sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Borbulha d’Kotchim



Borbulha d’Kotchim

Sofia

Enxofre? Desde que ali chegara que tinha impregnado o cheiro a enxofre. Disparate, como sabia qual era o cheiro a enxofre? Talvez das químicas dos tempos da escola naquele bafiento laboratório? Talvez.
Toalha ao ombro ia ter com a Gabs à praia. De manhã não tinha ido mas prometera aparecer à tarde, gostava de dormir e à tarde é que a praia era mágica: a arrefecer, a crescer para o horizonte, a caminho do pôr do sol.
Para encurtar caminho metera pés num trilho muito marcado, que ficava na direcção da praia, por ali caminharia menos. A meia centena de passos viu uma fumarada. O cheiro a enxofre. Narinas dentro. Intensificou-se à medida que se aproximava. O mar já se via e teria que passar por aquela neblina. Meia dúzia de passos e ficou com o doce de tomate da avó Tchentcha a borbulhar a seus pés. Enorme! A fazer bolhas em câmara lenta e a rebentarem muito devagarinho ao som da voz da avó: ‘agora’. Lindo.

Para fazer crescer nela o dom da paciência pelo doce que tinha que ferver, por muito e bom tempo, a avó fazia o exercício de contar as bolhas e acertar no tempo de rebentação.

Que espectáculo!

Pois. E se esta coisa começa a acelerar? Porra, isto é uma ilha vulcânica. Apertou-se-lhe o coração de medo. Acelerou o passo e logo à frente começou a descer para virar e aí ver o areal. E a panela de ferro da avó Tchentcha a ficar para trás.

A Gabs estava na água com a sobrinha. Acenou-lhe e correu para beira mar a contar o que vira. Não era novidade. “Passaste no ‘Borbulha d’Kotchim?’ Está assim há séculos”, rui-se ela dos seus temores.

Ps. Mais uma bela história pela mão da Sofia.
Muito obrigado...

4 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

A memória a cruzar-se com o presente sem pedir liçença...
Um prazer __________ José Ribeiro Marto

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Também gostei bastante! Também eu penso que a praia é mágica ao final do dia.

E mais uma linda história nasceu, dá vontade de continuar a ler, como se de um livro se tratasse...parabéns!

deep disse...

De repente, senti vontade de comer o doce de tomate da minha mãe...

O cheiro a enxofre... que saudades da ilha!

Parabéns, Sofia, pelo teu bonito texto. :)

Anónimo disse...

:))) A foto, a foto merecia
muito mais, pois é linda e musa.
Não sei se textos se fotos deveriam ser divulgado/as.
Esta que vem aí tem uma força incrível.
Que bom podermos ler com os olhos.
Obrigada ao JVT.
sofia