terça-feira, 28 de agosto de 2007

Sentires subterrâneos*

Sentires subterrâneos. É como percepciono a efervescência “blogueira” cá do "burgo".

Penso que se não fosse a Internet e agora os blogs não era possível uma rede tão larga de partilhas de palavras, sentires, emoções, pensamentos. Mas, para mim, tem limites. É o grau zero, não da escrita mas da troca, da comunicação, no primeiro sentido do termo: pôr em comum.

Penso ainda que há um país que fervilha nesta actividade, um país de que se fala pouco nos jornais, na televisão (aquela para quem alguns é uma forma de existir, quase exclusiva. Não passa na televisão? Então, não existe!)

As cumplicidades assim tecidas, ficam numa dimensão etérea. Por mim preciso de sentir de perto, de tocar, de ouvir, de ver, de rir ao mesmo tempo, de sintonias simultâneas.

O meu avô materno, que tinha uma personalidade um tudo nada autoritária, se não mesmo fascista, era um profundo admirador de Salazar e nunca se recompôs do 25 de Abril. Esse mesmo avô, mandava os filhos e filhas apanharem a fruta das árvores da quinta e depois deixava-a apodrecer impedindo-os de comer, esse mesmo avô nunca me deu um beijo, esse mesmo avô costumava dizer, cinicamente, que quanto mais conhecia as pessoas mais gostava dos cães.

Pois eu sou exactamente ao contrário. Sem ingenuidades, nem hipocrisias, continuo a gostar muito de descobrir pessoas e a achar que quando valem a pena é bom tê-las por perto.


*No sábado passado, o meu amigo V. deu-me a ouvir uns Srs. desconhecidos para mim, que muito gostei de "conhecer" e que me acompanharam neste bocadinho de escrita: Tord Gustavsen Trio, The Ground, ECM, 2004

4 comentários:

CCF disse...

Pouco a pouco deste a volta à herança deste avô...há lá coisa melhor que beijos! :)
~CC~

Cristina Gomes da Silva disse...

Sabes, companheira, foi longo e lento o caminho que me levou à percepção desta herança. Às vezes, as heranças simbólicas são bem mais difícies de gerir do que as outras... Beijos a rodos :)

Anónimo disse...

É uma honra ser teu amigo (é a primeira vez que me designas dessa maneira, quase vinte anos foram precisos). É uma honra contribuir para a tua ânsia de descobrir. Bjs

Cristina Gomes da Silva disse...

Pois é, rapaz, há coisas que não precisamos de dizer, só de sentir. Acerta lá essas agulhas, abre bem os olhos, as orelhas e o coração, aprende com o Óscar e venham daí mais músicas. Bjs e abraços