quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Terra (II)


Esta é também a minha terra, achei-a asim tão bem descrita por este rapaz que se dedica ao mel e que não conheço. E senti-a assim batida pelo vento forte de cheiro a maresia, demorei muito a gostar dela. Amei-a nas palavras de um avô que recitava António Aleixo e coleccionava vasos de cravos e cravinhos cujas cores estudava e inventava pela intuição da química. Vivia a sonhar a revolução que já tinha afinal chegado. Mestre terra, de olhos salgados e poucas falas. O mais improvável que podia acontecer era o nosso encontro, o do mestre a despedir-se da vida activa e da criança triste, sem norte. Mas aconteceu, ensinou-me a gostar de laranjas e de xarém e fez-me sentir que eu era mais que um nada, se quisesse, podia ser quase uma flor. Era o que eu precisava para seguir o caminho.

Depois a vida levou-me para longe dele mas sei que andou de bicicleta até morrer e cuidou sempre dos seus cravos.

Nós somos muitas terras, muitas delas que nos são trazidas pela mão ou pela pele de alguém.
~CC~

2 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Mais uma prova dos laços que nos ligam, mesmo que invisíveis, mesmo que indizíveis.

Anónimo disse...

Bem... esta empatia (por si)... passei férias nesta terra, durante alguns anos e a ela me sinto ligada por isso.
Tal como as terras, é isso professora, as mãos e a pele de alguém, o cheiro... como me afeiçoo... e como é dificil continuar... :P mas eu lembro as suas palavras, sempre!

Beijinhos,
Madalena.