quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Os filhos

Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projectem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.

Kahlil Gibran (do livro "O Profeta")

7 comentários:

Teresa Martinho Marques disse...

Só para agradecer as palavras de estímulo à minha Teresinha lá no turbeturma... Este é um tempo que gasto com prazer... tenho um "milhão" de drafts colocados lá que estão a ser trabalhados por todos eles... à medida que acabam escrevem-me e pedem para que veja, corrija e publique.
E os testes ali ao lado...
Um abraço

João Torres disse...

Olá 3za, Não preciso agradecer... gostei mesmo do texto da Teresinha. É bom ver como estão motivados e têm gosto em escrever e partilhar o que escrevem.
Um abraço

matilde disse...

Já não é a primeira vez que leio o "Blog que ninguém lê". Mas, fiquei na dúvida como poderia comentar - pois se não tinha lido!...=)
Um paradoxo. Um paradoxo matemático - ou será que afinal há quem leia?...hum... complicado...

Um abraço.

Voltarei para ler o que ninguém lê.
Bom fim-de-semana.

:)

CCF disse...

O poema é bonito mas discordo da sua essência. os filhos pertencem-nos até que possam voar sozinhos. Não abro mão da minha até saber e sentir(também com ela) que deixa de precisar de mim...ou melhor que precisará de uma outra forma. Cresci meio solta pelo mundo, se quiseres no cerne deste poemna, e safei-me...mas olha que foi por pouco.
~CC~

Cristina Gomes da Silva disse...

Eu não cresci nada solta, bem pelo contrário, mas também me safei. Quando estava no fim da adolescência encontrei este poema e fiquei encantada, sobretudo porque desejava imenso que os meus pais o conhecessem e compreendessem. Não aconteceu nada disso e eu lá me fui assumindo como flecha nos sentidos possíveis mas sempre de trajectória curta.Hoje como mãe, revejo-me muito menos naquilo que o poeta disse e estou inteiramente de acordo com a nossa CC "os filhos pertencem-nos até que possam voar sozinhos. Não abro mão da minha até saber e sentir(também com ela) que deixa de precisar de mim..." ( no meu caso é a dobrar), acho que a nossa mais-valia (não, não é para a raça humana...)é justamente deixarmos que eles decidam connosco e que escolham connosco o melhor momento de deixarem o ninho. De outro modo, poderemos cair facilmente em demissão...

João Torres disse...

Bom parece que ninguém concorda com o poema.... Eu também não! Mas concordo com a primeira parte toda... Concordo com o facto de os filhos não nos pertencerem de facto. Concordo também com a metáfora do arco e da flecha. Não concordo é que sejamos o arco, penso que somos antes os arqueiros... Nesse primeiro período, em que vocês consideram que os filhos nos pertencem, talvez até aos 17/18 anos (ou ainda muito menos), esticamos a corda, fazemos pontaria e tentámos apontar um alvo que está lá longe... Depois de largarmos as setas, os dados estão lançados e já nada mais temos a fazer... Acertar ou não no alvo já não depende de nós! Mas nem tenho a certeza que esse alvo, para o qual apontamos, fosse o alvo certo! Muitas flechas são simplesmente apontadas para o ar, ou largadas muito cedo, e são elas próprias descobrem o caminho para os alvos certos, como que por magia... Outras, mesmo muito bem apontadas para os alvos certo, e muito bem seguras até ao último momento, mal são largadas da mão dão autênticas piruetas e é vê-las perderem-se no infinito do céu... Julgo que, por muita pontaria que se faça, há que deixar sempre o espaço para que elas decidam um pouco dos seu alvos e trajectórias porque invariavelmente chegará o dia de deixar a corda e de fazer o verdadeiro teste à nossa pontaria...

Bom fim-de-semana

Anónimo disse...

...obrigado pelo voto de tranquilidade (deixado no murcon)
...abraço (áh, e continuo a ler)