domingo, 8 de julho de 2007

Esta rua é minha!

Alguns sonhos distanciam-se de nós até nos esquecermos deles ou então não diminuem o seu tamanho mas tornam-se na sua impossibilidade de concretização sangue do nosso sangue, alimentando-o, à vez, de amargura e de doçura. Outros aproximam-se tanto de nós que à velocidade da luz estamos dentro deles.

Nem tive tempo de pensar bem e já estava na minha rua numa outra cidade. Quase tudo o que amamos no mundo pode estar dentro de uma rua. Acontece com esta, comigo acontece com esta. É uma rua que prolonga uma ponte e por baixo dela corre um rio belo. É uma rua onde o teatro vive pujante nas suas diversas formas de existência. Em todo o lado há bonecos e bonequinhas e monstros de espuma e papel e vidro. Os livros espreitam dentro dos cafés, quase todos têm livros nas estantes, livros usados que podemos tirar da prateleira e ler. Em todo o lado, o pó dos séculos aparece recheado de histórias, num convivio espantoso com o creme colorido dos gelados e as pessoas de todo o mundo. Há olhos de todas as formas e de todas cores e línguas que se misturam como se as fronteiras não fossem mais que riscos no papel dos mapas. A rua termina para dar lugar a uma praça muito bela, à qual regressarei mais e mais vezes para a ver a várias horas do dia, à hora certa de preferência. Esta rua nasce numa ponte e termina numa praça e faz das suas sombras a luz que me encanta.

Não sei exactamente como designar aqueles que teimam abordar os sonhos como se eles fossem sempre dessa certa possibilidade de existir, mas sei que isso me encanta, essa certeza que alguns conseguem trazer no olhar. Tu às vezes és assim, pareces tratar alguns sonhos como coisas que se podem comer e por isso vais direito a eles preso dessa vontade. Outros sonhos não te correm por dentro, talvez sejam sonhos não comestíveis.

Já eu desenho e desenho sonhos no papel dos dias e assim que um salta das duas dimensões para as três, eu olho para o caderno dos desenhos tentando conter a vontade do meu lápis dançar mais e mais. Quantas ruas como esta e sem ser esta terá o mundo?
~CC~

7 comentários:

Mar Arável disse...

NA VIDA,H� TANTAS RUAS POR DESBRAVAR - QUE S� ME APETECE ANDAR
NAVEGAR POR SOBRE AS ONDAS AO SABOR DO VENTO - MAS DE PREFER�NCIA CONTRA AS MAR�S - NO MAR DESGRENHADO - � DESCOBERTA DE NADAS QUE ME S�O - NOS S�O -APARENTEMENTE ESSENCIAIS.

João Torres disse...

Bem vinda de volta...

Cristina Gomes da Silva disse...

Já voltaste e eu sem saber de que rua vieste. Ou terás vindo da praço passando primeiro pela ponte. Fizeste-me lembrar algumas páginas de "Budapeste"...

j disse...

Que belo texto! Está muito bem entregue, esta rua.

CCF disse...

Ai João, queria saber dizer obrigada em Checo, mas quase só aprendi o nome das estações de metro.
CGs, parece que o Chico escreveu o livro sem ir a Budapeste...quase inacreditável! Mais um dia ou dois e teria lá ido.
Pois é Jota, não vivendo em Almar nem em Montemor, podia ser mesmo nesta rua de Praga. :)
Mar, o nome do blogue diz quase tudo sobre a vontade da viagem, que sejas bem vindo por cá.
~CC~

Gregório Salvaterra disse...

Dobrý den.
Vim cá apenas para dizer:
Miluju te!
Děkuji por existires.
Polibek mne.

Idioma difícil este!
Mas há palavras que soam bem em qualquer língua...
*jj*

CCF disse...

JJ, agora que escreves em Checo...é que começo a perceber!:)))