Tinha chegado aos 50 anos sem filhos. Durante anos e anos tinha devorado paixões como quem come gelados. Por volta dos 40 achou que aquela seria a derradeira e entregou-se inteiro. Lia-lhe os manuscritos dos romances que ela escrevia, trabalhava-os, devolvia-lhos mais nítidos. A promessa implícita de que um dia também ela se lhe entregaria inteira. Filhos? Não, era melhor assim enquanto ela não assentasse e tinham mais tempo para estarem os dois. Aquiescia de cada vez que ela tentava demovê-lo dessa ideia, sabendo que o tempo passava e que seria cada vez mais difícil gerir fraldas e biberões e noites sem dormir... Ela continuava o ofício de escrevinhadora e um dia anunciou-lhe a partida. Velho demais para ela, queria ser livre e com ele não podia. Refez-se lentamente do golpe, voltou a desenhar para crianças e foi encontrando por aí um pouco da luz que sabia perdida, levada nos olhos dela.
domingo, 15 de abril de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário