quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Borbulha d’Kotchim II

Borbulhas d' Kotchim
Sofia

Já lá tinha estado algumas vezes depois da Gabs lhe ter proposto perguntar pelas histórias do kotchim. Movimento era pouco e Toi Bintim debruçara-se sobre o balcão em posição de descanso pronto para pensar a vida, depois de me servir o cafezinho. Contei de ter passado no ‘borbulhas de kotchim’ aqui há dias. Que ele saberia a origem daquele baptismo.
Iluminou-se sorridente. Hã! Aquele diabo de kotchim. Tinham crescido juntos até ele ter ido pra ‘merca’ trabalhar. Tinha tido carta de chamada de um primo afastado que nem conhecia. Nunca mais soubera dele até que vapor o tinha trazido, muitos anos depois, já ele era pai de filhos e tinha ficado com o botequim do pai.
Kotchim viera com a pujança toda e a cabeça cheia de novidades para a sua terra.
Com ele trouxera uma geringonça que, dizia, ia trazer prosperidade à terra. Ia transformar os carreiros todos em estradas até perder de vista e os patrícios não gastariam tanta sola nem tempo para pôr o milho e feijão na beira do embarque. Levou dois anos para poder tirar sua máquina da alfândega, com toda a confusão de papéis ‘merca vai merca vem’. Com os senhores lá da administração da fazenda foi tanta a salganhada que cada ida ao posto era uma história, já não via fim aos seus propósitos. O largo onde ficara estacionada, a famigerada máquina, ia sofrendo alterações e ela nem se mexia. De armazém fora prá beira de passeio e quando resolveram fazer ali o jardim d’alfandega a máquina ali ficara. Parecia de enfeite.

Kotchim era amigo da terra e amigo do seu amigo mas fervia em pouca água e começara a ser motivo de troça do povo. Alguém comentara que kotchim fervia como a caldeira de ribeira grande. Eu não sabia como era gente da terra? Fora o dia do baptizado. Riu-se e eu com ele ao sabor daquele aroma inigualável por esse mundo fora. Café.

Sofia

Ps. Obrigado Sofia pelo princípio da história...
Como a imagem, também a história da Sofia
tinha duas partes.
Aqui fica a segunda ou...
a primeira.


4 comentários:

Gregório Salvaterra disse...

Bonita short story com algum cheiro de ilhas crioulas, no melhor da linha dos claridosos.
Boa!
jj

Anónimo disse...

JVT desculpe eu não ter percebido que o todo não estava a 'desafio'.


JJS o exagero do elogio deixa-me constrangida pelo imerecimento,
é quase blasfémia :)))

Obrigada por ter gostado.

Sofia

João Torres disse...

Não há nada a desculpar... Até porque não foste a única.. o que prova que a "culpa" foi minha!

Um abraço, sem remorços... Afinal, o texto é lindo!

João

deep disse...

Ainda bem que houve um equívoco - assim, resultou uma bela história!