quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Desafio...


VI
José Ribeiro Marto

O ganso


o ganso no remanso
do arbusto
corria à migalha
num sobressalto
num susto

o miolo do pão
era a distracção
do ganso
insolente e brusco

o outro ganso
ali parado
perto de uma sombra
quieto
ali olhado

alguém passava e murmurava :
olha outro ganso saído do remanso


vê os gansos :
um negro outro branco !
avó e neto a dar-lhes de comer
também saídos do remanso
da sombra
do assento
da brisa
do descanso

o bico do ganso preto
corria ao bico do branco
abrindo círculos perfeitos
na certeza da colheita
no tocar do instante


eu distraía :
lançava a minha migalha ao longe
e o ganso cinzento vinha ao pão
humilde fingido como um monge

sentia-me abismado sozinho
enquanto a tia Singela
roubava hastes de plantas do jardim
vinha a espaços espreitar
alisando na terra os passos e
punha tudo nos sacos entre-abertos
segredos que floreciam
nos seus jardins secretos

ninguém sabia como dizia
«além de ti e da minha fraqueza»

4 comentários:

clorinda disse...

parabéns, bonita poesia, espero que continu a brindar- nos assim!
Isto é que foi um prémio!
Clo

Cristina Gomes da Silva disse...

Ai estes poetas! Teimaste em sê-lo e aqui estás. Bjs

Anónimo disse...

singelo.

singelamente.

como quem navega à margem do lago, comtemplo o duelo do cisne branco e do "circulo"


perfeito. o movimento.

nunca cinzento.


_________________.


.piano.


(a saudar)


_______________.

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Muito bonito, jogo de palavras, parabéns José Marto. Obrigada ao dono do blogue por alojar coisas belas!