Anos e anos a ouvir que os homens não choram. Anos e anos a receber carinho só da mãe. Ao pai, que também tinha ouvido a mesma história, cabiam os ralhos e os castigos. Anos e anos a perder-se nos labirintos da tristeza sem encontrar o caminho de saída.
Um dia, já crescido, frente à televisão, vê um anúncio a máquinas de lavar. Fabuloso, a preto e branco. Em primeiro plano, um homem lindo segura, com desvelo e um olhar transbordante de ternura, um bébé igualmente lindo. Ao fundo uma máquina de lavar em funcionamento e a frase "Ter tempo para as coisas importantes".
Quis ser assim como o homem do anúncio. Quis, assim, experimentar a leveza da ternura. Quis, assim, afastar as cortinas da tristeza e espreitar ao postigo da claridade alegre e colorida.
Anos mais tarde soube que um grupo de mulheres (daquelas que acham que a ternura e a sensibilidade são monopólio feminino) se tinha insurgido contra o anúncio e resolveu responder-lhes, através de todas as outras com quem se cruzou na vida, com um sorriso desarmante e uma ternura desmedida que tinha encontrado poiso nos filhos então nascidos.
segunda-feira, 16 de abril de 2007
Homens tristes III (e por agora chega.)
Publicada por Cristina Gomes da Silva às 13:33
Etiquetas: Homens tristes
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Não há homens nem mulheres completamente tristes nem completamente felizes, parece-me. Eu sou triste às vezes, outras imensamente feliz, tão feliz quanto a inocência perdida me deixa. Tão feliz quanto haver pessoas que me fazem feliz. Tão triste como estar acordada, perante a crueza do mundo. Mas estão bonitas as histórias dos homens tristes.
~CC~
Pode até haver uma certa beleza na tristeza, como há uma fotogenia da guerra e do horror (vejam-se os prémios World Press Photo). Mas são bonitas as histórias, sim.
Bom dia aos dois e abraços
Enviar um comentário