quarta-feira, 18 de abril de 2007

O futuro nas minhas mãos


As mãos disse-me. Eu ia dizer: não acredito. Eu ia dizer: está a falar comigo? o meu mundo é o da Ciência.... E depois disse: tome-as.
Ela olhou para elas algum tempo em silêncio e eu pensei que estava a ver algumas das minhas tragédias. Mas simplesmente murmurou baixinho: tem demasiadas linhas...Pensei no que um amigo adepto de religiões várias me tinha dito tinha eu apenas 15 anos: esta é a tua última vida, tu não voltas cá mais, tens demasiadas linhas, o que quer dizer que já és muito velha. Mais vidas...cresci a pensar que por causa destas linhas todas esta era a minha última, nem sequer poderia voltar transformada em alface ou coruja. Mas nunca pensei que tantas linhas tornassem as minhas mãos inaptas para qualquer leitura do futuro. Eu já ia a retirá-las e sair de mansinho quando ela começa a falar. Conta-me assim tudo da saúde, do amor, do trabalho e do dinheiro. Oiço-a em silêncio. Quando acaba, pergunto-lhe se as linhas não atrapalharam a leitura. Ela responde que sim, que são muitas e se cruzam todas e assim sendo não me pode dar tantas certezas, mas que tudo é muito provável. Perguntei-lhe então se para segurar em flores as minhas mãos serviam. Acenou com um sorriso e ficámos cumplices. Parece-me que o futuro está mais ou menos garantido.
~CC~

7 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Claro que está! E se as entrelaçares noutras também.

João Torres disse...

Gosto destas mensagens optimistas.... Será que também posso pedir a alguém para ler as minhas?

Anónimo disse...

É por já teres tantas vidas que és tão sapiente, tão toda luz e tão toda ternura.

CCF disse...

Obrigada Marta pelo elogio, enorme!
~CC~

CCF disse...

Anda cá mocinho JV Torres que eu leio as tuas mãos e faço desconto pela companhia que me fazes aqui onde ninguém nos lê... Mas olha que a receita da mocinha CGS também pode ser uma alternativa válida(e mais bonita) para o que podes fazer com as tuas mãos:) E desculpem o tratamento algarvio...
~CC~

j disse...

"Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias."

Sophia de Mello Breyner Andresen

:)

Anónimo disse...

Sabem o que vos digo, a todos vocês que (não) nos lêem? Isto está tão afinadinho que um dia vamos fazer uma orquestra...;)