quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Ainda as mudanças...

Não pensem que isto vai mudar de aspecto todos os dias...
A ~CC~ chamou a minha atenção para o facto de as linhas do caderno pautado (do modelo que esteve ontem) dificultarem a leitura... Bem sei que isto é um blogue que ninguém lê mas também não quero que estraguem a vista se tentarem.

Obrigado ~CC~

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Um ano depois....

Pois é, volta a ser 30 de Outubro...
Há um ano anunciava que passaríamos a ser 3 a escrever... A partir de hoje volto a estar só por aqui...
A ~CC~ podem continuar a ler acedendo à sua Ardósia azul. Quanto à Cristina, tenho a certeza que também continuará a escrever, como sempre fez, embora, por enquanto, não se saiba onde.
Já repararam que mudei um pouco o aspecto, espero que gostem!
Serão sempre bem-vindas, aqui onde ninguém nos lê...
O meu muito obrigado por este ano de partilha(s).

Um grande e forte abraço às duas.

Obras....

Este blogue está em obras....

Tentaremos ser breves, mas por agora.... a I. está com sono e tem direito a uma história....

Até já!

domingo, 28 de outubro de 2007

Museu do Ar, Alverca


A ideia foi do A. que, cada vez que ouvia a publicidade ao novo supermercado em Alverca, dizia: "Temos que ir lá um dia..." (ao museu, claro... supermercados há mais perto!)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Ubuntu


Há uns anos instalei um servidor Linux. Algum tempo depois instalei também o Linux no computador de casa e depois no portátil, mantendo o Windows instalado numa outra partição. Cada vez que ligava o computador decidia se acedia ao Windows ou ao Linux . Com a falta de espaço no disco rígido tive que fazer uma escolha e foi o Windows quem perdeu!

O Linux existe em várias distribuições e eu comecei por utilizar uma que se chama Redhat. Depois passei a utilizar o Fedora que era uma espécie de continuação do Redhat. Estava tudo bem até que troquei de portátil e, certamente por algum erro meu, todos os programas ficaram mais lentos do que deviam...

Um utilizador experiente procuraria o/os serviços que estavam a consumir recursos desnecessário e desligava-os. Eu, depois de tentar fazer isso sem sucesso, decidi voltar a instalar o sistema operativo. Foi aí que pensei: porque não mudar? Será que nos habituamos a uma marca ou produto e por inércia nem tentamos outro ao mesmo preço?

Descarreguei e instalei a última versão do ubuntu e, até agora, entende-se muito melhor com o portátil que o seu primo Fedora.

Se tiveram paciência de ler tudo isto, desculpem... Não quero convencer ninguém a utilizar Linux... O que queria mesmo dizer é que adoro o logótipo do ubunto!

Ideia simples, como todas as boas ideias, que consegue transmitir muita coisa.
Parabéns ubuntu e... aguenta-te, não quero ter que experimentar outro para já!

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Caminhos e Ardósias

Há quase um ano este espaço passou de individual a colectivo. Agora chegou a hora de percorrer o caminho inverso. A ~CC~ sentiu vontade de ter uma Ardósia azul onde escrever as suas histórias de Almar e outros pensamentos. Quanto à Cristina, embora se tenha despedido por agora, tenho a certeza que em breve também terá um espaço, só seu ou com outras pessoas, onde partilhe as músicas e poemas que a fizeram assim.

Por mim, foi um privilégio poder conviver com vocês as duas também aqui virtualmente. Se ficassem mais tempo teríamos que alterar o nome deste espaço, a que já me vou habituando... Assim prometo ficar por aqui mais algum tempo e esforçar-me para que o nome volte realmente fazer sentido. Até porque, na minha opinião, vale sempre a pena dizer aquilo que se pensa, mesmo que ninguém leia ou faça caso!

Voltem sempre, a casa continua vossa!

Web 2.0



vi isto na Praia!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O primeiro jornal



Guardo dentro de mim alguns nomes por muito tempo como guardo pessoas por toda a minha vida. São nomes de projectos que foram apenas um esboço, um horizonte, um risco numa folha de papel de mesa de restaurante.


Ardósia foi um jornal que sonhei e concretizei apenas o primeiro número experimental, era um número de apresentação do que se pensava fazer, mas gosto dele até hoje. Do número experimental e do nome. Juntei-lhe agora azul e arranjei-lhe espaço neste mundo virtual. Já nada tem a ver com o projecto que era, agora é apenas um lugar para a identidade se poder espalhar na escrita, se poder misturar com o mundo, se poder fazer espelho.


Uma casa que imagino fechada mas cuja janela se abre para o crepúsculo.


~CC~

domingo, 21 de outubro de 2007

Dúvidas à consideração de vossas excelências (I)

Vossas excelências, pode nem parecer, mas gosto de políticos. E gosto de os ver sorrir como agora ao assinarem um tratado. E há uma boa razão para se sorrir, o tratado tem um nome bonito: Lisboa! Parece que o rio corre quando lhe dizemos o nome e o sol vem logo enfeitar a paisagem das colinas.

Mas vossas excelências deviam explicar-nos as outras razões que vos levam a sorrir. Pois, também disseram que foi porque se saiu de um impasse de 7 anos, mas como há guerras que duram há mais tempo e ditaduras ainda mais velhas do que as guerras, não percebemos muito bem tanto contentamento. É verdade, há também o prazer da assinatura em conjunto e o consenso tem sempre algo de comovente. Depois procurei perceber mais...e parece que há 10 mudanças realmente importantes que fundamentam o sorriso.

Uma delas é que"Do Tratado emerge a figura do Presidente do Conselho Europeu. Este cargo será eleito por dois anos e meio e pode ser renovado uma vez. Segundo o actual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, a importância deste novo cargo prende-se com o seu papel de «dar continuidade aos esforços das presidências» rotativas dos 27, que continuam com a duração de seis meses" (1)

O conceito de mudança, vossas excelências, pensava estar associado a ideias, rumos, desenhos ou mesmo sonhos...isto para a Europa, claro! Mas isto não passa de uma pequena dúvida ou de uma falta de clarificação de conceitos, que logo estará resolvida na leitura das outras 9 mudanças. Espero ainda poder sonhar.
~CC~

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Bom fim-de-semana

O primeiro blogue

O primeiro beijo até pode não ter sido especialmente bom, mas será sempre o primeiro a habitar a memória dos beijos. Recordo-o com clareza, com luz. Essa mesma luz habitará sempre o modo como me lembrarei deste primeiro blogue e a companhia dos que nele escreveram para ninguém ler. Eu escrevi pelo gosto da escrita, qualquer que seja o valor que ela tenha, mesmo pequeno, é lá que eu entro e isso chega-me. E a partilha do que temos é qualquer coisa que sempre fez parte do meu roteiro pelo mundo, pelo que não me chega escrever num caderno lá em casa, gosto de partilhar o que escrevo. É apenas isso e nunca foi outra coisa, às vezes somos habitados por desejos simples. O meu desejo de escrever num blogue tem a clareza da água. Oxalá tudo dentro de mim fosse assim como este desejo.

~CC~

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Parece que foi ontem....

E no entanto, já tem 8 anos!

Até qualquer dia!

"Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar."

António Machado

O teatro da vida



Na unidade de neonatologia do hospital vejo-os e vejo-as sem bata branca, vestem-se de várias cores mas sobretudo de verde por ser cor da esperança, vestem-se para lutar contra a morte porque essa é a vida deles. E se ela chegar, vão talvez imaginar como no teatro andamento, que é uma flor, talvez seja esse o melhor modo de lutar contra a dor. Deve valer bem a pena perceber o que sentem através do teatro(Parabéns Joaquim!).

Julgava que as mãos dos pianistas eram as mais perfeitas do mundo até ver as mãos destes enfermeiros tocarem nestes bebés prematuros, que nasceram entre 20 a 30 semanas, é arte o que fazem com os dedos, mas sem dúvida maior ainda o que podem fazer com o coração. E esse varia, mas há quem o abra num sorriso para dizer: aumentou 40g, é muito bom!

Sorrimos também, é claro!

~CC~

quarta-feira, 17 de outubro de 2007


Veja mais informações em: http://www.pobrezazero.org/levantate

Nota: faz isso hoje, dia 17 de Outubro, e todos os dias em que te seja possível e/ou faz dessa possibilidade de te fazeres ouvir um acordar todos os dias.
~CC~

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Fazer ouvir

Luanda, Setembro 2007

Pois é João...e há outros dias em que nos devemos fazer ouvir!

Amanhã é um deles!
~CC~

Oportunidades!


Há dias em que perdemos óptimas oportunidades....
....de ficar calados!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Manhãs quase madrugadas




Manhã de Pesca.
Benguela, Setembro de 2007.
~CC~

Seguros?

A denúncia social e política raramente consegue fugir ao tom panfletário e à simplicidade dos seus chavões, costumo evitá-la cuidadosamente e tecer outros laços para as minhas lutas. Não sei de coisas simples neste mundo complexo e por isso assustam-me as palavras que ecoam definitivas no seu julgamento. A palavra capitalismo é uma delas, parece abafar o mundo mas não lhe conhecemos nem os contornos nem as fugas.

Às vezes fico hesitante a olhar o objecto desta ou daquela campanha, o tom inflamado deste ou daquele blogue ou os combates que assumem tanto mediatismo que parecem ser mais importantes do que aquilo que defendem (como o filme do Al Gore).

Mas desta vez quase não posso evitar denunciar o modo como as Seguradoras se tornaram mais e mais agressivas nos últimos tempos, praticando actos desumanos com a maior das impunidades. Tenho histórias complicadas com elas e de cada vez que nos cruzamos, conseguem fazer pior do que na vez anterior. A segurança costumava ser uma palavra que combinava com conforto e estabilidade e para isso muitos de nós estavam dispostos a pagar, mas ultimamente quanto mais precisamos deles, menos eles lá estão.

Leio no Jornal Público que no último filme de Michael Moore (Sicko), é contada a história de um homem que "ficou sem as cabeças de dois dedos num acidente com serra eléctrica e teve que escolher, por imposição da seguradora, qual deles queria ver reconstituído, porque dois era demais". Muito se tem dito sobre os métodos de denúncia de Michael Moore, nomeadamente sobre o modo como manipula a informação. Mas nesta matéria eu acredito no filme dele.

Em Angola, em situação de urgência médica, dei entrada numa clínica e fiquei logo internada por risco de astenia e desidratação. Procurámos, às 3 da manhã, a clínica mais perto do local onde estava e com boa reputação, sabendo nós que havia um seguro de viagem. Mal entrei e aquela hora imprópria mas também reveladora do susto em que estavámos, a minha colega ligou para a seguradora. A seguradora disse duas coisas importantes : a) que a minha colega tinha que se vir embora e deixar-me lá porque o seguro não cobria um acompanhante (ainda hoje temos dúvidas que assim seja, mas não há dúvida que foi a coisa oportuna para se dizer); que aquela não era a clínica indicada, não tinham acordo.

A L, não só colega mas também amiga e um ser humano exemplar disse-lhes que nunca deixaria uma colega doente sozinha no estrangeiro. Ouvi-a depois várias vezes dizer a palavra nunca bem alto, quase gritar-lhes, logo ela que é tão calma. Imagino o resto dos diálogos. E ainda hoje me interrogo sobre que seres humanos aceitam este trabalho, pois por mais que a vida custe, há profissões que, parecendo menos dignas, o são mais. Mas sobretudo interrogo-me sobre os proprietários destas mega-empresas de seguros e sobre o modo como perderam de todo o seu sentido de missão. Alguém lhes devia dizer nunca bem alto todos os dias.
~CC~

domingo, 14 de outubro de 2007

No tempo em que...

... as portas se fechavam com uma corda...

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Bom fim-de-semana

Guarda Rios e Estuários (XVII)

JOGO ALMAR

A- Diz-me o que queres ser quando fores grande?
B- Uma onda pequenina de espuma. E tu?
A - Um vidro tão transparente que pareça água. E tu?
C - Um ribeiro que nunca pare de correr. E tu?
A- Quero ser também uma nuvem sempre branca, sempre à espreita, sem chover.
B - E eu quero agarrar o vento que não se deixa agarrar.
C - Eu quero sempre querer.

E tu?

~CC~

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

PowerPoint....

Muitas vezes se associa o PowerPoint a metodologias expositivas em que a tecnologia não traz verdadeiramente nada de novo servindo apenas para fazer mais do mesmo...
No entanto, nem sempre é assim! A Prof. Teresa deixou hoje uma nota no seu blogue que mostra bem como esta ferramenta pode também ser utilizada pelos alunos, passando estes a ser muito mais que espectadores de lindas apresentações feitas pelos professores!

Parabéns Teresa,
um grande abraço!

Aula de economia segundo Gainsbourg



Afinal quanto pagava Gainsbourg ao estado?
Aqui está ele a mostrar, ao comum dos mortais, quanto é 74%! E, segundo ele, nem é para dar aos pobres... é para o nuclear e coisas dessas!
Pelo menos essa podia ter dado a alguém que não estivesse no mesmo escalão!

Guarda-rios e estuários (XVI)



A mulher dos olhos cor de violeta casou-se num dia sem chuva. E a nascente escolhida também não tinha água abundante. Para um povo tão ligado à água como era o meu povo Almar, não foi um bom presságio.

Quando ela passeava com o marido ao lado (sempre com ele) baixava os seus olhos belos e densos, enquanto ele olhava frontalmente todos os que com eles se cruzavam. Os olhos do homem, mesmo sendo Almar, não eram olhos tranquilos, estavam tão cheios de amor como de medo. Um dia, disse a um dos rapazes mais bonitos de Almar, que não se atrevesse a olhar para a mulher dele. Ela não mais saiu sozinha e ele vagueava sem poisar em lugar nenhum. Até que um dia ela não saiu mais da tenda, nunca mais a vimos. Se alguém perguntava por ela, ele dizia apenas: está bem.

Num lugar feito de laços tão fortes, a ausência deles era como uma nuvem negra a pairar no azul. Quando o homem deixou de aparecer até para guardar o curso do afluente que lhe estava destinado a pares com outro homem Almar, foram à procura dele dentro da tenda.

Ele estava deitado num canto e tossia, ao lado uma chavéna de chá de ervas. O resto da tenda estava vazio, não havia sombra da mulher dos olhos cor de violeta. Perguntaram-lhe por ela e ele disse apenas: foi vender os panos à feira, não tarda está de volta.

Compreendemos todos, até eu que era uma criança, que ela não mais voltaria. Não se deve prender os passáros, quanto mais uma mulher com olhos cor de violeta. Não se devem prender os ventos, quanto mais as pessoas.


~CC~

Solidariedade

O espectáculo pode ser intermitente, a vida não!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Continente de afecto



Há na minha família, que alguns dos meus colegas psicólogos chamariam disfuncional por ser um arquipélago de afectos em vez de uma estrutura hierárquica de poder, um amor constantemente posto à prova. A vida tem colocado pedra sobre pedra em cada um dos nossos caminhos ou mesmo no trilho comum. Por vezes achamos que poderemos repousar, mas nunca é assim, há sempre qualquer luta a travar. E de cada vez que isso acontece, este amor sai renovado, reforçado, sempre maior e diferente, acompanhando o crescimento de cada um de nós. É por vezes um amor conflitual, o que lhe dá a a textura das coisas reais e o afasta do perfume etéreo de certas famílias perfeitas. No entanto é, na sua imperfeição, a minha família perfeita.


Ontem a irmã mais nova, uma sobrevivente, cuja gravidez de alto risco escondia uma luta pela sua própria vida uns anos antes, conseguiu aumentar a minha família com a gente mais pequena que alguma vez vi: um menino com apenas 673g, menos peso que um pacote de leite. Impressiona a sua imagem de fragilidade, mas a minha filha, a segunda a vê-lo por se ter intitulado com toda a sua esperteza como mana dele, disse apenas: é tão bonito! E aquela alegria dela fez brilhar mais os olhos da minha irmã.

Na Indía nasceu a mais velha cujo aniversário se comemora hoje, trouxe para sempre com ela a pimenta e a canela e com elas na pele tem enchido a nossa vida. Nunca se deve deixar de dizer a alguém o quanto é importante para nós, mesmo que essa pessoa já o saiba, é isso que faço agora.

Todos os outros são únicos em beleza e singularidade, mas hoje escolho estas duas para exprimir o meu amor. Se mais não houvesse, já me servia para isto este "ninguém lê".

~CC~

1 de Julho de 1867


Abolimos a pena de morte há 140 anos. Fomos pioneiros.




Decretámos a abolição da pena de morte mas ainda não conseguimos decretar a morte das nossas penas.












Foto retirada
daqui.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Medieval helpdesk

9 de Outubro de 2003


Há quatro anos atrás entrou na minha vida uma luz renovada, pequenina, intensa e brilhante. A alegria reencontrada de ser mãe pela segunda vez. Dores renovadas de parir e o prazer de cheirar aquele cheiro interior. Íntimo. Único. Um calor húmido e diferente de tudo.
Nada é comparável a estas vivências, a esta intensidade, a este desafio. Que bom elas existirem na minha vida. Ramos de árvore apontados para o céu.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Guarda-rios e estuários (XV)



Vivia em Almar uma mulher de olhos cor de violeta. Diziam que tinha nascido de uma ligação entre um homem Almar e a sereia que vinha deitar-se na língua de areia do estuário. Por ser essa a sua origem, a cor dos seus olhos não era de pessoa, nem de bicho.


Era uma mulher linda e muito calada, diferente de todas as mulheres Almar que de tudo sabiam fazer e cuidar. Cresceu passeando o seu silêncio entre as tendas, os tapetes de cores, e os cantares de festa, num mistério crescente.

Quando se tornou rapariga deixou a tenda dos pais adoptivos onde vivia e foi para a tenda das mulheres. Era essa a prática comum por volta dos 18 anos. Na tenda das mulheres viviam solteiras, separadas, viúvas, viviam todas as mulheres que queriam estar em conjunto, fora da casa dos seus pais ou que por razões diversas não queriam ou não podiam ter em permanência uma tenda de matrimónio. As tendas de matrimónio eram tendas de amor, quase sempre de um amor duradouro que unia duas pessoas num abraço eterno, mas houve também tendas de amor fugaz, luzes que se acenderam como se fossem um pirilampo. Era aceite tudo o que era ou se tornava da claridade da água das fontes.

A tenda das mulheres era um lugar de aprendizagem quase completa do que significa a democracia na vida de todos os dias. Gostava de lá ir em pequena para beber chá e provar as muitas variedades de doces que sabiam fazer, sonhava um dia lá morar (mas Almar morreu antes de eu me tornar mulher).

Quando a mulher dos olhos cor de violeta foi morar para a tenda, quase aprendeu a sorrir. E já ia dizendo algumas palavras simples, como se só tivesse ontem deixado a infância e aprendido a falar. Por vezes, nos dias de festa, ela parecia quase feliz. Nesses dias eu via, ainda com os meus olhos de menina, que os homens Almar olhavam muito para ela.

Não demorou muito até se ouvir dizer que se ia casar e que já tinham escolhido a nascente do rio onde ia acontecer. Não sei porquê, ainda tão pequena que eu era, e fiquei triste com aquela notícia. Provavelmente deixaria de a ver nos seus gestos silenciosos a mexer com a colher de pau o doce de amoras silvestres, se calhar era apenas isso que me deixava triste. Era apenas isso, muito provavelmente.

(continua...)

~CC~

domingo, 7 de outubro de 2007

revolução




Vinha falar de uma revolução que acontece hoje mas de repente lembro-me que ela não é uma revolução dos outros, é só minha. A Revolução de 7 de Outubro não vem no calendário comum.

Se descremos do amor porque ele se descruza de nós adoecido por cem mil pesos que lhe tiram a vida, achamos que nunca mais lhe prestaremos a mesma homenagem, que só haverá amores pequenos, mansos e domesticáveis. Mas no íntimo não desejamos outra coisa que seja não termos razão. E um dia apanhamos em força um vento que passa perto do mar, no dia seguinte o coração já sabe a sal e nos seguintes olhamos para o nosso corpo espantados por ele não se ter esquecido como pode ser festa.

É espantoso o quanto se pode renascer quando a crença volta.
~CC~

Palmela

Bom domingo

sábado, 6 de outubro de 2007

Filmes que me tocaram...



Fala com ela, Pedro Almodóvar (2002).

Cada um vê um filme ou lê um livro à sua maneira. Compreendemos algumas das mensagens do realizador ou escritor, não percebemos outras e, acredito que, algumas vezes, até recebemos mensagens que não estavam a pensar passar.

Neste filme, de entre todas as mensagens, a que mais me tocou é a da amizade que se cria entre duas das personagens. Quando todos nos julgam, por actos que todos reprovam, os amigos são os únicos a conseguir ver a nossa perspectiva. Não interessa se são amigos recentes ou de sempre. Os verdadeiros virão nas horas más, porque é nessas horas que precisamos deles, e dirão: Posso não concordar, posso não compreender, mas estou aqui para te dizer que não estás só!

Castelo de Palmela

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Mudam-se os tempos...

5 de Outubro de 1910. Daqui por três anos festejaremos (alguns) os cem anos da vitória da República em Portugal. Cheguei agora aqui à virtualidade quotidiana para postar "um Youtube" de um outro filme que tanto gosto que me acompanhe e dei comigo a fazer comparações. Talvez porque a célebre frase do Príncipe de Salina - "É preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma" - me tenha surgido ao fim da tarde quando pensei que dia era hoje e que significado ainda conseguiríamos atribuir-lhe.

Vamos reflectindo, e entretanto dancemos a Valsa...



quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Senso*, Bruckner e Alida Vali



Bruckner Symphoney 7 - pt.3


Alida Vali é o rosto desta música. Estou certa de que sem ela estes sons não soariam da mesma forma.

*de Luchino Visconti

PS: JVT, foi só porque pediste muito :)

Américo!

aqui falei da minha passagem pelos Bombeiros. Durante um ano estive ligado à Associação Humanitária dos Bombeiros cá da terra. Foi um ano terrível de trabalho, cheio de desafios profissionais mais uma reunião semanal na Associação que se estendia invariavelmente até às duas da manhã.

Mas foi essa experiência que me levou a conhecer algumas pessoas excepcionais. No dia em que a minha mulher teve um acidente de viação fiquei aliviado quando, pelo telefone, soube que chegariam ao local em poucos minutos. Tinha a certeza que, mesmo estando ainda bastante distante, a partir desse momento, a acidentada não poderia estar em melhores mãos.

Foi também nesse ano, e nesse âmbito, que me envolvi num dos projectos mais aliciantes da minha carreira de professor: a reformulação da página da associação.

O Américo foi sem dúvida uma das pessoas pelas quais valeu a pena a experiência e todas as horas passadas no quartel. Tendo algumas limitações físicas, que lhe dificultam bastante os movimentos e a comunicação oral, tem no entanto qualidades -como a competência técnica, a organização, o espírito de iniciativa, a frontalidade e mesmo o sentido de humor- que fariam dele o funcionário que não hesitaria em contratar para exercer funções na área da informática de qualquer empresa onde tivesse poder de decisão. Além da página da Associação, que lançou por iniciativa própria e lhe valeu um voto de felicitação e reconhecimento aprovado por aclamação, numa Assembleia Geral em 1999, o Américo tinha também desenvolvido um conjunto de aplicações que permitiam já na altura a informatização de grande parte do quartel e que foram mesmo adoptadas por outras corporações. O único defeito, digno de registo, que lhe encontrei foi ser Sportinguista, mas ninguém pode ser perfeito!

Estando ligado ao ensino das tecnologias pensei que uma área em que poderia colaborar seria na reformulação do site, aproveitando as capacidades do Américo. Com a sua colaboração poderíamos passar de uma página estática em HTML para um portal dinâmico com um backoffice que permitisse uma rápida e eficaz gestão de conteúdos. Tal projecto só faria sentido, como disse, em colaboração e com a forte participação do Américo. Por sorte minha entusiasmou-se desde o início com a ideia. A página seria programada em ASP (desculpem a linguagem um pouco técnica) e toda a informação guardada em bases de dados. Seriam desenvolvidas duas zonas: uma visível e outra, protegida por palavra-passe, a que só teriam acesso os colaboradores para editar os conteúdos. Se tudo corresse bem, no fim do projecto, além da página o Américo estaria apto a começar a desenhar outras aplicações, utilizando a mesma tecnologia, para gerir a vida do quartel e substituir as aplicações que tinha programado em Clipper há mais de uma década.

Em poucas semanas, o excelente aluno, dominava a nova linguagem de programação bastante bem! Encontrava soluções engenhosas para os problemas que se nos iam deparando e o projecto seguia a um ritmo que, inicialmente, nem imaginava possível.

Da direcção da Associação fazia ainda parte uma colega licenciada em Direito, mas com uma veia jornalística muito forte, que se juntou ao projecto assumindo o papel de editora e produtora de conteúdos. A sua participação foi fundamental, assim como a de uma vasta equipa de colaboradores, na sua maioria bombeiros ou pessoas muito ligadas à associação, que a editora conseguiu mobilizar e que contribuiram com textos, fotos e crónicas regulares. A parte técnica, que eu e o Américo podíamos resolver era apenas um dos factores a ter em conta para o sucesso do projecto. A vasta equipa de colaboradores e o papel da Editora foram fundamentais.

O resultado foi um site que, no panorama dos bombeiros nacionais, serviu de inspiração a outras corporações e uma revista da especialidade analisou e classificou muito bem, não apontando nenhum aspecto a melhorar.

Este resultado, na minha opinião, foi conseguido pelo trabalho em equipa e pelo empenho e profissionalismo do webmaster Américo!

Infelizmente não me é possível deixar aqui a ligação para o site porque a actual direcção, por motivos que desconheço, resolveu abandonar o projecto com o qual sempre me mantive disposto a colaborar. Ontem à noite, via MSN, o "Gatão Verde" (nick do Américo) dizia-me que o Benfica perdia 1-0 e, mesmo não sendo eu muito benfiquista, não pude deixar de me lembrar da falta que me faz passar pelo quartel e ter dois dedos de conversa com alguém de quem queria ser professor e que acabou por me ensinar tanta coisa!

Um abraço Américo e a promessa de uma visita para breve!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Tecnologias no tribunal e na escola

Hoje estive num tribunal, no litoral alentejano, para assistir a uma audiência em que era parte interessada. O assunto pouco interessa, assim como também não interessa o motivo pelo qual a audiência acabou por não se realizar. Do que queria aqui falar era das testemunhas ouvidas por vídeo-conferência. Bem sei que não será novidade para muitos mas para mim, pouco habituado a pisar tribunais, foi uma surpresa saber que todas as testemunhas que residem longe do tribunal são convocadas para serem ouvidas por vídeo-conferência tendo apenas que se deslocar ao tribunal da sua área de residência. Não é a testemunha que pede, ou melhor... apenas terá que informar o tribunal no caso de preferir ser ouvida presencialmente. Mas, a primeira opção é a utilização da tecnologia.

Não pude deixar de pensar na utilização da tecnologia na educação. Pensei num artigo que li recentemente onde criticavam a introdução de tecnologias na escola e o fascínio que, alegadamente, alguns professores sentem pela sua utilização pensando, segundo o autor, que as tecnologias resolvem todos os problemas da educação. Felizmente não estou nesse grupo, mas também não estou no grupo daqueles que culpam as calculadoras pela falta de capacidades de cálculo mental dos alunos. As tecnologias não vão certamente resolver os problemas da educação, como também não vão resolver os problemas dos tribunais, mas acredito que vão continuar entrar nas escolas como entram nos tribunais, nos supermercados, nos hospitais e nas universidades.

Será necessário pensar, e temos ainda um longo caminho a percorrer, na melhor maneira de as utilizar, mas serão os professores que melhor as conheçam e dominem que estarão em posição para decidir quando dar uma aula com sólidos imaginários ou quadros interactivos...

Guarda-rios e estuários (XIV)



Na escola aprendi como eram os outros, os que não eram Almar. No desenho branco no quadro preto a professora escreveu país e ensinou-nos que a bandeira e o hino eram os símbolos de um amor que não conseguia sentir. Amar um país era estranho para mim, pois tudo o que amava vivia dentro das pessoas com o sangue cor de água. Amava o que tinha voz, corpo e cheiro. Depois com a adolescência e a lenta agonia do povo Almar, via nessa bandeira a possibilidade de ser finalmente igual a toda a gente, de diluir com outra tinta a tatuagem que ainda emergia da minha pele, tinha ódio dessa marca que me fazia sentir como uma peça de gado.

Cresci confusa como é próprio de quem tem raízes múltiplas e perguntei-me vezes sem conta que pátria era a minha. E quando já tinha perdido a esperança em qualquer bandeira e desaprendido todos os hinos, a resposta chegou. A nossa Pátria é o lugar onde nos abraçam.


Não, não é um abraço qualquer. É um abraço sem medo do corpo do outro, um peito enconstado ao nosso, uma face a raspar a outra, o respirar do outro no nosso respirar. E desenvolvi uma fórmula química simples: quanto mais abraços, mais pátria.

~CC~

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Terra Conterrânea III

Agora que recuperei pelo meu próprio olhar o lugar em que nasci, sinto que vivi uma só vez, que não sou simulacro, nem sombra.

É verdade que Cibele foi logo o nome pelo qual me chamaram, ainda que como sempre me tenha apresentado com os dois e o primeiro seja o que o ritual impõe. Mas só mais tarde, quase já na partida, chegou o abraço que esperei desde o início e a palavra doce: conterrânea!

~CC~

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ces Gens La

Boa sorte/Good Luck

Música(s)

Luanda, Setembro de 2007



Não pode haver um dia da música embora seja este. Seja...pela música.



Olha para mim Jacinta, de olhar azul e convexo, recordando poesia de Zeca Afonso, último CD que chegou quando eu cheguei, veio pelas mãos do meu amor pequeno que está cada dia maior. Oiço-o muitas vezes, é sempre o que faço quando chega algo novo, não consigo ouvir da primeira, nem da segunda vez, acho que só à terceira o som se torna familiar e a escuta se torna plena.


Passaram dias mas quando adormeço ainda mergulho na rua da India, na minha infância sem música num país tão cheio dela, lembro sobretudo o silêncio, foi o silêncio que me formou. E talvez mesmo sonhando, achava que ouvia as plantas a crescer no meu quintal e os bichos a moverem-se por cima e por baixo da terra. Trouxe até à adolescência apenas música da natureza.


Depois os rapazes que eu amei foram sempre tocadores, arquitectos de sons nas noites de casa comum, perto das fogueiras da adolescência e depois adultos junto às lareiras no recato das salas ou com lampejos de luar Quase incapaz de se lhes comparar em ouvido e mestria, habituei-me a trautear baixinho, rendida ao seu saber, receosa de dizer alguma coisa fora de tom.


Só tarde conquistei autonomia de ouvido, me tornei capaz de comprar por mim mesma e de arriscar o desconhecido. E muito mais tarde ainda abandonei o meu corpo na dança com outro e senti que isso tornou a música ainda maior, para o fazer foi preciso esquecer-me que não era capaz. Por este andar, qualquer dia canto alto.


Quero eu dizer, podemos crescer em quase tudo, também no modo de amar a música.

~CC~