terça-feira, 5 de junho de 2007

Guarda-rios e estuários (IV)



Um dia a tempestade veio e tomou todo o céu. Lembro-me bem como tudo ficou escuro num instante.


O chefe da comarca chamou o meu pai e depois disso nunca mais o vi. O meu pai não voltou mais, não teve coragem de nos vir dizer que os Guarda-rios tinham que levantar as tendas e partir para sempre, não eram mais necessários, nem aqui, nem em lado nenhum.

Os rios, dizia o chefe, correm sozinhos e não precisam que ninguém os guarde.


Depois disso uma doença foi tomando um a um os nossos homens. Só se salvaram os que eram meninos. E nós, nós as mulheres, embora nessa altura o meu tamanho e o meu coração fossem os de uma menina.

~CC~

4 comentários:

Anónimo disse...

Engraçado que sendo muito lido, talvez seja dificil soltar as palavras (para nós)... Talvez este espaço seja um refúgio, vosso, para onde fogem sempre que precisam dizer, escrever, fazer-se ouvir ou ler...

O meu bis avô e o meu avô foram guarda-rios...

Beijos,
Madalena

CCF disse...

Madalena, escreve sempre que sentires vontade...não fazemos disto um refúgio privado, é antes uma porta entreaberta aos outros. E nem sabes a alegria que me deu saber que o teu bisavô e o teu avô... (estás a ver João como eles existem?!)
Beijinhos
~CC~

Mónica disse...

bonita fotografia!
os guarda-rios, guarda-florestais, guarda-linhas de comboios, cantoneiros, etc etc

muitas profissões em extinsão mas é verdade que já ninguém podia sobreviver com o salario auferido, pronto, talvez fosse a panaceia para o rendimento minimo... não sei!

CCF disse...

Mo, é apenas uma história, tudo tem um sentido simbólico, está para além do real, embora muita coisa dentro dela seja também verdadeira. Por isso te respondo à pergunta anterior: uma criança Almar é o que tu achares que é, o que sentires.
~CC~