sexta-feira, 4 de maio de 2007

Duas ou três banalidades

Banalidades, futilidades, coisas supérfluas, sem valor. Pensamos em disparates - ditos ou escritos - , objectos, ideias ou acções de pechisbeque que nos contentam no imediato, mas que deixam um curto rasto de íntima e genuína satisfação. Coisas que descartamos das nossas vidas, apanhados que estamos na voragem da pulsão consumista. Seria mais ou menos isto que caberia como definição de banalidade.
Pois eu, acho que está tudo ao contrário. As banalidades, futilidades, coisas supérfluas, sem valor tornaram-se essenciais e quase as assumimos e incorporámos na nossa essencialidade/identidade humana.
Porque afinal o que se tornou banal foi o sofrimento alheio, o que se tornou fútil foram os milhões gastos em armamento, o que passou a ser supérfluo foram as inúmeras iniciativas de apelo ao fim das guerras, dos genocídios e das injustiças, o que deixou de ter valor foi a vida humana. O Sudão, o Congo, a China, o Iraque, o Líbano, são palcos de dramas que acompanhamos (ou não) à distância, que sofremos (ou não) à distância. Afinal, a distância que medeia entre o sofá e o ecrã...
Desculpem lá, hoje despertei-me assim.

4 comentários:

Gregório Salvaterra disse...

Também acho que às vezes o mundo anda ao contrário. Mas sou assim de contrários nesse valor que as coisas têm e sou capaz de defender algumas futilidades como utilidades fundamentais. Também me revolta, aqui sem ambivalências, a fome, a guerra e todo o sofrimento humano.
Fundamental... fundamental é mesmo o amor... e também a água, o pão e a poesia.
Desculpa lá, mas hoje também despertei assim... fundamentalista.
JJS

j disse...

Não há motivo para desculpas, num despertar assim.

Anónimo disse...

Sem o amor por fundamento, o sofrimento, os genocídeos, a fome e tudo o resto que nunca mais acaba, não passam de banalidades.

Este mundo já não gosta de ninguém, nem de nada.

Cristina Gomes da Silva disse...

Olá JJS, como tem andado a praia? Então resolveste aceitar o convite do primo Gregório? Assim, ele pode descansar um bocadinho na contagem das gaivotas e tu sempre te distrais. Estou de acordo contigo quanto ao amor, mas estas gentes de quem falo, há muito que vivem no desamor, na negligência, no limbo do esquecimento.

j, para ti um :)

Marta, ainda não chegou o tempo para te desencantares assim. Aí ao teu lado deve haver alguém a precisar do teu olhar, da tua mão, do teu beijo.