sábado, 25 de agosto de 2007

Todas elas

Sim, podem ser todas elas ou talvez não, confio em alguma imunidade que me tenha sobrado da infância. Quinino, aquele comprimido amargo, não me protegerá ainda? Pois a senhora é que sabe, mas o tétano não pode ser depois, isso apanha-se em qualquer parte do mundo. Sim, sei que somos todos uns insconcientes e eu a maior de todas que já nem sei onde anda o meu boletim de vacinas, chega-me ter certinho o da minha filha. Esqueça esse nacional, olhe dê-me um amarelo, um para o mundo todo e se possível algures na lua ou em Vénus. Vénus é um lugar potencialmente perigoso, qualquer febre deve-se apanhar lá e daquelas de que não há protecção possível.

Tome um braço, tome o outro, onde queira picar mais. Já agora uma vacina contra a miséria do mundo ou as outras que que vivem dentro de nós, pois está bem, já sei que essas não estão abrangidas no plano nacional de vacinação. A senhora tem voz certa e segura de quem sabe mas o que me propõe é demais, por hoje chegam só quatro. Sim tenho alguma dor, o braço quase não tem força, mas deve ser a da tifoide a apanhar-me os músculos e amanhã já passa.
Vinte anos ali e nunca tinha vendido uma vacina contra a coléra, pois, não sei que lhe diga, só que antes já tinha corrido umas quantas farmácias e nem sabiam o que era. Mas sabe que antes do 25 de Abril também a recomendavam aos estrangeiros louros que vinham para este cantinho à beira mar. Pois é, foi antes da Democracia e antes da CE. Quarenta euros a vacina, pois agora percebo porque é que uns vão e vêm e não a apanham, para já não falar nos que lá vivem a vida toda e nunca a tomaram nem tomarão. Diz a senhora que esses estão naturalmente imunes ou então talvez possam morrer naturalmente pois lá a vida pode ser curta que pouca diferença faz a quem vive neste lado do mundo.

Os sentimentos estão assim dentro das palavras a atropelarem-se cheios de sentidos ambíguos como uma moeda que na cara pode ser alegria e na coroa pode ser a tristeza. Mas é mais alegria.
~CC~

2 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Descansa, a ambivalência há-de prosseguir num crescendo. Como os balões. É natural. Daqui a um mês já nem te lembras. Já sabias que havia de ser assim. Espero que tenhas seguido o meu conselho e que não tenhas lido o Agualusa antes da partida. Vai serena e regressa para contar o que vires e sentires. Nunca havemos de ficar imunes às misérias do mundo. Habituamo-nos, é tudo. "On n'oublie rien, de rien / on n'oublie rien du tout / on n'oublie rien de rien / on s'habitue, c'est tout.", lembras-te? Abraços :)

João Torres disse...

Leva todas as que puderes e volta depressa para nos contares como foi esse reencontro.