quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Nós na garganta

Os meus amigos sabem porque tenho andado arredada. Agora é a minha vez e eles sabem porquê. O cara-metade, como o João gosta de dizer, regressou 45 dias depois do atropelamento que poderia ter-lhe tirado a vida. Regressou há 5 dias e só hoje conseguiu romper o silêncio e desfazer os nós da garganta. Hoje conseguiu dizer o que tinha sentido ao cair numa rua de Paris após o choque do automóvel, cujo condutor fugiu: "pensei que seria muito estúpido morrer numa passadeira". E afinal o que nos resta? Viver cada pedacinho de vida como se fosse o último. Em Trás-os-Montes na Estefanilha ou em qualquer lugar do Universo.

Assim, neste bocadinho roubados aos meus doentes, aqui vos deixo com outro dos meus poetas de sempre.

As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade
Vês João, porque é que eu teria muita dificuldade em responder áquela tua pergunta sobre os filmes e outras fontes de inspiração e iluminação...?

1 comentário:

João Torres disse...

As melhoras para os teus doentes...

Bjs
JT