Um dia a tempestade veio e tomou todo o céu. Lembro-me bem como tudo ficou escuro num instante.
O chefe da comarca chamou o meu pai e depois disso nunca mais o vi. O meu pai não voltou mais, não teve coragem de nos vir dizer que os Guarda-rios tinham que levantar as tendas e partir para sempre, não eram mais necessários, nem aqui, nem em lado nenhum.
Os rios, dizia o chefe, correm sozinhos e não precisam que ninguém os guarde.
Depois disso uma doença foi tomando um a um os nossos homens. Só se salvaram os que eram meninos. E nós, nós as mulheres, embora nessa altura o meu tamanho e o meu coração fossem os de uma menina.
~CC~
4 comentários:
Engraçado que sendo muito lido, talvez seja dificil soltar as palavras (para nós)... Talvez este espaço seja um refúgio, vosso, para onde fogem sempre que precisam dizer, escrever, fazer-se ouvir ou ler...
O meu bis avô e o meu avô foram guarda-rios...
Beijos,
Madalena
Madalena, escreve sempre que sentires vontade...não fazemos disto um refúgio privado, é antes uma porta entreaberta aos outros. E nem sabes a alegria que me deu saber que o teu bisavô e o teu avô... (estás a ver João como eles existem?!)
Beijinhos
~CC~
bonita fotografia!
os guarda-rios, guarda-florestais, guarda-linhas de comboios, cantoneiros, etc etc
muitas profissões em extinsão mas é verdade que já ninguém podia sobreviver com o salario auferido, pronto, talvez fosse a panaceia para o rendimento minimo... não sei!
Mo, é apenas uma história, tudo tem um sentido simbólico, está para além do real, embora muita coisa dentro dela seja também verdadeira. Por isso te respondo à pergunta anterior: uma criança Almar é o que tu achares que é, o que sentires.
~CC~
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