domingo, 5 de novembro de 2006

Anacronismos ou nem tanto

Ouvi hoje a sentença proferida contra Sadam Hussein. Chocou-me a notícia, ainda assim a pena de morte deixou de fazer parte das práticas do grande mundo ocidental e "civilizado" e a morte por enforcamento trouxe-me reminiscências inquisitoriais. Depois, parei para pensar melhor quando ouvi as reacções dos EUA - aplauso sobre a decisão dos tribunais iraquianos - cínico aplauso sem dúvida por parte de quem apoiou o regime de Sadam durante tanto tempo; da nossa vizinha Espanha ouvi a cautela de Zapatero - reservas sobre a prática da pena de morte -. Reprovamos o veredicto da pena capital proferido contra um facínora assassino, mas já contemporizamos de modo mais indiferente (ou será mais anestesiado) com as práticas quotidianas das guerras que ainda existem por esse mundo fora, com os genocídios ainda perpetrados contra milhares de inocentes... Há uns anos ouvi Ricardo Petrella (economista italiano) citar uma frase, cujo autor ele não se lembrava mas que, dizia era frequentemente utilizada pela sua mulher. A frase era "nada do que é humano me espanta". Desde aí, sempre que me encontro sem códigos para entender algumas situações recorro a esta frase. Hoje não sei de que lado devo colocá-la.

1 comentário:

CCF disse...

Senti o mesmo, uma enorme estranheza. Não faz sentido condenar alguém à morte, esta é para mim uma convicção profunda. Contudo, como nada do que é humano espanta, acho que não conseguiria viver no mesmo mundo que alguém que tivesse magoado profundamente alguém que eu amo. Contraditório? Que triste vai esta conversa...Que alternativas para esta condenação? Prisão perpétua? Liberdade perpétua? Vida eterna? O certo é que ele morreria mal saisse da prisão e não estou certa que não morra lá dentro. O mundo, o mundo é que é um lugar estranho.
CCF