sábado, 26 de maio de 2007

"L’air du temps"?

Niki de Saint-Phalle
Châtelet-Les Halles, Place Igor Stravinski

Seja! Mas hoje venho aqui para destoar.
As instituições educativas em geral e as de ensino superior em particular andam, umas revoltadas, outras agitadas. Arrumam-se pessoas como se arrumam cadeiras depois de uma reunião. A troca, o diálogo rareiam cada vez mais. Identidades – por vezes, duramente – construídas e afirmadas são postas em causa, ignoradas, esquecidas.

Ontem, já noite, fui, como todos os colegas de , destinatária de um convite para participar na apresentação da nova estratégia institucional e dos respectivos logótipos. Andam animados nestes festejos mas sem que isso traduza grande dinâmica interna, pontes, aproximações, enfim daquilo que pode, de facto, traduzir a construção de uma verdadeira identidade institucional, em que cada um se reveja e em que cujas actividades sejam um real contributo para essa construção e manutenção .

Até aqui, tudo aceitável mesmo que não se goste. Mas ao ler o resto do convite comecei a ficar gradualmente incomodada. Não sei se era o tom do discurso, ou mesmo o “cheiro” que dele exalava.

Estaquei quando li «O “reforço da identidade IPS e a construção de uma imagem comum forte, moderna e clara no que respeita aos objectivos da instituição e aos seus traços distintivos” é um dos objectivos consignados no Plano». A imagem comum forte, moderna e clara, assim enunciada não sei o que é. Aliás, moderna tem hoje um ar démodé, para não dizer mais.

Mas foi com alguma incredulidade que li a frase seguinte «prevendo-se a “criação de um novo logótipo e um Manual de Identidade Corporativa comum às Unidades Orgânicas”». Não consigo sequer conceber como é que uma instituição que diz querer ser moderna possa criar e vir a público apresentar tal “objecto” - Manual de Identidade Corporativa - com uma designação de tal modo, anacrónica e bafienta.

O meu espírito é, então, atravessado por angústias diversas. Penso, para me tranquilizar (só superficialmente) que é só uma designação. Mas, mesmo não tendo medo das palavras, sei que os significados são o que são e também aprendi, acho que com P. Bourdieu, que “a classificação classifica o classificador”...

Nos tempos que correm não me parece que esta designação seja inócua e não intencional. Nos tempos que correm lamento que às vezes não sejamos mais activos. Nos tempos que correm acode-me ao espírito cada vez com mais frequência o poema de B. Brecht:

Nada é impossível de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

Bom fim-de-semana
PS: Também sei que estas modernices made in USA têm de ser importadas com moderação e que Corporation não tem exactamente o mesmo significado aqui e lá.

1 comentário:

CCF disse...

Não destoas nada! A indignação é seiva da melhor.
~CC~