quinta-feira, 2 de agosto de 2007

(Re)leituras de Verão

Há quem faça limpezas de Verão, eu gosto de fazer releituras.

Gosto muito de regressar aos livros de que gosto. Assim, como fazemos com os amigos que não vemos há muito tempo: pegamos no telefone e ligamos - "Então, há novidades?" - "Não, era só para saber de ti, se ainda estavas por aí"; - "Claro! Temos de nos encontrar um dia, mas fiquei contente por teres ligado"...e por aí adiante. Com os livros é parecido. Hoje apeteceu-me falar com (d)este:

"Brilha o céu, tarda a noite, o tempo é lerdo, a vida baça, o gesto flácido. Debaixo de sombras irisadas, leio e releio os meus livros, passeio, rememoro, devaneio, pasmo, bocejo, dormito, deixo-me envelhecer. Não consigo comprazer-me desta mediocridade dourada, pese o convite e o consolo do poeta que a acolheu. Também a mim como ao Orador amarga o ócio, quando o negócio foi proibido. Os dias arrastam-se, Marco Aurélio viveu, Cómodo impera, passei o que passei, peno longe, como ser feliz
?"

in, Mário de Carvalho, Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde, Ed. Caminho, 1994

4 comentários:

Teresa Pombo Pereira disse...

Cristina, sem desmerecer o João e a Carla, posts excelentes os últimos. Culpa da literatura que só escreve assim quem muito e bem lê.

Adorei o regresso ao passado proposto à conta das fotos da 3za. É só fecharmos os olhos. E é tão fácil e bom. Quando conseguimos que os alunos o façam.... ai que bom... lembrei-me de uma visita que organizei à Lisboa medieval por culpa do Sr. Fernão Lopes.... :-)

beijinhos
pelo que escreves e pelas memórias que trazes contigo.

Beijinhos Carla e João por causa dos ciúmes ;-)

Cristina Gomes da Silva disse...

Quanta simpatia Teresa! Obrigada. Sabes, um dos meus maiores prazeres é pensar que consegui instilar nas minhas filhas (B. quase 10 e C. quase 4 anos)o "vício de ler" (com a devida distância para a mais pequena, que gosta de livros mas não é nenhum génio), esse "vício ainda impune" no dizer de Michel Crépu (estou a escrever de cor, perdoa-me alguma incorrecção), in George Steiner, O Silêncio dos livros, Gradiva, 2007

Unknown disse...

«- Como está a sair o trabalho?
- Uma merda!, diz o escritor-que-detesta-escrever com a náusea de quem está positivamente farto da amante.
Mas não está.
Na 'rentrée' aí o temos, cegarregas à espera, cartaz na montra e a caneta atestada dos «muito cordialmente» com que irá autografar o produto do seu trabalhoso talento.

(Alexandre O'Neill, «Uma coisa em forma de assim»)

Cristina Gomes da Silva disse...

Boa tarde, Maria. Obrigada pela visita. O'Neill um outro entre os eleitos.