Sim, podem ser todas elas ou talvez não, confio em alguma imunidade que me tenha sobrado da infância. Quinino, aquele comprimido amargo, não me protegerá ainda? Pois a senhora é que sabe, mas o tétano não pode ser depois, isso apanha-se em qualquer parte do mundo. Sim, sei que somos todos uns insconcientes e eu a maior de todas que já nem sei onde anda o meu boletim de vacinas, chega-me ter certinho o da minha filha. Esqueça esse nacional, olhe dê-me um amarelo, um para o mundo todo e se possível algures na lua ou em Vénus. Vénus é um lugar potencialmente perigoso, qualquer febre deve-se apanhar lá e daquelas de que não há protecção possível.
Tome um braço, tome o outro, onde queira picar mais. Já agora uma vacina contra a miséria do mundo ou as outras que que vivem dentro de nós, pois está bem, já sei que essas não estão abrangidas no plano nacional de vacinação. A senhora tem voz certa e segura de quem sabe mas o que me propõe é demais, por hoje chegam só quatro. Sim tenho alguma dor, o braço quase não tem força, mas deve ser a da tifoide a apanhar-me os músculos e amanhã já passa.
Vinte anos ali e nunca tinha vendido uma vacina contra a coléra, pois, não sei que lhe diga, só que antes já tinha corrido umas quantas farmácias e nem sabiam o que era. Mas sabe que antes do 25 de Abril também a recomendavam aos estrangeiros louros que vinham para este cantinho à beira mar. Pois é, foi antes da Democracia e antes da CE. Quarenta euros a vacina, pois agora percebo porque é que uns vão e vêm e não a apanham, para já não falar nos que lá vivem a vida toda e nunca a tomaram nem tomarão. Diz a senhora que esses estão naturalmente imunes ou então talvez possam morrer naturalmente pois lá a vida pode ser curta que pouca diferença faz a quem vive neste lado do mundo.
Os sentimentos estão assim dentro das palavras a atropelarem-se cheios de sentidos ambíguos como uma moeda que na cara pode ser alegria e na coroa pode ser a tristeza. Mas é mais alegria.
~CC~
2 comentários:
Descansa, a ambivalência há-de prosseguir num crescendo. Como os balões. É natural. Daqui a um mês já nem te lembras. Já sabias que havia de ser assim. Espero que tenhas seguido o meu conselho e que não tenhas lido o Agualusa antes da partida. Vai serena e regressa para contar o que vires e sentires. Nunca havemos de ficar imunes às misérias do mundo. Habituamo-nos, é tudo. "On n'oublie rien, de rien / on n'oublie rien du tout / on n'oublie rien de rien / on s'habitue, c'est tout.", lembras-te? Abraços :)
Leva todas as que puderes e volta depressa para nos contares como foi esse reencontro.
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