Estava para ali sem saber o que fazer aos sonhos que lhe atravessavam as noites e lhe enredavam os dias. Eram inesperados, os sonhos, e em cada amanhecer pensava que o olhar iluminado lhe poderia trair a rotina dos dias. Não que essa rotina lhe pesasse, mas não conseguia conciliá-la com os sonhos.
Falou com um amigo. Seria aquilo uma vida dupla? Que não, tranquilizou-o, aquilo era só um sinal da multiplicidade da vida. Que não se inquietasse. É que, dizia, a vida não podia estar exclusivamente contida no real quotidiano. Era diversa, múltipla e una ao mesmo tempo. Mas, ainda assim, podia procurar integrar na "rotina dos dias" uns pedacinhos dos sonhos, numa mescla que o ajudasse a cadenciar o passo entre a noite e o dia, entre o cá e o lá.
De olhos semicerrados tentou adormecer. Quem sabe, se ficasse assim, alerta, conseguiria levar a realidade para dentro dos sonhos.
5 comentários:
Aí tens um bom amigo! Resta saber se os sonhos podem ser delimitados, contidos como cores brilhantes, desfeitos lentamente pelo vento como bolas de sabão. Ou se de tanto brilhar nos atravessam sem descanso a realidade, tornando-a difícil.
~CC~
A vida é mesmo muito complicada e.... ainda bem!
Convivo tão intimamente com este drama de atravessamento que às vezes nem sei muito bem onde acaba um sonho e começa uma realidade. (Gosto bastante desta confusão de linhas.)
Pois é, pois é... É uma complicação que nos constrói e vai roendo, a um mesmo tempo :)
Pois é, as quimeras e as utopias (que são sonhos em tamanho XL) é que não nos podem abandonar, ou nós a elas...vá-se lá saber o que pertence a quem ;)
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