quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Ela está em todo o lado...

Há dias em que ela vem espreitar-me e pede para entrar em mim a todo o momento. Penso que se a deixar entrar estou perdida porque não consigo fazer outra coisa que não seja respirá-la. Se me fechar para ela fico mais tranquila mas corro o risco de o cinzento me tomar. Explico-vos.

Ontem, fui eu ao encontro dela, queria ir...foi ali na casa Fernando Pessoa, a voz de Afonso Dias*, trouxe até nós esse pastor que morava numa cidade e criava ovelhas dentro de um escritório e por se querer tanto deslumbrar com uma flor deslumbra-nos com o olhar do pastor que olha a flor. Depois seguiram-se histórias fascinantes sobre o nosso poeta mais fascinante. Estava certo, eu tinha ido à procura dela e por momentos ela tomou-me mesmo nos braços. Disse-lhe: vem!

Mas hoje não era suposto. Apareceu enquanto estudava Ciências da Natureza com a minha filha que amanhã tem teste. Devia suspeitar porque o título do Manual era "Terra Viva", qualquer coisa que tem logo algum calor. É que há nós e entrenós nos caules aéreos. E os entrenós são mesmo esses espaços entre nós, assim uma espécie de intervalo, tempo, silêncio (não, se calhar não é bem isto). E há gemas e gomos e estes são uma espécie de "botão que dá origem", como quem diz que se o sol chegar com alguma água e Primavera, a vida é coisa que provavelmente desperta (não sei se é bem isto). E as nervuras são canais onde circulam as seivas, que é como quem diz estradas para a ternura poder passar quando o escuro nos insiste em aparecer (não podes dizer assim isto no teste). Deixa ver agora os os limbos...então não é que são feitos de páginas; uma página verde mais escura e outra mais clara, como quem nos diz que há dias assim também em nós, escuro como quem entristece e claro como quem amanhece (é melhor desistir de estudar contigo!). Disse-lhe: vai! (mas volta, mas volta...)

~CC~


* Afonso Dias é um declamador de poesia, dos poucos que nos sobram. Diz bem, diz bonito. E publicou um CD em que nos traz o Guardador de Rebanhos do Caeiro que era o Pessoa. Procurem, não deixem a poesia abandonar-vos.

3 comentários:

João Torres disse...

Ainda bem que a deixas entrar...

Ainda bem que a encontras e que a espalhas...

Ainda bem que tentas mostrar como é bela aos que nasceram em terras de gente rude mas de coração grande.

Ainda bem que escreves aqui!

Obrigado por mais uma lição.

Anónimo disse...

Quando te pedi para me fazeres perguntas de ciências, pensei que desse pedido sai-se o normal questiónario que os pais fazem aos filhos, com as perguntas normais sobre os caules, as raizes e as folhas. Mas enganei-me tu tornaste o meu livro de ciências num verdeiro "Rosa do mundo"ou num ilhas.
Isso deu-me uma grande ideia para a tua prenda do dia da mãe ...

Anónimo disse...

Repito frase por frase o que disse o João,
acrescento mais um obrigado pela dica do declamador de poesia Afonso Dias.
Beijinho Carla