quinta-feira, 3 de maio de 2007

Perdidos e achados (I)

Eu confesso que li mas fiquei calada como acontece (quase) sempre quando me fazem pensar. Diz o senso comum, esse senhor que que acha que sabe muito, que Freud explica. Para lidar com a quantidade de vezes que me perco e perco coisas e ainda com os erros que mesmo infímos se tornam fatais se forem em formulários informáticos ministeriais, encontrei uma fórmula.

Penso que se perdi uma coisa há qualquer outra que vou achar ou então que se aquela coisa for realmente importante ela volta para mim, encontra o caminho de volta. Podem acusar-me à vontade de realismo mágico, mas acho que isto já me acontecia antes dos cem anos de solidão do Gabriel Garcia Marquez. Esse livro e outros (Borges, oh Luís...) foram apenas mais pó de estrelas a juntar aquele que trazia quando nasci. Dizem que um pouco de loucura nunca fez mal a ninguém.

Deixo hoje apenas um episódio.

Quando vou a Lisboa gosto de deixar o carro perto de duas casas de estudo que já foram minhas, é como se ficasse por lá abrigado. Depois vou onde quero ir de transportes públicos. Gosto de ouvir o que dizem as pessoas e quem são elas, acho que é sobretudo isso. Mas percebo já muito pouco das carreiras ao ar livre, das linhas por baixo da terra que se multiplicaram em cores e dos amarelos que agora são publicidade andante. Penso como é possível que tudo se transforme assim tanto em apenas seis anos de ausência. Perco-me então. Coisas pequenas de correcção fácil.

Mas no outro dia o autocarro inclinou-se por uma rua estranha e escura e eu achei que não era por ali que queria ir, mas segura que a rua era mais ou menos paralela à que eu procurava. No entanto, não consegui localizar-me mas quando dei por mim estava na rua do Figueiredo, até aqui tudo bem, fez-me sorrir porque reconhecia aquele apelido. A seguir entrei no beco do Figueiredo, no Largo do Figueiredo, na travessa do Figueiredo...tudo ali era Figueiredo, como se tivessem inventado um bairro de Lego ou Monopólio. Pensei que tinha morrido ou pelo menos tinha entrado sem saber num filme de David Lynch. Senti falta de ar, não conseguia sair dali, enredada em tanto Figueiredo. Por acaso é só o meu último nome, apelido de família, por acaso um nome que quase nunca uso. Lapsos, é o que é. E não se esqueçam que Freud explica.
~CC~

5 comentários:

j disse...

Jura! (A realidade ultrapassa sempre a ficção...?)

Cristina Gomes da Silva disse...

Felizmente encontraste o caminho de volta para a Estefanilha ;)

João Torres disse...

Olá eu também adoro andar perdido... Às vezes até brinco dizendo que com o GPS é mais difícil mas mesmo assim... consigo!

Também concordo com a ideia de que as coisas realmente importantes acabam por voltar. Pena é que às vezes demorem muito tempo... Da ultima vez que perdi os óculos demoraram tanto tempo a voltar (3 meses) que quando vieram já tinha outros... Mas mesmo assim valeu a pena voltarem! Agora perdi os novos (ou melhor, continuo à espera que voltem) e ainda bem que tenho os velhos!

Esta manhã voltaram duas canetas de que muito gosto e que me pregaram um pequeno susto ontem quando vi que tinham ido passear! Não vou contar todas as vezes que me perco ou perco alguma coisa... Não há espaço!

Bjs

Cristina Gomes da Silva disse...

Tá bem, tá bem, percam lá as ruas, as canetas, os óculos, os chapéus de chuva, as chaves do carro, o Norte (de vez em quando), o comboio, o programa do A.Barreto...mas, por favor, não se percam de vocês nem de nós :)

Anónimo disse...

Nan, João!

Ainda não percebeste.

São os fantasminhas que brincam connosco.