terça-feira, 10 de julho de 2007

Cultura de supermercado (I)

Azedumes não costumam durar muito e muito menos irritação que me domine. Costumo rir-me da Política, faço-me espectadora e algumas coisas divertem-me simplesmente, pelo que não chego a indignar-me, a não ser que a coisa seja muito séria. A corrupção e o compadrio à Portuguesa causam-me perturbação, sou mesmo frontalmente contra este modo de aproximação do poder. E sou por vezes triste, chega até mim e cobre-me uma sombra, coisa da dor minha, dos próximos ou das dores do mundo.

Mas agora ando irritada. E finalmente alguém disse algo que encontra eco em mim. Cláudio Torres, em entrevista à revista Visão, disse o que eu penso: "eleição das novas 7 maravilhas do mundo é populismo barato, sem seriedade técnica ou científica". E fiquei contente por saber que a UNESCO se demarcou da iniciativa. Esta ilusão de que tudo se pode votar, desde os grandes portugueses até às sete maravilhas, não tem feito grande coisa pela cultura, pelo contrário, as coisas parecem mercadorias que se podem escolher como se estivessem na prateleira do supermercado.


E as sete maravilhas invadiram tudo, desde a publicidade até à blogosfera e já não as posso ver, apetecia-me pegar numa grande borracha e apagar esta forma como nos aproximamos das coisas que são importantes. É o mercado e o negócio a contaminar tudo, ignorando que "na história é mais longo o mito que o próprio objecto". Como diz Claúdio Torres " os jardins suspensos da Babilónia são agora os ninhos dos tanques americanos (no Iraque)". Eu tinha uma ideia para lhes dar: votem, por exemplo, nos maiores sete conflitos do mundo, nos mais sangrentos e a seguir recolham ideias sérias para a sua resolução. E, se possível, lancem mãos à obra sem ignorar a história...já agora leiam primeiro, embora isso seja coisa que demore tempo e não se possa votar através de sms de valor acrescentado, aliás corríamos o risco do fiasco financeiro, dada a previsão baixa do número de chamadas. Se têm dinheiro e poder, usem-no para fazer qualquer coisa significativa, deve haver outros modos de disseminar o verdadeiro património histórico da humanidade, o que precisa de protecção.


Acredito que existam outras visões da iniciativa "sete" que consigam evidenciar o seu lado bom, mas desta vez estou no lado não. E olhem que até tenho o culto do número sete.

~CC~

1 comentário:

Cristina Gomes da Silva disse...

Querida CC, também eu gosto do 7, acho-o elegante, com um digno porte, não sei. Mas estou completamente de acordo contigo. Sabes, acho que andamos a precisar de águas novas que nos purifiquem. Lembras-te da minha história do Palimpsesto? Pois é, acho que, se fosse possível, era muito bom que a humanidade toda pudesse reescrever-se. Deve haver qualquer coisa de bom que ainda não emergiu. Há um cansaço no ar, há máscaras demais, demasiados simulacros. Sem rumo irão os que não se renovarem e os que desistirem de pensar. Abraços apertadinhos.