segunda-feira, 2 de abril de 2007

Ofício da escuta

Parece que todos estão lentamente a sair dos seus lugares em busca de um outro em que possam descansar uns dias, deixar os caminhos de sempre, ver outros rostos, tomar café fora do sítio do costume. Precisamos respirar (deve ser o que andam a fazer os meus dois companheiros de "ninguém lê").

Vario também os meus caminhos mas não para repousar(ainda), mas para respirar um outro estar.

Desconheço caminhos que já foram meus e penso como é possível já me perder neles. Quando deixei a cidade acho que o último autocarro tinha por designação carreira 93. Como é possível que seja agora o 327 a conduzir-me até aos lugares em que preciso estar em silêncio para escutar o que outros têm a dizer? De qualquer modo gostei particularmente desta carreira, percorre alguns lugares bonitos e, sobretudo, deixa-me ver várias vezes o rio.

Pratico o ofício da escuta. Primeiro ela: fala cerca de uma hora e 39 minutos. Depois ele, fala cerca de uma hora e 47 minutos. Gravo ou tomo notas, ao sabor da decisão deles. Quase não falo, fico a ouvir as suas hsitórias. Sei que os faço sentir importantes porque o somos sempre quando alguém nos escuta. A partir dos caminhos traçados por eles vou desenhar outros até preencher o meu mapa. Se conseguir, se encontrar o sentido para as ruas, travessas, largos e avenidas.

Gosto particularmente deste ofício da escuta.

~CC~

5 comentários:

j disse...

[leitura, em silêncio].

Compreendo. O ofício da escuta é um belo ofício, seja qual for o mapa.

Shiu!!

Anónimo disse...

A companheira tem andado com o nariz entupido, com dificuldade em respirar. Mas tenho escutado as meninas, sobretudo. São alimentos para a alma estas escutas do que elas dizem. Diálogo de ontem à noite, à hora de adormecer: Mãe: "Tu e a mana são manas até morrerem"; Estrelinha mais pequena: "Vamos ser manas para sempre, porque não morremos nunca". Fiquei emocionada com isto que escutei. Deixa-me voltar a respirar melhor...

João Torres disse...

O companheiro tem andado a escutar outra língua, e a procurar rãs numa parede. Hoje já está por cá, de regresso à rotina.

j disse...

E o que dizer, caro jovtorres, (sem querer estragar o prazer da demanda aos vindouros)do algo macabro poiso escolhido pelo batráquio? :-)

CCF disse...

Companheira, belo ofício da escuta o teu! A minha ontem ao telefone: o que foste fazer a Lisboa mãe? Eu: umas entrevistas...Ela: para quê? E eu...(uf, desta vez até se contentou com a resposta). Mas eu é que fiquei com a pergunta...para quê?
(e também a pensar nos caminhos e nos mapas e...)