sexta-feira, 30 de março de 2007

Solidão do avesso



Imagina que levas os meus olhos a passear. Serias capaz de me contar o mundo a partir deles?
~CC~

quinta-feira, 29 de março de 2007

em busca do riso

Não sei se ainda vou a tempo mas desejo que sim. E se não, fica aqui o elogio dos lugares onde podemos ir em busca do riso, em busca de histórias. Pois se não tivesse uma criança, pedia uma a um amigo qualquer, assim emprestada para levar comigo. Assim vou contigo, isto se tu quiseres vir comigo, o que ainda é provável.
~CC~



"À Descoberta do Jazz
Descobrir a Música na Gulbenkian
Ateliers / Mais novos
De 19/03/2007 a 31/03/2007
6 aos 12 anos
10h00 (19 e 20 de Março às 15h00)
Sede da Fundação Calouste Gulbenkian

No Mundo do Jazz
CONCEPÇÃO E ORIENTAÇÃO: João Falcato
Quando, como e porque é que nasceu o Jazz? Quais a principais diferenças entre a música erudita e
o jazz e quais as ligações entre ambos? Vem descobrir as origens, o crescimento e a multiplicidade
de cruzamentos que o jazz evoca. Vem ouvir e cantar um pouco de jazz."

Resistência

Há dias em que o abismo parece abeirar-se de nós a qualquer momento com a sua sombra sorrateira quase a sorrir-nos. E nem sabemos como nem onde vamos buscar a energia para lhe fugir e até lhe fazer uma careta: deitar-lhe a língua de fora!
~CC~

terça-feira, 27 de março de 2007

O farol...

Porque se suicidou Benergie...

Tinha uns 19 anos e estava no 2º ano da Universidade. O desafio de aprender teatro e levar à cena uma peça, sob a orientação de um encenador profissional - Luís Varela - foi aceite por um grupo de estudantes e professores universitários entre os quais me encontrava. Com eles, passei alguns serões a ensaiar a peça: "Porque se suicidou Benergie" e aprendi tanto ou mais que em algumas das cadeiras que frequentava durante o dia. A foto aqui ao lado prova muito mais que a minha participação. Há poucos dias, o Casimiro, que tratava das luzes e do som, disse-me, no msn: "tenho aqui umas fotos da peça que te vou mandar...". E, para mim, isso é realmente importante: de vez em quando ainda se reavivam memórias com pessoas que conheci na minha curta passagem pelo fantástico mundo do teatro!

Ainda o Teatro...

Palavras sábias que sublinho...

(...)"Como é grande, hoje em dia, a necessidade de rejeitar todas as guerras absurdas, em todas as suas formas, e as divergências dogmáticas que atiçam, na ausência dum travão moral duma consciência viva, o espectáculo das violências e dos assassinatos cegos que estão à beira de submergir o planeta inteiro, com o seu cortejo de grandes desigualdades entre uma riqueza excessiva e uma miséria negra, entre as partes do mundo sinistradas por epidemias endémicas, ou por combater os problemas da desertificação e da seca! Tudo isto se passa na ausência dum diálogo autêntico entre nós para fazer deste mundo em que todos vivemos, um lugar melhor.
Amigos do teatro, desencadeou-se uma tempestade sobre o nosso planeta pela violência dum turbilhão feito de desconfiança e suspeita e ela ameaça impedir-nos de ter uma visão clara das coisas. As nossas vozes estão sufocadas e não chegam aos ouvidos de cada um por causa da violência do tumulto que se ergue à nossa volta e da divisão dos povos. Esta tempestade arrisca desviar-nos para nos afastar uns dos outros, não fora o papel do teatro fundado essencialmente sobre o diálogo. Devemos portanto opor-nos àqueles que fazem soar as trombetas para desencadear estas tempestades, não para os destruir, mas para nos afastar dessas atmosferas poluídas e para consagrar os nossos esforços, pela comunicação, no estabelecimento de relações de amizade com aqueles que preconizam a fraternidade entre os povos.
Nós somos, enquanto seres humanos, votados ao desaparecimento, enquanto o teatro perdurará enquanto houver vida.

Mohammed Al Qasimi,
Sultão e membro do Conselho Supremo dos Emiratos Árabes Unidos e governador de Sharjah

E as tuas João...(que infelizmente não encontro na versão original, na mensagem por ti dita)

O Teatro «é o local por excelência onde a democracia habita» e é também movimento, viagem, aventura, na definição do encenador João Mota inscrita na mensagem do Dia Mundial do Teatro, que se assinala terça-feira.

Aos homens e às mulheres do Teatro acredita João Mota que compete a missão de «alertar para o vazio continuado de falta de amor», de pegar «em armas» e de dizer «Não a esta barbárie».

http://diariodigital.sapo.pt/

~CC~

Faz de conta...



É bom passar no átrio hoje.
"Fazer de conta" é alguma coisa de muito, muito primordial e curiosamente transversal a todas as culturas. Felizmente também que em cada cultura os contornos são singulares. Há coisas que nunca vi e gostaria muito, nomeadamente a forma como a arte toma forma nas culturas orientais. Entre numa pequena percentagem e aumente-a: a dos portugueses que vão ao teatro.
~CC~

Feliz primavera

segunda-feira, 26 de março de 2007

Amor

VÉU PINTADO

Há histórias de amor que começam como uma história de desamor. Há encontros que são improváveis e acontecem quando já se perdeu quase tudo o que de decente resta entre um ser humano e outro. Há pessoas que vão para lugares muito distantes apenas à procura de si próprias. Há uma mulher em busca das palavras do amor que as encontra onde o amor não existe e onde o amor existe ela só encontra silêncio. A possibilidade de morrer a qualquer momento leva as pessoas até à essência das coisas e mais nuas elas conseguem descobrir-se como antes nunca se tinham visto, usavam muita roupa. E não há verde, não há água, não há rostos como os da China. E nascem crianças à memória do amor, para que dele fique um registo maior que o pensamento. Cada amor nos ensina coisas novas sobre o que o amor é.
Alguns filmes são janelas para dentro de mim.


Estará provavel/num cinema aí por perto. Também poderás ler o livro de Somerset Maugham, caso a leitura seja para ti um acto de maior prazer. Mas olha que as imagens são muito bonitas e tocantes. E sempre poderás fazer parte da média de espectadores que vai ao cinema 3 vezes por ano em vez do que em média passa 3 horas por dia a ver televisão.
~CC~

Le fusil rouillé

Em 1938 nasceu, em Constantina, na Argélia, aquele que viria a ser o cantor preferido de minha mãe. Cresci a ouvir alguns dos seu discos e sobretudo a minha mãe e as minhas irmãs a cantarolar as suas melodias. Como a minha mãe, que também nasceu em 1938, Enrico emigrou para França onde fez carreira. Em 1980 foi nomeado pelo secretário Geral da ONU "Cantor para a paz" e do seu reportório fazem parte canções com títulos tão sugestivos como "Malheur à celui qui blesse un enfant", "Enfants de tous pays" ou ainda "Un berger vient de tomber".
Confesso que, pondo de lado a nostalgia, hoje prefiro Aznavour, Piaf, Brel, Moustaki, Ferré, Régiani ou Becaud, embora nem sempre por esta ordem. No entanto, sempre que posso compro mais um CD do Enrico. Há uns tempos descobri uma canção que não conhecia. E, embora a minha mãe já não esteja entre nós para a ouvir, tenho a certeza que também gostaria desta que, para mim, é um dos melhores poemas que Enrico cantou!





Rien n'est plus beau qu'un fusil rouillé
Qu'un soldat un jour a oublié
Quelque part à l'ombre d'un buisson
Pour courir vers son village et sa maison
Dans ce monde qui bat le tambour
Qui préfère la guerre à l'amour
Rien n'est plus beau qu'un fusil rouillé
Et qui ne servira plus jamais, plus jamais

sábado, 24 de março de 2007

Quase indispensável

Quase indispensável este périplo diário pelos blogues que já conheço. Tornou-se um hábito que ainda não sei interpretar e isso aborrece-me. Às vezes deixo-me ir por "linkagens" sucessivas. Quase inconscientemente. Alheada do resto que me rodeia: "Mãe, que roupa visto amanhã? Ajuda-me a escolher.";"Mãe, vou fazer chichi e depois chamo-te para me ajudares a limpar"; "Viste os meus óculos de natação?" .Às vezes é como se passeasse por cidades desconhecidas em que um detalhe interessante me leva a procurar outro, e outro, e outro. Depois regresso a "casa". Acho que me retira tempo para outras coisas mas não dispenso este hábito recente. Ler desconhecido(a)s, encontrar similitudes, congratular-me se encontro alguém que pensa como eu sobre determinado assunto, "falar" com estes alguéns como se os conhecesse desde sempre. Sempre tive "livros de registos" em toda a minha vida e, por isso, não precisaria de escrever para que me leiam. Que teias se vão tecendo, que pontos se vão acrescentando, difusamente, distraidamente, sem consequências de monta, mas de modo indispensável?

sexta-feira, 23 de março de 2007

Infância



Chegou hoje uma imagem da minha infância. Que fazer quando ela nos entra assim no coração?
Bom fim de semana
~CC~

quinta-feira, 22 de março de 2007

Pôr do sol....


O pôr do sol de hoje, no Rosarinho, estava assim!
Embora com fumo, lá ao fundo, estava lindo!

Uma espécie de...

Quem me conhece sabe que apesar do "mau feitio" gosto imenso de dar aulas e de descobrir em conjunto com os alunos novos olhares sobre a vida e a educação. Mas, há dias fiquei um bocadinho de "orelha murcha" quando os ouvi dizer que "solidariedade é dar esmola à porta das igrejas" e que "solidariedade é dar sem esperar nada em troca". Argumentei violentamente defendendo que à mistura temos de ter também responsabilidade, reciprocidade, trocas mútuas. Mais adiante na discussão, a propósito do Prémio Nobel da Paz de 2006 e da iniciativa do microcrédito (que a maioria desconhecia) ouvi-os dizer que era "uma espécie de Cofidis"... Hoje de manhã, ao sol, ao longo da A2, ouvi que Mohamed Yunnus estava em Portugal para proferir algumas conferências sobre "O Banco dos Pobres" e pensei que bom seria que eles o ouvissem.

eurónios

Ela faz-me tanta falta. Só a deixo ir porque faz ainda mais falta a alguém que não sou eu. Traz-me rotinas, traz-me alegria. E a televisão ligada, ainda que dentro do que me é suportável, ela sabe.

Não sei em qual dos canais, mas deve ser em qualquer um, apareceu um anúncio com uns homens vestidos de branco: os eurónios. Ora os ditos cujos renunciam a tudo o que outros homens supostamente comuns nunca recusariam: futebol, mulheres... a única coisa que lhes desperta aplausos são os "preços baixos", perante tal estímulo é que eles vibram e saltam de contentes. É ridículo, meio parvo, mas fazemos um jogo com o qual nos rimos imenso. Imaginamos aquilo com as pessoas que conhecemos, quem aplaudia o quê...chegamos mesmo a imitá-las...e acrescentamos coisas, até chegarmos aos "preços baixos" e à dita reacção. Experimentem. Garanto-vos que é um bom exercício para percebermos quem valoriza o quê e como é que vemos as pessoas que nos rodeiam e, claro, para percebermos se são assim um bocadinho sovinas ou poupadas ou assim assim ou se não sabemos como é que "pensam" o dinheiro.

Sem o jogo, o anúncio é confrangedor.
~CC~


PS- Venham as fotografias, venham as reportagens...olhem que eu encho isto de banalidades...

venha o dia

Depois dos lírios brancos e roxos a acompanhar a palavra dos poetas a noite enrolou-se em mim. Ficou escura a poesia. Mas agora é dia. Digo-vos bom dia, digo-te bom dia, e aconchego-me ao sol.
~CC~~

quarta-feira, 21 de março de 2007

por ti poesia

sempre junto ao mar como Sophia

Sophia de Mello Breyner.doc
querendo amigos junto à pele como José Luís Peixoto
Jose Luis Peixoto.doc
pensando o que é isto de ser mulher, como pensa Ruy Belo
Ruy Belo.doc
sonhando esta casa de António Ramos Rosa
António Ramos Rosa.doc
com medo de não ver, não saber e apodrecer como Eugénio
Eugénio de Andrade.doc
porque a realidade é como diz José Gomes Ferreira
mesmo que o mundo pareça às vezes coisa abandonada como diz Fernando Pessoa
Fernando Pessoa.doc
esperamos conquistar a visita do amor como diz Herberto Helder
Herberto Helder.doc
e já agora a visita da Paz também
Tellegen-in Rosa do Mundo.doc
e dizer que este teu dia é mesmo sempre o meu dia e, sobretudo, festejar com todos os poetas.


~CC~
PS- e hoje com a ajuda da minha flor a ditar alguns dos poemas.





Um vídeo muito... doce!

terça-feira, 20 de março de 2007

O diferente também é belo!

Desta vez a foto não é minha. É do Reynaldo Monteiro e foi aqui que a encontrei.... Digam lá se o diferente não é também belo!

segunda-feira, 19 de março de 2007

O primeiro...

Dia. Dias. No exacto valor de que nada valem. No exacto valor de que não valendo nada alguma coisa valem pela sua simples existência.
Ele foi o meu primeiro amor no masculino sim. Édipos à parte, é afinal o primeiro dos homens com quem lidamos no espaço de uma casa. Trouxe-me o primeiro livro e leu-me a primeira história, também o meu primeiro chocolate. Foi também a minha primeira ruptura, um distanciamento que começou devagar e se tornou quase irreversível, assim sem mais, como quando o silêncio vem devagar comer as palavras do amor. Mas tornou-se um silêncio tão grande que acho que já não me provoca dor. Vejo-o parado nos momentos bons da minha infância e deixo-o estar aí quando me quero lembrar que tive um. Mas sei, vejo e sinto que a paternidade é hoje uma conquista fascinante, uma grande parte dos homens deixou habitar a palavra "pai" de uma ternura ilimitada que os tornou agora maiores e melhores do que antes. Felizes sejam.
~CC~

PS- "Roses for you".

domingo, 18 de março de 2007

Os primeiros...

São cor de rosa para disfarçar que não são coisa boa. Testam a minha resistência às extensões de mim que não são desejadas. As coisas parecem maiores e demorei a adimitir que sem eles eram pequenas. Avisavam-me que a meia idade trazia sinais. Por dentro ia sentido algumas marcas, mas outras vezes era ainda aquela menina. Por fora os sinais também eram contraditórios, mais fraqueza sim, mas por vezes mais força. Manter o desejo e a esperança pelo mundo quase a par da desilusão por ele. Na maior parte das vezes ainda o excesso de motivação que sempre tive, a incapacidade de perceber o que era viver sem ela.
Agora este objecto:os meus primeiros óculos.
~CC~

PS- Que grande me parece a janela deste blogue!

Uma flor de Lisboa...

Ontem passei o dia na capital...
Como a reunião, da manhã, era na ESE levei a máquina para poder trazer algumas recordações daquele lugar e em particular do edifício!

Partilho aqui uma flor de que trouxe apenas a imagem... Bem sei que Magritte diria "Ceci n' est pas une fleur", mas penso que foi melhor deixar lá a verdadeira, que deve estar, ainda hoje, a apanhar banhos de sol...

Bom domingo.

sexta-feira, 16 de março de 2007

O barco...


Procurávamos papoilas numa caixa cheia de coisas desarrumadas, como quase tudo o que me rodeia....
De repente, surge um barco e ela disse:

- Gosto dessa!

E eu, confessei que mal tinha reparado nele quando disparei a máquina, domingo passado, em Alcochete.

- Porque não o pões no nosso blogue... Imagens também são poesia e algumas estão cheias de metáforas...

Aqui está o barco, como modesta contribuição para este espaço colectivo onde tenho o prazer de vos encontrar... Afinal isto é um "blogue que ninguém lê" e não um "blogue onde ninguém escreve"!

Bom fim-de-semana.... parceiras.

Elas...

Hoje passei a manhã na Reitoria da Universidade de Lisboa. Lá se apresentararm os resultados de alguns estudos sobre os estudantes do ensino superior em geral e da UL em particular. Ficámos a saber que o grande "instrumento" de demcratização do acesso ao ensino superior é o ensino Politécnico, do outro lado continua a ficar a Universidade e as suas elites. Reforçámos o que já sabíamos sobre a relação positiva entre grau de escolaridade da mãe e excelência escolar. Renovámos algum regozijo por sabermos que a maior excelência escolar continua a ser feminina. Porém, sobre este último dado logo soaram algumas vozes na sala exigindo que se saiba exactamente o que se passa nas sals de aula porque estão em crer que por se tratar de uma profissão maioritariamente feminina, as professoras serão parciais e valorizarão mais as raparigas em detrimento dos rapazes... nos tempos que correm, afinal são eles os menos privilegiados em sede escolar.

E depois...

Ela estava lá sentada num cantinho, as mãos postas nos joelhos.
Eles entraram. Perguntei-lhes: sabem quem é esta senhora?
Eles em coro: é a mulher do Sebastião da Gama.
Ela sorriu e levantou-se da cadeira como uma mocinha e levou-nos a passear dentro do museu.
No final um aluno perguntou: porque não escreve essas histórias todas? Como é que as vamos saber quando já não estiver connosco.
Ela respondeu: não tenho tempo!
~CC~

Visitas regulares

Não tenho deuses nem lugares santos.
E isto que é verdade não é afinal bem verdade.
Tenho lugares sim.
E até lhes faço visitas regulares.
Uma vez por ano vou ao museu Sebastião da Gama em Azeitão. É um museu pequenino que fica numa curva e passa despercebido se ainda não o tivermos descoberto. Só tem poemas e fotografias e alguns objectos, coisa modesta pois, nada parecido com as maravilhas tecnológicas que por aí se podem descobrir. Mas desde a primeira vez que me encanta quase tanto como a personagem do homem, professor e poeta. É hoje com os estudantes e como lhes tenho que dar uma razão mais lógica que simplesmente a minha emoção, digo-lhes que é para perceberem a ligação íntima entre a poesia e a profissão de professor. Tenho assim lirismos de contágio. E o dia está lindo hoje e podemos sentir a serra a abrir como uma flor.
Também conheci uma data de gente que ama aquele lugar e a personagem. A mais intrigante e mais complexa é a viúva do Sebastião da Gama. Quando a conheci, disse-lhe: Tenho tanto prazer em conhecer a viúva do Sebastião! E ela disse-me com um ar grave e um pouco zangado: Mas eu não sou a viúva, eu sou a mulher dele!
~CC~

PS- Dia 10 de Abril, no museu em Azeitão, pelas 17h30, comemoração do aniversário de Sebastião da Gama. Mais um fim de tarde a entontecer pela poesia.

quinta-feira, 15 de março de 2007

vermelho



Manhã cheia de papoilas no caminho até aqui. Vontade imensa de trazer uma, mas morrem se as apanharmos. E a máquina em casa. Pensava no JV Torres que anda sempre com ela. Pedir-lhe que traga uma e que a deixe aqui a abanar-se no vento. E assim fiz. E ele já tinha uma guardada na caixa. Há gente com caixas assim, que tira delas as coisas quando as pedimos, é como se guardassem tudo lá dentro.
Agora fica aqui junto de mim.
~CC~

as coisas más nas coisas boas

Os amigos ensinam-me coisas boas. Uma delas foi ouvir a rádio Europa-Lisboa que ocupa a maior parte do tempo de antena com bom Jazz. Mas tem uns intervalos breves para notícias. Foi assim que fiquei a saber que o actual Papa recomendou missas mais contidas e, sobretudo, abraços menos efusivos. Há muito que não vou à missa mas era a parte que mais gostava e me comovia. Algumas vezes pensei ir lá só para abraçar assim uns desconhecidos e umas desconhecidas e sair de lá reconfortada. Ora esse conforto de não nos sabermos sós deve ser algo que as pessoas procuram na religião e o papa devia saber. Ele devia saber que os abraços são bons e não (nos) envergonham.
~CC~

quarta-feira, 14 de março de 2007

as coisas boas dentro das más

Com a televisão arredada do meu processo de socialização infantil e adolescente, raramente me lembro que existe, simplesmente não a ligo. Mas ontem percebi no silêncio da casa o que faz com que certas pessoas a liguem sempre. Como o desejo de ouvir vozes tem limites, rapidamente passei pelo canais 1, 2, 3 e 4 e fixei-me na RTP África. Bom, é também o meu coração a guiar-me até lá. Uma reportagem sobre a Violência Doméstica e curiosamente e espantosamente bem feita. Arrepiante saber que no ano passado 20 mulheres morreram pelas mãos dos seus companheiros, uma delas no seu próprio local de emprego, perante a inércia de todos os que estavam a observar e que o deixaram levá-la. Mas havia uma coisa espantosamente boa nestas coisa má. Uma brigada da GNR especialmente vocacionada para tratar com estes casos; podemos ouvir o testemunho deles e ver o modo como agiram tão bem com uma das mulheres e com os seus filhos (apesar da estranheza de ver doçura nas suas vozes graves). E uma casa de Abrigo muito bonita e cuidada que as recebia a elas e aos filhos num processo de mediação para a vida normal e autónoma que se espera um dia possam ter. Valeu a pena ligar o objecto a que, confesso, voto algum desprezo.
~CC~

terça-feira, 13 de março de 2007

O tempo das nossas vidas


"Limites, possibilidades. Bem e mal. São só palavras Eszter. Já pensaste que a maior parte das nossas acções não tem nenhum sentido, nenhuma finalidade? Cumprem-se tarefas, tantas vezes sem utilidade e sem alegria. (...) No fim da vida sentimo-nos terrivelmente cansados de tudo o que possui um objectivo. Sempre me agradaram essas acções para as quais não há uma explicação. (...)Limites!Limites interiores! Mas se a vida é ilimitada! Vê se compreendes. É possível que tenha errado (...). Nunca fui eu a decidir das minhas acções. Afinal, o homem só é responsável pelo que projecta, pelo que quer. O homem só é responsável pelas suas intenções...A acção, o que é? É sempre uma espécie de surpresa arbitrária." Sandór Márai, A herança de Eszter
A propósito da minha amiga que não tem tempo para fazer o que quer, a quem recomendo a leitura deste belíssimo livro do mesmo autor d'As velas ardem até ao fim (do meu ponto de vista menos belo, mas que também vale a pena). Boas leituras, mesmo para quem não lê.

ritmos das(nas)coisas

O que eu gostava de não ter tantas coisas para fazer. O que eu gostava de fazer cada coisa realmente bem feita. O que eu gostava de fazer coisas que ainda não fiz. Só gostava de fazer as coisas essenciais e de as saber escolher. Sei só algumas. Sei que parava o tempo e agora ia aprender a dançar para poder dançar contigo. Parava o tempo e ia até lá, ver o lugar em que nasci. Parava o tempo e ia deitar-me assim a uma Terça de manhã na areia da praia para o sol me espreitar.
~CC~

segunda-feira, 12 de março de 2007

Pendurado num canto...

Foto: JvTorres

És a minha flor.


PARABÉNS

És tu a minha flor.
É a cor do teu riso
É da tua cor que a minha vida se enche.
Não é apenas por seres minha, é por seres quem e como és.
É por quereres conhecer e saber das coisas. É pelos dias em que me sentindo triste conversaste comigo com sabedoria. É pelos dias em que me sentindo alegre te riste tão próxima de mim. É por quereres um mundo mais justo (jamais esquecerei o teu telefonema no dia em que o “SIM” ganhou). É por seres ainda tão pequena e eu ter por ti uma admiração tão grande. É pelo teu abraço tão meigo. É porque tu serás para sempre o meu amor pequenino. É porque o meu amor está sempre a nascer como tu nasces hoje.

~CC~

domingo, 11 de março de 2007

Portas…

Abrir, fechar. Entrar, sair, transpor. Limite, fronteira, soleira. Segredos guardados atrás das portas. Portas fechadas e portas abertas. À porta fechada, para ninguém saber. Porta com porta, quando vivemos lado a lado. “Tenho por costume nunca fechar portas…” diz a Calcanhoto e a Bethânia gritava com o desespero de quem ama com dor “…nosso caso é uma porta entreaberta”. Tanto podia escancarar-se como fechar-se definitivamente. E os Doors, de cujos acordes e palavras tantos caminhos partiram. Há-as lindas e quem as fez dedicou-lhes muitas horas, muito tempo. Há algumas que saem dos gonzos e outras rangem fantasmagóricas. Andámos a olhar as fechadas, as que escondem segredos e outros mundos que não se vêem do lado de fora porque acontecem lá dentro. Imaginamos e deixamo-las entreabertas, porque as coisas mais definitivas podemos sempre lamentá-las porque fechámos portas demasiado cedo.

Foto de BSP

Uma pomba no beiral...

Foto: JvTorres

Alqueva II



O Congresso

Comecei cedo a frequentá-los e cedo me cansei deles. No mercado do conhecimento tudo se vendia da mesma forma que em qualquer lado, cansavam-me os pedantes, os dancantes, os cantantes. Não fora me ter reconciliado o ano passado com a academia aceitando que a recusa em nada a transformava e esta reconciliação teria acontecido no fim de semana passado com o I Congresso das Açordas. Não estou a brincar, eu fui ao I Congresso das Açordas! As comunicações tinham títulos tais como "As açordas com que cresci" ou "Acorda nossa de cada dia" e a exposições eram autênticos reportórios de cheiros e sabores. Era tudo normal, igual ao que se passa em qualquer congresso com moderações, comunicações e comentários. Era tudo estranho porque estavámos ali no mais profundo Alentejo e o tema era a Açorda, coisa sobre a qual não imaginava se poder falar nem saber tanto e muito menos encher programas de dois dias. Hesitei por momentos. Por um lado rejeitava a importação do modelo, sentindo que nem ali já se podia viver livre de congressos(confesso, uma espécie de saudosismo por um mundo rural puro, perto da terra), por outro suscitava em mim verdadeiro divertimento aquela adaptação do modelo, achando que sim, que de transformação das coisas e da mistura delas é que nasce o que é mais engraçado na vida(e essa coisa do mundo rural já nem existe a não ser na nossa fantasia).

Certo é que a Vila de Portel respirava vida e as pessoas pareciam felizes com o seu congresso. Pois que SIM.

~CC~

sábado, 10 de março de 2007

Alqueva




Em poucas horas ela perdeu-se e passou a ser para lugar nenhum.
Tudo é tão frágil.
E no entanto, alguém que a olhou, disse-me para ver novamente.
E eu olhei.
Sim, talvez tenha razão.
A estrada continua mais à frente, emerge da água. É assim se quisermos ver assim. Muitas vezes acho que vou mergulhar como a estrada, sem hipótese de renovação.
Outras vezes, acho que será mesmo apenas um mergulho, uma passagem para um outro lugar, talvez mesmo uma casa.
~CC~

quinta-feira, 8 de março de 2007

Nada de rosas...

Nada de rosas. Só lírios roxos e do campo. Nada de lamúrias nem de gritos, só vozes seguras e consistentes. Vozes amargas, vozes calmas, vozes zangadas, vozes doces, a nossa voz. Uma só bandeira cor de terra para uma luta que ainda faz sentido. Gosto de datas para comemorar, gosto de símbolos e de rituais, mas são hoje excessivos, um bocadinho pirosos(guarda lá a rosa...)e pouco eficazes. Não irei fazer nada nem irei a nada, fico-me pela festa íntima que é a minha liberdade. E festejei há quase 11 anos atrás, colocando o meu apelido como o último apelido da minha filha. Fui eu que a guardei 9 meses cá dentro, que a tive, que a amamentei mais 9 meses...o pai, apesar de exemplar, porque deveria ter esse direito de fazer passar o nome da família em vez de ser eu?
Gosto de mulheres, gosto de homens, gosto de pessoas.
Gosto de ser mulher, gosto imensamente de ser mulher.
~CC~

Ideias cruzadas

Por ser hoje. Um dia que muitos comemoram. Aqui vos deixo com as palavras de um homem, que tão bem soube captar sob a forma de ficção, este destino que nos persegue e que tem de ser torcido. "Chamava-se Dulce Olívia. Era filha única de uma família de correeiros de reis e tinha tido que aprender a arte de fazer selas de montar para que não se extinguisse com ela uma tradição de quase dois séculos. A essa estranha intromissão num ofício de homens atribui-se a razão de ter perdido o juízo e de forma tão grave que foi difícil ensiná-la a não comer as suas próprias misérias." (Gabriel García Marquez, Do Amor e Outros Demónios). Bom dia para todas(os).

Estou quase a acabar o "Perfume"

O livro, entenda-se!

Grande dia...

Sábado, dia 3, conheci finalmente a 3za do Tempo de Teia. No âmbito do encontro " Weblogs na educação: 3 experiências, 3 testemunhos", que também aqui anunciamos, presenteou-nos com uma magnifica apresentação que até já fez eco além fronteira. Estiveram presentes mais duas Teresas contando também, na primeira pessoa, experiências riquíssimas da utilização desta ferramenta no ensino. A "menina da bandeira" (não foi a do gáz) fez um comentário e lançou questões muito pertinentes que nos ajudaram a pensar onde ficam os limites da nossa exposição no espaço virtual. Também o José Oliveira esteve por lá, na companhia de 120 professores, de vários ciclos de ensino e zonas do país, que abdicaram de uma manhã de sábado, na cama, para vir debater este tema connosco.

Muito obrigado a todo(a)s, muito em especial ao fantástico trio de Teresas.




Apresentação utilizada pela Teresa Marques. Se ficaram com água na boca sigam o fio até aqui...

sábado, 3 de março de 2007

Desencanto compreensível

Foi publicado o conjunto de critérios que permitem aos professores dos ensinos básico e secundário aceder à categoria de Professor Titular. Designação pomposa sem dúvida, mas vazia de sentido. Remeto-vos para aqui, onde podem encontrar uma análise curiosa (irónica e doída) da situação. E depois a Sra. Ministra que não se admire com as eventuais "más vontades" dos professores. Já era tempo de passar à prática a tão propalada equidade, o degrau a seguir à igualdade. Assim será difícil...

sexta-feira, 2 de março de 2007