...isto não é um país, é um sítio mal frequentado. Dizia ele no século XIX...
Há dias assim, em que nos sentimos vazios. Vazio de sentido o que fazemos, vazio de esperança aquilo em que acreditamos. Vazio só. E sinto assim o nosso país, vazio de sentido e de projecto, continuamente alimentado pela ignomínia e cada vez mais anestesiado. Não diria que é "urgente por um barco no mar" mas é de certeza urgente voltar a navegar por dentro de nós, por límpidas águas e claros pensamentos. Se olhasse para o rectângulo de fora, veria um sol esplendoroso que aquece praias sujas e homens tristes. Não posso deixar de ficar desapontada/revoltada ao ver pelas ruas da cidade os cartazes dos defensores do Não no próximo referendo sobre a IGV. Não posso deixar de me sentir invadida por uma insuportável tristeza nascida desta revolta contra a hipocrisia e a mediocridade. Seria bom que os "senhores" legisladores tivessem claro nas suas "pobres" cabeças que nenhuma mulher aborta porque quer, que o direito a melhores condições de vida é mesmo um direito. Efectivo e não só no papel. Que os nossos impostos devem servir para construir um país melhor, onde temos vontade de ficar e não de partir. Que o direito à saúde é efectivo e não só no papel. Que o direito à educação (também a sexual) é um direito efectivo e não só no papel. Que ninguém é livre se outro alguém o não é. Que a moral e os bons costumes já fizeram vítimas de sobra. Que a Igreja Católica também tem o seu altar de sacríficios bem ensanguentado em nome de coisa nenhuma. Que a alegria da vida é um bem incomensurável e que, por isso mesmo, temos o direito de decidir por ela, em consciência e com condições. Não pensem que esta nota triste vai assim até ao fim. Por mim, não posso deixar de me congratular por ter duas filhas fantásticas, desejadas e nascidas de vontades comuns.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
...Eça de Queiroz
Publicada por Cristina Gomes da Silva às 15:31
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6 comentários:
Não há nada a fazer e não se consegue abrir-lhes as cabeças.
Como são tristes certas verdades intemporais!
Olá Marta, não concordo nada consigo. Está quase tudo por fazer. Em 1975 em França vivia-se uma situação igual à nossa. Mulheres julgadas e condenadas pela prática do aborto. Simone Weil, mulher de direita mas às direitas (às vezes o mal da esquerda é pensar que a verdade e a razão, estão só de um lado)viu aprovada uma lei da sua autoria que defendia a despenalização. Nós podemos dizer que estamos, como sempre 30 anos atrasados, mas prefiro alimentar a esperança de que lá chegaremos. Embora considere que atitudes como a sua não nos levam muito longe. Obrigada pelo comentário
Expliquei-me mal.
Estava a ironizar sobre o que pensa quem tem blogues como o do "não", e quejandos.
Tenho feito alguma coisa Cristina.
Deu-te para escritora,foi?
Sendo assim peço desculpa. "...le langage est source de malentendus" lembra-se?
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