que não são poucas, mas como Deus, a quem todos suplicam e que não ouve ninguém.
(…) A verdade é um recurso de quem não tem imaginação (…) há verdades pérfidas e mentiras benévolas. A vida não é cinzenta nem cor-de-rosa. Depende das lentes com que olhamos para elas
.” José Eduardo Agualusa, As mulheres do meu pai, D. Quixote, 2007, pp. 280-281

Sempre me ensinaram a dizer a verdade. Plana, sem artifícios. Cresci a interrogar os malefícios de algumas verdades e a sentir na pele os efeitos de as dizer. Mas, afinal, também cresci longe das mentiras que podem ser as fantasias, os artefactos, a imaginação. Interrogo hoje a educação que recebemos de verdades feitas para os outros.

2. A escola. Entrei nela aos seis anos e nunca mais de lá saí. Às vezes penso-me como um peixe num aquário que morreria se o pusessem num lago (triste, mas verdadeiro). Um universo permanente na sua força transformadora, mas que tem vindo a perder o encanto da Lua. O veredicto escolar esmaga os que não conseguem chegar à meta. Como se pudesse haver uma única! O fim do ano lectivo é sempre tempo de balanços e avaliações. É com algum desprazer que aqui chego. Acho que o valor de quem quer que seja não se esgota num número aposto numa pauta. Reflicto, então, sobre o que lhes fica, aos estudantes, ao fim de mais um ano, que pedaços de mim fizeram sentido para eles, que pedaços deles fizeram sentido para mim. O imenso prazer de partilhar o que julgo saber e de aprender o que eles tiverem para me ensinar, está muito além do que é visível. Como se fossem faróis apontados lá para longe. Um longe largo, feito dos caminhos possíveis. As suas vidas.

3. Comi hoje as primeiras uvas. Não me imagino a ter nascido fora d'A Minha estação preferida. Longe da força trazida pela terra na sua generosa dádiva estival. Não poderia ter nascido noutra, não teria sobrevivido.

Bom Verão a todos os que passarem por aqui e aos outros.

A casa dele

Há muito que lhe faço visitas, a este homem com asas.
É preciso voar e atravessar o oceano.
~CC~

Ainda os sonhos

Por vezes na solidão de uma tarde de verão tomam conta de mim frases de poemas da Sophia. Ficam insistentemente a morar no meu ouvido com a voz que era a dela e por vezes quero afastá-los por serem dilacerantes ou tristes mas eles permanecem até que adormeço e me chegam dia seguinte outras palavras. Hoje: "depois tu só me destruiste com os teus passos mais reais que os meus". Fico a pensar nestes passos amputados de asas que se cruzaram na vida dela como se eles fossem as sombras que cruzarão também a minha.
Busco então ouvir outros poemas, outras frases e nesse esforço consigo chegar a "para atravessar contigo o deserto do mundo". E penso que só aos passos com asas a travessia é possível, os outros arrastam-se pelo seu realismo, que parecendo sensato é apenas trágico. As coisas são apenas metade do que parecem ser, a outra metade só se vê com os olhos de dentro.
Lembro o meu pai: Em Psicologia filha só se te vão ensinar a ver o que se pode ver. Na altura pensei que as asas dele eram tão grandes, tão grandes que se pareciam com a loucura, mas hoje dou-lhe a parte de razão que cabe nas asas que dentro de nós ainda nos permitem voar. Mesmo que voar implique ter uma parte de nós em terra.
~CC~

domingo, 22 de julho de 2007

mulheres-esperança



Esta mulher permanece bela depois do sofrimento e tem riso lá dentro, um riso que combina com o vestido negro de pequenas flores brancas. A firmeza do seu olhar é imensa na esperança pela vida. Fico próxima, juntando uma flor às que já tem na mão.


Esta mulher tem um vestido pérola da cor de casamento e é isso que faz hoje. Está menos bonita que o habitual e podemos sentir a tensão que habita o seu corpo, mas os olhos muito molhados dizem quase tudo sobre a enorme esperança de ser feliz. Quem se casa sem essa esperança? Fico próxima, num abraço que não diz a condição que já tivémos de professora e aluna, hoje somos já uma outra coisa, uma configuração de afecto sem nome certo mas plena de ternura.
~CC~

Sonhos...


Há quem largue tudo por eles.
Há quem os persiga e realize, custe o que custar...
Há quem diga que temos sempre tudo para os realizar...
Há sonhos que não são, apenas parecem...
Há sonhos curtos, dos quais acordamos quando pensávamos estar apenas a adormecer.
Há sonhos que são só nossos...
Mas...
os melhores sonhos, curtos ou longos,
são sempre sonhados a dois!


ps. São quase duas da manhã e espero que tenham bons sonhos!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Guarda-rios e estuários (XI)




Eu, como todas as crianças Almar queria guardar um dia as sementes. Perguntei à mulher velha sobre os meus sonhos para as cinco sementes, queria saber se ela os tinha aprovado, se eles eram bons sonhos, se eles eram uma boa pele para o nosso povo. Ele respondeu que sim, que eu tinha chegado perto do que podia ser o tudo de que precisamos para viver, mas que não sabia se seria eu a guardá-las um dia. Perguntei porquê, triste por ela não ver que era eu, que tinha que ser eu. Ela explicou então que quem guardava as sementes era quem melhor traduzia sonhos e não quem os tinha mais ou melhores. A mulher Almar que guarda as sementes é uma tradutora de sonhos. Eu não sabia o que queria dizer a palavra tradução, não entendia inteiramente o sentido dela. Traduzir, como as línguas, descobrir sentidos. Queria que me explicasse mais, mas ela recusou. Não me podia explicar tudo porque se não nada sobraria para eu aprender sozinha. E pediu para eu ir, estava cansada.

Esta conversa ocorreu cerca de três anos antes dos Homens Almar terem começado a adoecer por terem perdido o seu emprego de guarda rios, três anos antes do início da grande dispersão, de nos perdermos uns dos outros, ainda que a resistência à dissolução da nossa identidade tenha sido grande e durado pelo menos dois Outonos.

~CC~

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Guarda-rios e estuários (X)




Uma criança Almar é como qualquer outra rasgada pelo desejo de saber. A resposta da mulher velha não tinha saciado a menina. Ela indagava: diz-me, diz-me o que pode nascer destas sementes? E voz baixa, quase monocórdica: o que tu quiseres, o que tu quiseres, diz-me o que queres tu. E a criança sem compreender a pensar que aquilo que era um tesouro não podia ser o nada, tinha que ser o tudo. Concentrou-se na ideia tudo, no que podia significar tudo.

Uma semente devia dar origem a uma bananeira, porque a banana é como o pão a saciar a fome.

Uma semente devia ser uma faísca eterna, capaz de atear o lume em qualquer circunstância, mesmo quando a lenha respira chuva.

Uma semente devia ser uma isco que atraísse sempre os peixes mas que ao mesmo tempo nunca se gastasse, permitindo trazer para casa apenas os suficientes para que no mar ainda pudessem sobrar muitos.

Uma semente devia dar origem a uma árvore tão grande, tão forte e tão frondosa como um imbondeiro, uma árvore como uma casa ou uma casa árvore.

E a última semente, a última devia dar a flor de marucujá, uma flor capaz de durar sempre, uma flor sem morte.

A mulher velha escutou-a atentamente e disse apenas: a última, o que desejas que nasça a partir da última semente é muito difícil, quase impossível, mesmo em Almar. E continuou...

...cada criança Almar tem um sonho para estas cinco sementes e elas são, elas são exactamente todos esses sonhos.

~CC~

Brinquedo esquecido....

Enquanto alguns estão esquecidos depois de terem cumprido com os seus "deveres" de brinquedo, outro(a)s estão ainda à espera que alguém o(a)s leve e brinque com ele(a)s...

Desktop da Teresa Pombo


Aqui está a contribuição da nossa amiga Teresa Pombo.
Um computador portátil a funcionar com tudo o que há de mais recente a nível de sistema operativo e programas da Microsoft.

Obrigado pela participação e um grande abraço
João

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Uma flor num dia de chuva...

Foto: JvTorres - Curia, Julho 07

santas confissões


"São João Nepomuceno foi confessor da Rainha da Boémia e, como tal, negou-se a contar ao Rei os segredos dela. Acabou tornando-se o "1º mártir do selo da confissão" e sendo considerado patrono contra as calúnias e contra os alagamentos (em função da maneira como morreu - foi lançado ao rio). É como se ele guardasse os segredos de todos que lhe confessarem."*


Em Praga, na Ponte Carlos, as pessoas passam a sua mão pelas figuras de cobre debaixo da figura do Santo, tornando-as luzidias com esse gesto, acreditam que com isso se protegem contra o mau olhado, a calúnia e a inveja. Fiz o que as pessoas fazem sem pensar muito, deixei a mão seguir primeiro que a cabeça.

Tenho infinita curiosidade por gestos destes.

~CC~

* Obrigado Arthur

terça-feira, 17 de julho de 2007

Excelentíssimos senhores aproveitem as férias!

Os senhores sabem que é Verão?! Os senhores já devem ter reparado, não obstante os vidros duplos e as cortinas corridas a meio. E embora na correria de entrar e sair dos gabinetes todos vos possam parecer iguais, algum pessoal já foi de férias. Dizem que este é o tempo certo para descansar e a escuta do que diz o povo parece-me bem, para além da leitura matinal do jornal, pois afinal ninguém que se chame excelentíssimo pode sobreviver sem esses dois ingredientes.


Voltemos então à escuta do povo que diz que devem descansar. Mas melhor que descansar seria rir, voltar a rir, vulgo dar umas boas gargalhadas. Eu não sei tal é a profusão de cursos de verão, se há algum para este efeito. Se calhar também há médicos ou novas terapias da Psicologia ou qualquer outra ciência afim. Mas a culinária costuma ter boas referências para este efeito. Que dizem a uma boa sardinhada e uma fatia de melancia para recuperar o humor?


Mas senhores, tem que ser...Ora vejam bem que dizem que não sou engenheiro, é para rir! Ora vejam bem que diz que colocaram um cartaz a desdizer de mim num centro de saúde, é para rir! Ora vejam lá que dizem que eu sou a ministra mais odiada pelos professores, é para rir! É que é preciso poupar em processos, em exonerações e em depressões...vejam lá se aprendem a rir, senhores excelentissímos!


Um banho de mar e a vida ganha outra graça meus senhores. Deixem falar quem quer falar, riam-se. O senhor excelentíssimo da saúde, por exemplo, teve tanta graça a dizer que nunca iria a um serviço de atendimento permanente, ele foi sincero e revelou absoluta consciência de que aquilo é mau...eu diria o mesmo! Nós gostamos de excelentissímos conscientes! Eu ainda estava a aplaudi-lo e a pensar na sinceridade e graça dele e já me estava a cobrir de tristeza com a sua falta de humor. As calúnias, se as são, leva-as o vento. Ou o São João Nepuceno da ponte Carlos em Praga. Para quê dar tanta importância? Para quê tanta amargura? Nada de importante foi falado com tudo isto, pura perca de tempo meus senhores...não são capazes de melhor?! Claro que são!


E um beijo excelentíssimos, um beijo bem dado também pode fazer milagres. Oiçam o povo e aproveitem o Verão.
~CC~

O olhar do carrasco...

Foto: JvTorres, mercado medieval de Óbidos, Julho de 2006

segunda-feira, 16 de julho de 2007

homens voadores


Penso no amante de Lady Chaterly. Vejo-o a pendurar flores pequeninas e brancas no corpo nu dela. Imagino o cheiro a terra e a água. Sentimos o sorriso que lhes chega depois do prazer intenso. Chega pelas flores nos corpos nus.

Vejo os homens que vão buscar as estrelas nas noites grandes de Verão e depois as poisam sobre a pele das mulheres. E as estrelas fazem-nas brilhar no escuro. E elas brilham tanto que a própria lua se ofusca com a sua luz.

Vejo os homens com pensamentos voadores cujos pés mal tocam o chão e cujos abraços são doces como os dos anjos quando eles descem à terra.

Vejo que se estas imagens permanecessem no olhar, seria lugar de ficar.

~CC~

Desktop e foto da Helena...


Estas são as imagens que uma colega de Barcelos utiliza nos seus computadores....
Vinda de longe, esteve presente, aqui em Setúbal, no dia 3 de Março onde conheceu a 3za e a linha gráfica (vladstudio) que agora decora também o seu ambiente de trabalho.

Há uns anos era assim...
Hoje está, "com mais uns aninhos e um pouquinho menos de peso", do outro lado da secretária e temos a certeza que é também um pouco graças a ela que, como nos diz: "a escola actual é bem mais atraente"

Obrigado por ter participado e por passar por aqui!
Grande abraço
João

domingo, 15 de julho de 2007

Lógicas...

Depois de quinze dias de praia, as meninas regressam a casa. O quarto foi remodelado, está mais espaçoso e com mais luz, agora têm um beliche. Dizem que lhes faz pensar em aventuras...

Com elas regressa um dos rituais preferidos: o pequeno-almoço à mesa, todos juntos, e as conversas de início de dia. Às vezes contam os sonhos que tiveram, outras relatam o que ficou por contar na noite anterior, outras ainda fazem projectos para o dia. Hoje foi assim:

B. (quase 10 anos): Mãe o que é que aconteceu, a mesa está mais baixa?

Mãe: O que aconteceu é que tu cresceste nestes quinze dias, mesmo sem teres dado por isso, e a mesa parece-te mais baixa.

B.: Cresci?!

C. (quase 4 anos): Sim mana, cresceste mas sem fazer anos. Percebeste?

sábado, 14 de julho de 2007

E você, como era quando era criança? (VIII)


Mais uma criança
Finalmente outro menino....
Pelo olhar, percebemos que virá a ser um grande contador de histórias e passarada!
Já na altura, frequentava lugares à beira mar de onde se avistam imensas gaivotas.

Obrigado por participar e volte sempre!

Para todas as apaixonadas...

Pelas letras!

(*) Recebi por mail, não sei o autor. Penso tratar-se de uma campanha publicitária dos correios da Austrália...

E você, como era quando era criança? (VII)


Mais uma criança
Outra menina...
Não se chama Teresa, mas é professora e tem também um blogue onde reflecte, e nos faz reflectir, sobre educação.
Quanto aos rapazes, parece que perderam todos as fotos da infância. Não se preocupem ainda têm tempo de as procurar e... estamos a reservar umas "quotas" para vocês.

Obrigado Padeia por participar

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Guarda-rios e estuários (IX)


Em Almar, a mulher mais velha de todas guardava o tesouro. Era uma caixa de madeira quase preta com a pirâmide gravada, a mesma que todos nós tínhamos tatuado na mão, logo abaixo do polegar.

Esta tatuagem era feita no aniversário dos sete anos, um presente desejado como nenhum outro. E era aos sete por causa da palavra que estava dominada na oralidade e agora deixavam-nos partir para a escrita, a viagem da palavra escrita era a primeira para fora dos territórios da água. Por isso aos sete anos, em terra seca e na entrada para a escola onde nos misturariamos com todas as outras crianças, era necessário que a pirâmide nos brilhasse no escuro das salas de aula, que nos fizesse companhia. Ganhei o hábito de a esfregar nos momentos dificeís, mas não era um gesto só meu, vi-o noutras crianças Almar. Já adolescente pensei muitas vezes apagá-la, naquela idade em que só queremos ser diferentes de todos os legados que nos correm nas veias.

E quando esfregar a pirâmide não chega tento ver, com a mesma luz que vi pela primeira vez aos sete anos, o tesouro Almar. Eram apenas cinco sementes, cada uma diferente da outra. Uma era grande como um bolbo e outra tão pequena como uma semente de melancia. Eram lisas e rugosas, escuras e coloridas. Vejo-as dispostas diante de mim perante o sorriso da mulher velha. Vejo o meu espanto por pensar que dentro da caixa só podia haver ouro. E o atrevimento de lhe perguntar para que servia aquele presente, que importância tinha, afinal eram apenas cinco sementes numa caixa de madeira.

E da voz baixa dela e meio rouca a murmurar: das sementes tudo pode nascer.
Sim, das sementes tudo pode nascer.
~CC~

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Desktop da 3za

São dois...
Um, do portátil, com um fundo lindo...


Outro, da estação fixa, com uns ursos que se mantêm há vários anos....
São lindos 3za, não admira que sintas saudades cada vez que tentas a separação!

Obrigado pela partilha...
Beijos
João

E você, como era quando era criança? (VI)

Mais uma criança...
Se seguirem o link vão poder ver as diferenças....
Esta menina, de 4 anos, hoje é uma "professora.... apaixonada pela profissão, pela vida... curiosa,orgulhosa,vaidosa também...".
Está diferente mas continua tão bonita como então!
Não tem passado muito por aqui, mas é com muito gosto que a recebemos....
Até porque, sabe imenso de blogues e de como os utilizar no ensino!
Muito obrigado pela partilha da foto!

Um grande abraço
João

E você, como era quando era criança? (V)

Aqui fica uma foto de uma criança Almar.
Agora, mais velha, escreve por vezes coisas que nos deixam a pensar e manda alguns recados num estilo muito próprio...
Eu adoro as suas histórias e espero que continue a partilhá-las por muito, muito mais tempo neste local.... e que um dia também possa vir a ter com ela uma amizade de 30 anos.

E você, como era quando era criança? (IV)

Mais uma criança...
Aqui está a Madalena, "Na escola, pois claro!" que é lugar onde, ainda hoje, melhor se sente rodeada de meninos...
Neste caso ainda nem passaram 30 anos, apenas 20....
Lindo sorriso professora Madalena!

Um abraço
João

Desktop do Ozzy

Temos mais um participante que chegou aqui acidentalmente e achou graça à partilha de desktops....
Nesta imagem ficam claras as preferências musicais...
Sigam o link e podem ouvir um pouco da música que fazem!
Obrigado pela participação e volte sempre, agora que sabe o caminho!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Amizades de quase 30 anos

Trago uma amizade quase tão antiga como as fotografias dos meninos que enfeitam este blogue de ternura. Não nos vemos muito é verdade e embora já não tenha a espiga de milho me deu num dia de tristeza maior, guardo-a intacta na memória: essa caixa de afectos de tamanho XL.
E gosto da ideia que são também palavras que nos unem
~CC~

E você, como era quando era criança? (III)

Recebemos mais uma...
Tinha 3 anos quando tirou a foto...
Já na altura tinha ar de quem não teme aranhas e adora borboletas....
Além disso é uma das 4 ou 5 pessoas que costumam passar por aqui...
Alguém adivinha quem é?

Ps. Se ficou curioso(a), e não consegue adivinhar quem é, volte na sexta-feira... Prometemos colocar um link para o blogue desta menina... E... se tem algum interesse por educação, tecnologias ou poesia, o mais provável é conhecer ou então.... passar a frequentar!

Agora que já descobriram quem é (era muito fácil) passem pela teia e digam se não valeu a pena!

E você, como era quando era criança? (II)

Aqui fica a minha participação...
Este menino sou eu, ou melhor....
era eu, há mais de 30 anos!

Viver

Pela força que habita em cada flor para se fazer maior do que é e assim viver.
~CC~

terça-feira, 10 de julho de 2007

E você, como era quando era criança?


Depois do estrondoso(*) sucesso do desafio dos desktops (que continua activo) lançamos mais um desafio...
Bem sabemos que publicar fotos de crianças na Internet pode ter os seus riscos, mas... se deixarmos passar uns anos (talvez mais de 30) os riscos tendem a diminuir e até a ser perto de zero! Assim, a ideia é mostrar uma foto dos tempos em que éramos crianças (só para os que já não são)... Já sabe, se quiser participar, envie a sua foto para ninguemle1@gmail.com com algumas indicações, como por exemplo a idade que tinha e o local onde foi tirada. Diga ainda se deseja que o/a identifiquemos (apenas com o nickname que utiliza na Internet) ou se esse segredo fica só entre nós! Colocaremos o endereço do blogue sobre a foto como forma de a inutilizar para qualquer outro fim.

Já agora... aceitam-se apostas para identificar quem figura na foto acima...
Bem sei que ninguém lê, mas se procurarem bem nas mensagens anteriores encontram facilmente a resposta!

(*) este estrondoso é mais referente à qualidade que à quantidade....

Cultura de supermercado (I)

Azedumes não costumam durar muito e muito menos irritação que me domine. Costumo rir-me da Política, faço-me espectadora e algumas coisas divertem-me simplesmente, pelo que não chego a indignar-me, a não ser que a coisa seja muito séria. A corrupção e o compadrio à Portuguesa causam-me perturbação, sou mesmo frontalmente contra este modo de aproximação do poder. E sou por vezes triste, chega até mim e cobre-me uma sombra, coisa da dor minha, dos próximos ou das dores do mundo.

Mas agora ando irritada. E finalmente alguém disse algo que encontra eco em mim. Cláudio Torres, em entrevista à revista Visão, disse o que eu penso: "eleição das novas 7 maravilhas do mundo é populismo barato, sem seriedade técnica ou científica". E fiquei contente por saber que a UNESCO se demarcou da iniciativa. Esta ilusão de que tudo se pode votar, desde os grandes portugueses até às sete maravilhas, não tem feito grande coisa pela cultura, pelo contrário, as coisas parecem mercadorias que se podem escolher como se estivessem na prateleira do supermercado.


E as sete maravilhas invadiram tudo, desde a publicidade até à blogosfera e já não as posso ver, apetecia-me pegar numa grande borracha e apagar esta forma como nos aproximamos das coisas que são importantes. É o mercado e o negócio a contaminar tudo, ignorando que "na história é mais longo o mito que o próprio objecto". Como diz Claúdio Torres " os jardins suspensos da Babilónia são agora os ninhos dos tanques americanos (no Iraque)". Eu tinha uma ideia para lhes dar: votem, por exemplo, nos maiores sete conflitos do mundo, nos mais sangrentos e a seguir recolham ideias sérias para a sua resolução. E, se possível, lancem mãos à obra sem ignorar a história...já agora leiam primeiro, embora isso seja coisa que demore tempo e não se possa votar através de sms de valor acrescentado, aliás corríamos o risco do fiasco financeiro, dada a previsão baixa do número de chamadas. Se têm dinheiro e poder, usem-no para fazer qualquer coisa significativa, deve haver outros modos de disseminar o verdadeiro património histórico da humanidade, o que precisa de protecção.


Acredito que existam outras visões da iniciativa "sete" que consigam evidenciar o seu lado bom, mas desta vez estou no lado não. E olhem que até tenho o culto do número sete.

~CC~

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Com os pés bem assentes....

Foto: João Torres
Será que é preciso ter sempre os pés bem assentes na terra?

Encosta-te a mim...



Vi aqui e aqui, gostei tanto que não resisti e trouxe também para po nosso canto!
Obrigado Teresas...

Para a C.

Rezar. Suplicar a um qualquer poder que esteja para além de nós, mais forte que nós. Poderá ser o poder de amar. Poderemos, então rezar pelo amor. Poderemos, então rezar por amor.
"Não é preciso mais do que o verbo «amar» para fazer um ser humano completo. Quase completo!"
René Pélissier, (2005), Combater, viajar, rezar, Análise Social, vol. XL (176)

Hoje, por e para ti.


Dia de pensamento único. Tornar a esperança a seiva capaz de produzir folhas e flores. Acreditar que a tua fragilidade será mais uma vez tornada força, tornada vida. Rezar, mesmo sem saber como nem exactamente a quem. A filha pequena reza a um conjunto de anjos que diz serem dela, acredita que cada um tem os seus. Eu acho que podemos rezar apenas pelo amor.
~CC~

domingo, 8 de julho de 2007

400

Cheguei aqui depois de jantar e fui ficando. Li alguns posts e outros tantos comentários e fiquei a pensar nos fios que tecem esta rede. Alguns vêm lá de trás, de um tempo tão longe, que agora se faz perto pelas memórias "reacendidas". Outros tendem-se em direcção ao futuro, sabendo que vamos agarrá-los enquanto pudermos, enquanto quisermos. E, no entanto, o nosso presente é fluído e rápido na fuga dos dias vividos. E que força é esta que nos impele para a escrita esperando que alguém nos leia? Um escritor dizia noutro dia que "na origem da actividade da escrita há sempre um mal-estar que se quer partilhar com o mundo". Não sei bem se será só, nós por aqui também vamos partilhando as nossas alegrias, os nossos prazeres, os nossos gostos. Partilhamos, com quem nos lê, as nossas "almas" e o que por lá se vai passando, com quem passa.
Este é o post 400. Quatrocentos pedacinhos de nós que por aqui temos vindo a deixar. Quantos outros 400 conseguiremos partilhar?
Boa noite.

Desktop do PB

O PB aceitou também o desafio e partilhou connosco o desktop que já tem há vários anos... Mesmo assim continua muito arrumado! Afinal ter desktops arrumados e com imagens lindas é possível!

Obrigado PB por participar e muitos parabéns pelo seu trabalho que fui espreitar a partir da ligação da assinatura do mail.

Esta rua é minha!

Alguns sonhos distanciam-se de nós até nos esquecermos deles ou então não diminuem o seu tamanho mas tornam-se na sua impossibilidade de concretização sangue do nosso sangue, alimentando-o, à vez, de amargura e de doçura. Outros aproximam-se tanto de nós que à velocidade da luz estamos dentro deles.

Nem tive tempo de pensar bem e já estava na minha rua numa outra cidade. Quase tudo o que amamos no mundo pode estar dentro de uma rua. Acontece com esta, comigo acontece com esta. É uma rua que prolonga uma ponte e por baixo dela corre um rio belo. É uma rua onde o teatro vive pujante nas suas diversas formas de existência. Em todo o lado há bonecos e bonequinhas e monstros de espuma e papel e vidro. Os livros espreitam dentro dos cafés, quase todos têm livros nas estantes, livros usados que podemos tirar da prateleira e ler. Em todo o lado, o pó dos séculos aparece recheado de histórias, num convivio espantoso com o creme colorido dos gelados e as pessoas de todo o mundo. Há olhos de todas as formas e de todas cores e línguas que se misturam como se as fronteiras não fossem mais que riscos no papel dos mapas. A rua termina para dar lugar a uma praça muito bela, à qual regressarei mais e mais vezes para a ver a várias horas do dia, à hora certa de preferência. Esta rua nasce numa ponte e termina numa praça e faz das suas sombras a luz que me encanta.

Não sei exactamente como designar aqueles que teimam abordar os sonhos como se eles fossem sempre dessa certa possibilidade de existir, mas sei que isso me encanta, essa certeza que alguns conseguem trazer no olhar. Tu às vezes és assim, pareces tratar alguns sonhos como coisas que se podem comer e por isso vais direito a eles preso dessa vontade. Outros sonhos não te correm por dentro, talvez sejam sonhos não comestíveis.

Já eu desenho e desenho sonhos no papel dos dias e assim que um salta das duas dimensões para as três, eu olho para o caderno dos desenhos tentando conter a vontade do meu lápis dançar mais e mais. Quantas ruas como esta e sem ser esta terá o mundo?
~CC~

sábado, 7 de julho de 2007

Férias

Quando chega o primeiro dia de Julho começam as férias e as meninas apartam-se de nós. Quinze dias de praia em casa dos avós, depois de um ano de correria urbana.

Todos os dias ao princípio da noite relatam, ao telefone, as suas actividades estivais. É bom ouvi-las felizes por estarem na praia e por estarem com os avós. Eu não tive avós com quem pudesse estar, por isso, fico feliz por elas e com elas.

Quinze dias de quotidiano longe do nosso. À medida que o tempo passa instala-se um difuso sentimento de incompletude. O quarto vazio e arrumado todos os dias, o silêncio à mesa, a ausência de disputas para ver televisão ou por causa de um brinquedo ou de um livro.

Finalmente chega o fim-de-semana e tudo se reequilibra. Que bom estar com elas de novo. Que bom ouvi-las dizer que tiveram saudades. Que bom sentir de novo o seu cheiro e abraçá-las e beijá-las e olhá-las nos olhos num profundo e recíproco reconhecimento. Que bom existirmos assim.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Desktop do Jota


Chegou mais um desktop
Este é do Jota e, como podem ver, está muito bem arrumado...
Contou-nos que o fundo vai variando conforme a sua disposição e que a foto actual é de Steven Cook (http://www.alternity.co.uk/index.html)

Obrigado pela partilha Jota.

Releituras

Ainda era cedo, esta manhã, quando desci ao Chiado para tomar café. Não sei de que canto me soou a voz do Mário Viegas...

Rifão quotidiano

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

Mário Henrique Leiria, Novos Contos do Gin Tónico,
Estampa, 1999 (5ªed.), p.31

Desktop da Madalena....

A Madalena aceitou o nosso desafio e enviou a imagem do seu computador.
A profissão fica evidente...
E o gosto com que a desempenha, na minha opinião, também...
Obrigado pela partilha Madalena.

Doce leitura

Canto vigésimo segundo

Quando no outono
as árvores estavam nuas
uma tarde a nuvem de pássaros
exaustos
poisou sobre os ramos.
Pareciam ter regressado as folhas
baloiçando ao vento.


Tonino Guerra, O Mel, Assírio e Alvim, 2003, p.57

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Leituras


O desafio foi-nos lançado pelo Absorto e nós vamos tentar responder como podemos.
Cinco livros de que gostámos, de que estamos a gostar e que pensamos valer a pena sugerir. Mas é difícil escolher só cinco, ainda pensámos que como somos três poderíamos nomear quinze, mas isso talvez fosse batota...


1. Razão e Cultura - Ernest Gellner, (Teorema, 1992) - Um desafio divertido e sério de acutilante crítica, em que o autor tenta desmontar, como se fosse uma construção Lego, o edífico racionalista/positivista cujos alicerces foram lançados por Descartes. Neste livro ele questiona que a razão seja o exercício puro do pensamento individual, ao qual o indivíduo só chega se se libertar dos hábitos culturais do grupo, da comunidade, do colectivo, do peso da história. É esta uma das premissas Cartesianas que ele tenta elucidar contrariando-a. (Leitura em curso, para ver em que ficamos)

2. Le murmure des fantômes - Boris Cyrulnik, (Odile Jacob, 2003) - Li-o há uns anos por razões muito particulares da minha vida e dos que me rodeiam mais de perto e desde aí não consegui abandonar o trilho do trabalho deste autor. Neste livro ele conta-nos como "o fracasso do passado continua a murmurar na vida da criança que, entretanto tornada adulto, tece novos laços afectivos e sociais e como a apetência sexual na adolescência constitui um momento sensível na evolução do processo de reparação do Eu. Atitude nova face ao sofrimento psiquico, a resiliência propõe a construção desse processo de libertação". (Lido e relido algumas vezes)

3. O Teatro e o seu duplo - Antonin Artaud, (Fenda, 2006) - traduzido por Fiama Hasse Pais Brandão. Os males do mundo "lidos" por este louco visionário que de tão assertivo e lúcido ficou ainda mais louco. Quando a realidade se lhe tornou de tal modo pesada e insuportável pediu que o internassem numa "Casa Amarela". (Em processo de leitura alternada)

4. 90 e mais quatro poemas - Constantin Cavafy, (Centelha, 1986) - traduzido por Jorge de Sena. Um meu muito querido poeta grego. Este está na lista dos afectos e não sei muito bem falar dele, só senti-lo. Ele anda de mãos dadas com a Sofia. (Lido e relido nas horas mais escuras)

5. As mulheres do meu pai - José Eduardo Agualusa, (D.Quixote, 2007) - Está escrito na contracapa que se trata de "um romance sobre mulheres e magia. Nestas páginas anuncia-se o renascimento de África, continente afectado por problemas terríveis, mas abençoado pelo talento da música, o sempre renovado vigor das mulheres e o secreto poder de deuses antigos". É isto tudo, mas para mim está também a ser um desafio à discussão sobre o que é o amor e a fidelidade. O amor à beleza até se sucumbir de exausta paixão, pelas mulheres, pela música, pelo mundo. É a história de Faustino Manso e de uma das suas filhas que ele nunca conheceu, mas que teima em lhe seguir o rasto depois de morto. Um rasto que a leva até um passado fascinante e "faiscante". (Leitura em curso)
Já está!

Da próxima vez propomos o alargamento da lista. Pode ser? Boas leituras.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

"Rua da Judiaria"

A propósito das minhas traquinices de miúda cresci a ouvir esta frase: “És mesmo judia. Só sabes fazer judiarias”. Pelo tom em que era dita, sabia que devia ter feito algo de muito pior do que uma simples traquinice, mas não conhecia nem o significado, nem a origem da expressão.

Mais tarde, já no início da adolescência, período das nossas vidas que acompanha sempre o despertar para o mundo, soube da história da Europa e das sombras que a atravessaram naquela quase década entre 1939 e 1945 e lembro-me de me perguntar porque é que a minha mãe (católica mas sem muita convicção, e não me parece que fosse anti-semita), me mimaria com aquele epíteto. Afinal eles tinham sido perseguidos, tinham morrido, tinham sido vítimas e não carrascos e tudo aquilo tinha acontecido muito antes de eu nascer.

A escola democrática ajudou-me a rasgar horizontes e por ela fui descobrindo que, afinal, o povo judeu não tinha desaparecido da face da terra e que eu só conhecia uma parte da história.

O fio das descobertas foi-se desenrolando e, embora já não consiga (nem seja o meu propósito) desfiá-lo aqui, etapa por etapa, lembro-me que foi, primeiro através da televisão – com as séries sobre a Resistência (umas com mais humor, outras com menos) – depois do cinema – com Casablanca, Lili Marleen, O Porteiro da Noite, A Lista de Shindler, A Vida é Bela, só para nomear alguns – e mais tarde com os artistas, intelectuais e escritores – Catherine Clément (A Senhora), Richard Zimler, Amos Oz, Boris Cyrulnik, Arpad Szenes, Joshua Benoliel, Jorge Molder, Francisco José Viegas, Camilo Castelo Branco, Woody Allen, Lauren Bacall, Mel Brooks, Al Jolson, Simone Signoret, Jorge Luís Borges (só para citar alguns de memória) – que fui alargando o meu conhecimento sobre a questão judaica e ganhando a consciência de que ainda havia muito para saber.

Recentemente, levada pelos ventos da modernidade, dei comigo numa rua blogosférica e apeteceu-me passear por lá mais vezes para tentar saber mais.

Talvez um dia consiga compreender as razões da minha mãe…

terça-feira, 3 de julho de 2007

7 maravilhas da blogosfera

A 3za nomeou o nosso blogue. Muito obrigado, não sei é se merecemos!
Aqui ficam mais sete, por ordem alfabética...

ABSORTO
CAFÉ PRETO
DE RERUM NATURA
DOC LOG
O CONTADOR DE GAIVOTAS
ORSAI
VENTOS A MUDAR

O regulamento pode ser consultado fazendo clique na imagem e verifiquei agora que era só até 1 de Julho!

A brincadeira do João


Aí vai. Desde que não sirva para fazer extrapolações sobre o mau feitio ou as faces ocultas das personalidades dos "indígenas"...