sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

...Eça de Queiroz

...isto não é um país, é um sítio mal frequentado. Dizia ele no século XIX...

Há dias assim, em que nos sentimos vazios. Vazio de sentido o que fazemos, vazio de esperança aquilo em que acreditamos. Vazio só. E sinto assim o nosso país, vazio de sentido e de projecto, continuamente alimentado pela ignomínia e cada vez mais anestesiado. Não diria que é "urgente por um barco no mar" mas é de certeza urgente voltar a navegar por dentro de nós, por límpidas águas e claros pensamentos. Se olhasse para o rectângulo de fora, veria um sol esplendoroso que aquece praias sujas e homens tristes. Não posso deixar de ficar desapontada/revoltada ao ver pelas ruas da cidade os cartazes dos defensores do Não no próximo referendo sobre a IGV. Não posso deixar de me sentir invadida por uma insuportável tristeza nascida desta revolta contra a hipocrisia e a mediocridade. Seria bom que os "senhores" legisladores tivessem claro nas suas "pobres" cabeças que nenhuma mulher aborta porque quer, que o direito a melhores condições de vida é mesmo um direito. Efectivo e não só no papel. Que os nossos impostos devem servir para construir um país melhor, onde temos vontade de ficar e não de partir. Que o direito à saúde é efectivo e não só no papel. Que o direito à educação (também a sexual) é um direito efectivo e não só no papel. Que ninguém é livre se outro alguém o não é. Que a moral e os bons costumes já fizeram vítimas de sobra. Que a Igreja Católica também tem o seu altar de sacríficios bem ensanguentado em nome de coisa nenhuma. Que a alegria da vida é um bem incomensurável e que, por isso mesmo, temos o direito de decidir por ela, em consciência e com condições. Não pensem que esta nota triste vai assim até ao fim. Por mim, não posso deixar de me congratular por ter duas filhas fantásticas, desejadas e nascidas de vontades comuns.

6 comentários:

Anónimo disse...

Não há nada a fazer e não se consegue abrir-lhes as cabeças.

João Torres disse...

Como são tristes certas verdades intemporais!

Cristina Gomes da Silva disse...

Olá Marta, não concordo nada consigo. Está quase tudo por fazer. Em 1975 em França vivia-se uma situação igual à nossa. Mulheres julgadas e condenadas pela prática do aborto. Simone Weil, mulher de direita mas às direitas (às vezes o mal da esquerda é pensar que a verdade e a razão, estão só de um lado)viu aprovada uma lei da sua autoria que defendia a despenalização. Nós podemos dizer que estamos, como sempre 30 anos atrasados, mas prefiro alimentar a esperança de que lá chegaremos. Embora considere que atitudes como a sua não nos levam muito longe. Obrigada pelo comentário

Anónimo disse...

Expliquei-me mal.
Estava a ironizar sobre o que pensa quem tem blogues como o do "não", e quejandos.
Tenho feito alguma coisa Cristina.

Anónimo disse...

Deu-te para escritora,foi?

Cristina Gomes da Silva disse...

Sendo assim peço desculpa. "...le langage est source de malentendus" lembra-se?