segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O teu riso

Ouvi agora o podcast do programa "O Amor é..." do professor Júlio Machado Vaz e Ana Mesquita.
O Júlio Machado Vaz leu, no fim do programa, este poema de Pablo Neruda. Mesmo não tendo acabado o curso de poesia não pude ficar indiferente.... O google fez o resto. Espero que não seja crime trazer palavras bonitas para sítios onde não são lidas!

O teu riso


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

2 comentários:

Teresa Pombo Pereira disse...

adoro não ler
não descobrir
e não me deliciar
com os poemas que também aqui deixas!

beijinho

Cristina Gomes da Silva disse...

Ora aqui está um "aluno" cheio de autonomia :)