Luanda, Setembro de 2007
Não pode haver um dia da música embora seja este. Seja...pela música.
Não pode haver um dia da música embora seja este. Seja...pela música.
Olha para mim Jacinta, de olhar azul e convexo, recordando poesia de Zeca Afonso, último CD que chegou quando eu cheguei, veio pelas mãos do meu amor pequeno que está cada dia maior. Oiço-o muitas vezes, é sempre o que faço quando chega algo novo, não consigo ouvir da primeira, nem da segunda vez, acho que só à terceira o som se torna familiar e a escuta se torna plena.
Passaram dias mas quando adormeço ainda mergulho na rua da India, na minha infância sem música num país tão cheio dela, lembro sobretudo o silêncio, foi o silêncio que me formou. E talvez mesmo sonhando, achava que ouvia as plantas a crescer no meu quintal e os bichos a moverem-se por cima e por baixo da terra. Trouxe até à adolescência apenas música da natureza.
Depois os rapazes que eu amei foram sempre tocadores, arquitectos de sons nas noites de casa comum, perto das fogueiras da adolescência e depois adultos junto às lareiras no recato das salas ou com lampejos de luar Quase incapaz de se lhes comparar em ouvido e mestria, habituei-me a trautear baixinho, rendida ao seu saber, receosa de dizer alguma coisa fora de tom.
Só tarde conquistei autonomia de ouvido, me tornei capaz de comprar por mim mesma e de arriscar o desconhecido. E muito mais tarde ainda abandonei o meu corpo na dança com outro e senti que isso tornou a música ainda maior, para o fazer foi preciso esquecer-me que não era capaz. Por este andar, qualquer dia canto alto.
Quero eu dizer, podemos crescer em quase tudo, também no modo de amar a música.
~CC~
2 comentários:
Voltaste renovada, mesmo "combalida" e crescer é sempre um bom movimento..em direcção ao céu.
Também acho que podemos crescer sempre mais um pouco e já ouvi dizer que enquanto dançamos crescemos, só que estamos demasiado envolvidos na música que nem damos por isso.
A menina dança?
:)
*jj*
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