Impossível compreender este país ou algumas vozes das gentes deste país. Sabemos que tem sido difícil recuperar do atraso educacional (entre outros) que quase 50 anos de ditadura fomentaram e ajudaram a sedimentar. Atraso que ainda hoje está patente nas nossas formas de pensar, de sentir, de agir. José Gil deu-nos bem conta desta nossa identidade em Portugal, o medo de existir. Mas não é por aí que quero ir, embora partilhe muitas das coisas que aí estão ditas/escritas. Isto tudo para falar da campanha Novas Oportunidades que está a ser levada a cabo pelos Ministérios da Educação e do Trabalho e Solidariedade Social. É um programa que se isolado e sem outras medidas paralelas - horários de trabalho flexíveis, melhores salários, melhores equipamentos sociais, etc.- terá alguma dificuldade em captar os públicos para o qual foi pensado, mas na sua essência - identificar, reconhecer e validar competências de pessoas que sabem fazer coisas, embora não esteja escrito nem certificado em nenhum diploma - não é uma má medida. Num país de doutores, falsos ou não, num país que vive de e para as aparências, porque é que voltar à escola há-de ser uma coisa "achincalhável". A democracia, constrói-se melhor com cidadãos informados, conscientes dos seus lugares na sociedade e do papel que podem desempenhar para transformá-la numa sociedade melhor. Os arautos que opõem democratização da educação à falta de qualidade da mesma, hão-de sempre existir, porque confundem democracia com massificação e porque bem lá no fundo sabem que o saber é uma forma de poder extraordinária que não convém difundir, porque bem lá no fundo sabem-se usufrutuários das benesses trazidas por um diploma ou por uma boa rede de relações. Eu, produto puro da escola democrática, com origens operárias e pouco escolarizadas, ficarei sempre do outro lado da barricada, aquele que defende que um povo escolarizado vale mais do que um povo analfabeto, que novas oportunidades devem ser dadas a toda a gente e que prefere um motorista de táxi diplomado, que tarde ou cedo pode fazer valer o seu diploma no mercado de trabalho a um analfabeto que, por isso mesmo, ver-lhe-á vedadas muitas portas, guardadas por guardiões arrogantes e ciosos do seu poder, do seu saber.
sábado, 14 de abril de 2007
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2 comentários:
Juntei uma foto minha ao teu texto. Espero que não te importes...
como importar-me, se é tão fiel ao espírito?
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