sábado, 14 de abril de 2007

Novas Oportunidades

Impossível compreender este país ou algumas vozes das gentes deste país. Sabemos que tem sido difícil recuperar do atraso educacional (entre outros) que quase 50 anos de ditadura fomentaram e ajudaram a sedimentar. Atraso que ainda hoje está patente nas nossas formas de pensar, de sentir, de agir. José Gil deu-nos bem conta desta nossa identidade em Portugal, o medo de existir. Mas não é por aí que quero ir, embora partilhe muitas das coisas que aí estão ditas/escritas. Isto tudo para falar da campanha Novas Oportunidades que está a ser levada a cabo pelos Ministérios da Educação e do Trabalho e Solidariedade Social. É um programa que se isolado e sem outras medidas paralelas - horários de trabalho flexíveis, melhores salários, melhores equipamentos sociais, etc.- terá alguma dificuldade em captar os públicos para o qual foi pensado, mas na sua essência - identificar, reconhecer e validar competências de pessoas que sabem fazer coisas, embora não esteja escrito nem certificado em nenhum diploma - não é uma má medida. Num país de doutores, falsos ou não, num país que vive de e para as aparências, porque é que voltar à escola há-de ser uma coisa "achincalhável". A democracia, constrói-se melhor com cidadãos informados, conscientes dos seus lugares na sociedade e do papel que podem desempenhar para transformá-la numa sociedade melhor. Os arautos que opõem democratização da educação à falta de qualidade da mesma, hão-de sempre existir, porque confundem democracia com massificação e porque bem lá no fundo sabem que o saber é uma forma de poder extraordinária que não convém difundir, porque bem lá no fundo sabem-se usufrutuários das benesses trazidas por um diploma ou por uma boa rede de relações. Eu, produto puro da escola democrática, com origens operárias e pouco escolarizadas, ficarei sempre do outro lado da barricada, aquele que defende que um povo escolarizado vale mais do que um povo analfabeto, que novas oportunidades devem ser dadas a toda a gente e que prefere um motorista de táxi diplomado, que tarde ou cedo pode fazer valer o seu diploma no mercado de trabalho a um analfabeto que, por isso mesmo, ver-lhe-á vedadas muitas portas, guardadas por guardiões arrogantes e ciosos do seu poder, do seu saber.

2 comentários:

João Torres disse...

Juntei uma foto minha ao teu texto. Espero que não te importes...

Anónimo disse...

como importar-me, se é tão fiel ao espírito?