VI
José Ribeiro Marto
O ganso
o ganso no remanso
do arbusto
corria à migalha
num sobressalto
num susto
o miolo do pão
era a distracção
do ganso
insolente e brusco
o outro ganso
ali parado
perto de uma sombra
quieto
ali olhado
alguém passava e murmurava :
olha outro ganso saído do remanso
vê os gansos :
um negro outro branco !
avó e neto a dar-lhes de comer
também saídos do remanso
da sombra
do assento
da brisa
do descanso
o bico do ganso preto
corria ao bico do branco
abrindo círculos perfeitos
na certeza da colheita
no tocar do instante
eu distraía :
lançava a minha migalha ao longe
e o ganso cinzento vinha ao pão
humilde fingido como um monge
sentia-me abismado sozinho
enquanto a tia Singela
roubava hastes de plantas do jardim
vinha a espaços espreitar
alisando na terra os passos e
punha tudo nos sacos entre-abertos
segredos que floreciam
nos seus jardins secretos
ninguém sabia como dizia
«além de ti e da minha fraqueza»
4 comentários:
parabéns, bonita poesia, espero que continu a brindar- nos assim!
Isto é que foi um prémio!
Clo
Ai estes poetas! Teimaste em sê-lo e aqui estás. Bjs
singelo.
singelamente.
como quem navega à margem do lago, comtemplo o duelo do cisne branco e do "circulo"
perfeito. o movimento.
nunca cinzento.
_________________.
.piano.
(a saudar)
_______________.
Muito bonito, jogo de palavras, parabéns José Marto. Obrigada ao dono do blogue por alojar coisas belas!
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