segunda-feira, 23 de abril de 2007

Chás ao crepúsculo


Eu agora vou contar-te um segredo para que o divulgues.
Já não trabalho no mesmo sítio. Eu agora sirvo chás ao crepúsculo junto de um rio.

Eles chegam muito cansados e com os olhos gastos. Eu analiso cada uma das pupilas para as ver à transparência da luz que vem quando o sol se despede de nós e a lua está prestes a chegar. É o momento ideal para conhecer as pesssoas. Trago a caixa dos chás, aquela de madeira escura que veio do oriente. Analisamos o chá que combina com a sua alma e escolhemos em conjunto, combinando os nossos mundos interiores. O meu chá preferido é o de rosas vermelhas, mas nem sempre é o mais recomendado, é muito quente e inflama os corações de muita paixão e por vezes eles precisam de paz, nesses casos recomendo-lhes lilazes e flor de aniz.

Sei no que estás a pensar. Queres saber se lhes leio as mãos. Sim às vezes leio, mas com o aviso de que o destino não está nas linhas que as cruzam mas sim nas próprias mãos. Leio-as como quem brinca com um jogo antigo, forjado na cinza dos séculos.
Há por ali quem recolha animais e cuide deles, mas não eu. O meu mundo é das ervas e das flores e dos olhos e da escuta.

Também há livros espalhados por todos os lados, pintando a paisagem de letras.

Sabes eu agora sou (quase) feliz. É que eu sirvo chás ao crespúsculo. Apareces por lá?
~CC~

11 comentários:

j disse...

Está perfumado de paz, este texto. :)

Luísa disse...

como se pode resistir a um convite feito de chá e poesia?
e ler nas folhas de chá que descansam ainda quentes no fundo de uma chávena? já experimentaste?

Anónimo disse...

Uma vez, no Equador, tomei chá num sítio assim. Na volta eras tu que lá estavas na pele daquela índia e que me perseguiste até aqui para leres a minha mão...

Anónimo disse...

Um chá ao crepúsculo junto ao rio?

Já estou a caminho.
Talvez de lilas ou de anis...de mãos abertas

Cristina Gomes da Silva disse...

Cá te esperamos, Marta, vem também de coração aberto. :)

JPN disse...

irrecusável o convite!

CCF disse...

(CGS)Nasci branquinha numa família de mulheres morenas e (Luísa)aprendi algumas artes de leitura mas sem dúvida mais limitadas que as tuas, entre as quais se conta(sim, Marta) este culto pelos encantos do chá. Nos dias maus fecho os olhos e imagino que tenho luz e (J) estou em Paz. As palavras nascem-me assim de olhos fechados mas fico feliz de vocês as receberem assim de olhos tão abertos e doces.
~CC~

CCF disse...

JPN, só agora vi que chegaste para o chá mas aqui nunca ninguém chega atrasado. Agradeço teres divulgado o meu lugar junto ao rio, assim sempre vem mais gente do Teatro para uma tisana.
~CC~

Cristina Gomes da Silva disse...

Caramba! isto vai mesmo ser uma festa de cores e aromas.

Luísa disse...

CC, artes de leituras... minhas?! houve dias que julguei saber ler nos olhos e nos rostos... nunca em folhas de chá, por isso perguntei-te se sabias...
hoje, limito-me a olhar... esquecida (ou querendo-me esquecer) da leitura (/interpretação)... saboreando chás, ocasos e águas mansas de rios.

Anónimo disse...

Humm... é bom ser (quase) feliz. O espaço e tempo fundem-se num gigantesco universo do tamanho de um átmo... é aqui e agora que sabemos o maior dos pequenos segredos. Tu já o sabes, tal como os "nós" de um pequeno rio que partilha... talvez um chá de Aniz. ;)