terça-feira, 1 de julho de 2008

Correntes...

Eu tinha uma corrente chamada medo que me aprisionava a mim mesma.

O medo é a matéria de que se fazem as viagens interiores aos nossos pesadelos.

Por isso essa corrente aprisionava-me ao medo de ficar para sempre presa num espaço do qual não pudesse sair. Era o medo de estar no elevador, na ilha, no avião, no meio de uma ponte ou até dentro de um carro desconhecido. Todos os espaços quando se fechavam eram o palco do meu medo: a persiana descida na janela, a porta a encerrar uma divisão da casa, o corredor do qual não se vê o fundo, um barco no meio do mar. Medo de todos os lugares dos quais não poderia sair por mim mesma.

Por isso essa corrente aprisionava-me ao medo dos braços dos outros por eles se poderem fechar sobre mim num abraço sufocante, ao medo de um corpo que se pudesse deitar sobre o meu, às pessoas altas e grandes que pareciam poder fazer-me desaparecer só com a sua sombra. Até um beijo podia fazer-me medo.
Medo de todas as pessoas capazes de me reter pela força, de me forçar a alguma coisa.

Foi pela consciência das correntes que me ligavam ao medo e do modo como as tinha construído que comecei a construir a minha liberdade. Nunca poderei dizer que as correntes são feitas de vento, mas poderei dizer que o seu ferro é leve, tão leve que se me esforçar o posso arrastar.

~CC~

Nota: É sempre um prazer abrir o blogue que ninguém lê à participação de todos os que por aqui vão passando. Desta vez devem andar todos muito atarefados pois, ao contrário de outras ocasiões, só a ~CC~ respondeu ao desafio. Mesmo assim valeu a pena. Quem não gostaria de publicar um texto da menina que escreve isto? Haver apenas uma respondente torna a classificação e atribuição de prémios muito fácil!
~CC~ escolhe o dia e o restaurante este texto vale bem um jantar...

6 comentários:

Anónimo disse...

5 salvas de palmas:
clap, clap, clap, clap, clap

(aplaudido de pé)

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Quer dizer que há prémio e tudo?!
Muito bem, sim sr! O próximo é para mim... cof, cof, cof

João Torres disse...

Olá Kris,

Claro que há prémio!

Isto é um concurso a sério aprovado pelo Governo Civil e tudo.

CCF disse...

Vamos lá a escrever que o JVT alarga o prazo e as sardinhas em Setúbal são do melhor que há!
(dito isto, está visto, que qualquer boa tasquinha me serve, olha só se eu fosse escolher "a Dona Bia", não havia mais desafios no blogue e muito menos prémios à escolha).
Beijinho
~CC~

Anónimo disse...

o medo é um estado de inocência , e portanto arcaico... não é »a propos» do medo que se constrói a liberdade... apenas se constrói uma pequena parte, direi quase ínfima de todos nós...
gostei de ler ...
cordialmente
José Ribeiro Marto

Ps- espero que ninguém tenha medo de aqui vir comentar, nem que seja com a sombra de um niqueneime

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Desculpe a não participação da minha parte, eu que gosto tanto destas coisas! Mas desta vez não me sentia lá muito bem humorada para desafios, ainda que sejam bem interessantes. Mas, se conseguir fazer alguma coisa que pense ser de "jeito" e mesmo fora do tempo, enviarei. Bjs.

João Torres disse...

Olá Girafa cor de Rosa...

O importante é que o humor volte!
Quanto ao tempo não se preocupe... Os textos dos amigos chegam sempre a tempo!

Bjs
João