Em Almar, a mulher mais velha de todas guardava o tesouro. Era uma caixa de madeira quase preta com a pirâmide gravada, a mesma que todos nós tínhamos tatuado na mão, logo abaixo do polegar.
Esta tatuagem era feita no aniversário dos sete anos, um presente desejado como nenhum outro. E era aos sete por causa da palavra que estava dominada na oralidade e agora deixavam-nos partir para a escrita, a viagem da palavra escrita era a primeira para fora dos territórios da água. Por isso aos sete anos, em terra seca e na entrada para a escola onde nos misturariamos com todas as outras crianças, era necessário que a pirâmide nos brilhasse no escuro das salas de aula, que nos fizesse companhia. Ganhei o hábito de a esfregar nos momentos dificeís, mas não era um gesto só meu, vi-o noutras crianças Almar. Já adolescente pensei muitas vezes apagá-la, naquela idade em que só queremos ser diferentes de todos os legados que nos correm nas veias.
Esta tatuagem era feita no aniversário dos sete anos, um presente desejado como nenhum outro. E era aos sete por causa da palavra que estava dominada na oralidade e agora deixavam-nos partir para a escrita, a viagem da palavra escrita era a primeira para fora dos territórios da água. Por isso aos sete anos, em terra seca e na entrada para a escola onde nos misturariamos com todas as outras crianças, era necessário que a pirâmide nos brilhasse no escuro das salas de aula, que nos fizesse companhia. Ganhei o hábito de a esfregar nos momentos dificeís, mas não era um gesto só meu, vi-o noutras crianças Almar. Já adolescente pensei muitas vezes apagá-la, naquela idade em que só queremos ser diferentes de todos os legados que nos correm nas veias.
E quando esfregar a pirâmide não chega tento ver, com a mesma luz que vi pela primeira vez aos sete anos, o tesouro Almar. Eram apenas cinco sementes, cada uma diferente da outra. Uma era grande como um bolbo e outra tão pequena como uma semente de melancia. Eram lisas e rugosas, escuras e coloridas. Vejo-as dispostas diante de mim perante o sorriso da mulher velha. Vejo o meu espanto por pensar que dentro da caixa só podia haver ouro. E o atrevimento de lhe perguntar para que servia aquele presente, que importância tinha, afinal eram apenas cinco sementes numa caixa de madeira.
E da voz baixa dela e meio rouca a murmurar: das sementes tudo pode nascer.
Sim, das sementes tudo pode nascer.
~CC~
5 comentários:
Quem guarda agora a caixa e as sementes?
Aonde te leva o caminho da fantasia?
Boas perguntas as vossas...mas não sei as respostas! :)~
~CC~
Olá CC...
Obrigado pelo comentário...Devo dizer em primeiro lugar que agora mudei os meus textos todos ( e mais alguns que entretanto fiz) para o meu novo blog.
Está em http://www.repentismo.com/
Quanto ao que me pergunta, Almar foi uma palavra que me ocorreu na altura. Como se fosse um verbo para transmitir o que sentia. Não tem, portanto, nada que ver com qualquer terra ou povo. Achei muito engraçada coincidência.
Também gostei muito do seu texto.Continue :)
Rui Santos
Olá Rui
Almar(es)! Obrigado pela visita.
Já fui espreitar o blogue novo...e agora de vez em quando irei lá ao banho de letras, é que é muito bom! :)
~CC~
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