Fez ontem um ano que me saí não só com vida mas absoltutamente inteira (pelo menos por fora)de um acidente grave de viação. O minuto do despiste e a morte à frente recordo com o desejo absoluto de vida que tive. Um desejo tão forte e tão intenso que talvez resida nele o facto de estar aqui a escrever neste blogue que ninguém lê(a não ser talvez a Claúdia). E enquanto pensava no sabor da minha vida - uma espécie de vida segunda- pensava também na banalidade com que as mortes acontecem assim de repente e às vezes tão estupidamente. Veja-se a fila de homens que aguardava por um emprego no Iraque e no fim dela o que os esperava era um bombista. Como podem os homens guardar bombas e explodi-las contra os seus?! E a forma como se varriam as ruas, acolhiam os feridos, se enterravam os mortos tinha a violência dos actos banais. Há qualquer de muito estranho no mundo, há qualquer coisa de absurdo, de doloroso, qualquer coisa que sei que por me doer nunca me deixará ser inteiramente feliz. Todas as semanas há estas bombas a explodir e a matar pessoas naquele lugar do mundo e a forma como isto é dito é de uma conformidade assustadora. Mais um atentado, mais uma bomba, mais um país sem rumo, mais vidas sem nada de seu.Pela minha vida que ainda amo tanto e pela vida daqueles que eu amo tanto, ainda me tocam as que se foram assim tão sem sentido.
CC
quinta-feira, 14 de dezembro de 2006
Publicada por CCF às 09:24
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4 comentários:
Olá CC,
Eu já li e gostei muito. Obrigado por escreveres num sitio que não é lido por muitos. Ainda bem que o acidente te deixou intacta e, quem sabe, talvez, ainda melhor do que já eras.
O mundo tem de facto coisas muito estranhas... O melhor mesmo é aproveitar os intervalos e ir contruindo as pequenas coisas que ainda nos podem tornar um pouco felizes e resistir à desumanização da humanidade.
Um beijo (a caminho)
Safa! ainda bem que tiveste sorte.
Aqueles atentados começam a ser banais o que é uma tristeza.
Nem sei bem qual a maior se haver atentados, ou nos estarmos nas tintas para eles.
A vida é uma linha. Às vezes com nós, às vezes com reticências. A sabedoria está em saber dar-lhe continuidade apesar dos nós e das reticências.
Hoje o dia acordou com sol. Que bom! Há um ano atrás lembro-me que havia nevoeiro.
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