domingo, 29 de abril de 2007

Conversas sobre a pele

Um dia destes as palavras deslizaram até uma conversa sobre a pele. LP, pareceu-me, gosta de poesia erótica, coisa que sempre vi sem crítica mas com alguma distância. Nela é ainda mais difícíl a arte das palavras, para que surjam poderosas nos seus meandros de argila, em vez simples bandeiras feitas choque desfraldadas.

Fiquei algum tempo a pensar sobre esse diálogo que cada um de nós tem ou não com o nosso corpo. R, um amigo de longa data que é muito improvável que me leia, ocupado que sempre está com o destino dos seus animais, sempre foi o único que costumava perguntar-me directamente como ia o meu corpo e se estava a tratá-lo bem. Muitas vezes baixei os olhos perante a nudez das palavras que ele usava, mas aquilo fazia-me bem. Como tinha que lhe responder, tinha que pensar e portanto entrava em diálogo com a minha pele. Às vezes pedia-lhe tempo: não sei, não te sei dizer, não tenho conversado com ele.

A última vez que me fez tal coisa foi mesmo via sms, mas agora que a adolescência já passou e com ela a inibição maior, o diálogo foi feito de riso. Já cresci do tamanho dele, eu que sempre fui mais pequena. Não nos tornamos mulheres com a primeira menstruação, isso é apenas um prenúncio do que podemos algum dia ser. Provavelmente muito depende das conversas que temos com a nossa pele.

R deu-me como prenda de Natal um creme para o corpo com uma maçã verde a sorrir para mim na tampa da embalagem. Devem ser raros os homens que oferecem coisas destas. Agora que é Primavera, apetece-me mais ser parte da própria natureza e portanto abri a embalagem. Apesar do seu intenso cheiro a maçã é branco, ainda mais que a minha pele. E também é doce e macio. É, sem dúvida, uma boa ajuda à conversa.
~CC~

5 comentários:

j disse...

Gosto dessa ideia das conversas com a própria pele. Afinal, ela é muito mais do que o saco que nos embrulha.. :)Fez-me lembrar um fim de semana nas termas, há uns meses. Houve momentos em que senti a pele a respirar fundo.

Anónimo disse...

Agora fiquei com pele de galinha...

João Torres disse...

Será que da próxima vez que te encontrar ainda cheiras a maçã?

Anónimo disse...

Maçã... não é o tal fruto proibido? e o mais apetecido?...

CCF disse...

Meus caros, apesar da invocação do creme de maçã(de real existência), estes diálogos são sérios e às vezes difíceis, mas também fundamentais. Abraços.
~CC~