segunda-feira, 23 de julho de 2007

Ainda os sonhos

Por vezes na solidão de uma tarde de verão tomam conta de mim frases de poemas da Sophia. Ficam insistentemente a morar no meu ouvido com a voz que era a dela e por vezes quero afastá-los por serem dilacerantes ou tristes mas eles permanecem até que adormeço e me chegam dia seguinte outras palavras. Hoje: "depois tu só me destruiste com os teus passos mais reais que os meus". Fico a pensar nestes passos amputados de asas que se cruzaram na vida dela como se eles fossem as sombras que cruzarão também a minha.
Busco então ouvir outros poemas, outras frases e nesse esforço consigo chegar a "para atravessar contigo o deserto do mundo". E penso que só aos passos com asas a travessia é possível, os outros arrastam-se pelo seu realismo, que parecendo sensato é apenas trágico. As coisas são apenas metade do que parecem ser, a outra metade só se vê com os olhos de dentro.
Lembro o meu pai: Em Psicologia filha só se te vão ensinar a ver o que se pode ver. Na altura pensei que as asas dele eram tão grandes, tão grandes que se pareciam com a loucura, mas hoje dou-lhe a parte de razão que cabe nas asas que dentro de nós ainda nos permitem voar. Mesmo que voar implique ter uma parte de nós em terra.
~CC~

4 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Vou contigo nesse vôo, mas não prometo seguir o mesmo trilho...

CCF disse...

De Ruben Alves: MANEIRAS DE SER: “Os que são raízes amam as profundezas. Crescem em segredo em busca de fontes. Os que são asas inquietas anseiam por amplidões. Desenham signos de vôo no azul do sonho infinito.”
~CC~

Cristina Gomes da Silva disse...

Bela resposta. Há tempos tentei fazer a síntese, lembras-te? Se pudesse ser raízes com asas é que ea bom...

Gregório Salvaterra disse...

E se forem passos que se acertam numa dança de corpos colados?
Pode ser uma forma de voar.
Ampla e profundamente. Como o amor descobre.
Voa para sul, sim.
*jj*